O jornal brasiliense Metrópoles publicará notas diárias de J. R. Guzzo e uma coluna mais extensa aos domingos. Bom tê-lo de volta, caro Guzzo:
A partir de hoje, o
portal Metrópoles começa a publicar contribuições diárias do autor do
texto que vai aí abaixo, além de uma coluna mais extensa nas edições de
domingo. Para o autor, é uma satisfação especial começar este novo
trabalho e entrar nesta equipe. Para o leitor, vamos esperar que seja
algo de útil. A ideia-chave, nesta esperança, é escrever boas matérias, em cada um de seus diversos formatos.
O que é isto – “boa
matéria”? Vai saber. É possível passar a vida inteira discutindo o que é
uma boa matéria. Como ninguém tem tempo para tanto, a saída mais eficaz
é ficar numa definição simples: boa matéria é aquela que o leitor
começa a ler, tem vontade de continuar lendo e só para de ler quando
chega ao fim. Faz isso porque aquilo que leu lhe satisfez algum tipo de
necessidade, gosto ou anseio. Hoje em dia, no Brasil e no mundo, é
necessário acrescentar mais um elemento à definição: não deixar de dizer
nos textos, sempre que for possível, que 2 + 2 são 4.
Um escritor, segundo Arthur Conan Doyle,
tem três obrigações: ser inteligível, ser interessante e ser
inteligente. O mesmo se poderia esperar dos jornalistas, mas já vai
estar para lá de bom se eles conseguirem cumprir os dois primeiros
requisitos – e substituírem o terceiro, que é uma virtude bem
complicada, pelo respeito à lógica comum, que está ao alcance de todos.
Em sociedades livres, as pessoas geralmente têm o que merecem. Têm o governo
que merecem. Têm os produtos, os serviços e o entretenimento que
merecem. Têm, também, os meios de comunicação que merecem. Um público
que não cobra qualidade dos jornalistas e engole qualquer coisa que os
veículos lhe jogam em cima vai ter uma imprensa ruim. Só vai receber bom
“conteúdo”, como se diz hoje, se exigir respeito de quem se dirige a
ele. E só deve esperar, da atividade jornalística, aquilo que realmente
pode receber dela.
Imprensa
não resolve problemas, e jornalistas são pessoas menos importantes do
que se diz – menos, em todo caso, do que eles próprios acham que são. Se
a vida real levasse em consideração tantas matérias que você vê por aí,
o Brasil seria um país perfeito. Não é, como sabemos. Deve-se fazer
boas matérias porque isso é uma obrigação do bom jornalismo, e não
porque elas sejam eficazes para melhorar o mundo.
É comum, enfim, a
circulação da ideia de que o jornalismo verdadeiro tem de ser o tempo
todo contra o governo. Não tem de ser contra – assim como, obviamente,
não tem de ser a favor. Tem de ser livre, apenas, para ser jornalismo. E
para sobreviver tem de ser bom, o que é muito mais difícil do que ser
contra ou a favor.
Essa é a linha geral que se tentará seguir por aqui. O leitor julgará a qualidade da execução.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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