Bolsonaro e o presidente suiço Ueli Maurer, em Davos. |
Quando assumiram o governo, o presidente Jair Bolsonaro e os ministros
Paulo Guedes e Ernesto Araújo prometeram lutar pela maior inserção
internacional do Brasil, ampliando o comércio exterior. Os acordos com
União Europeia e Efta deixam o país em posição ímpar para negociar com
praticamente todo o continente. Editorial da Gazeta do Povo:
Poucas semanas depois de anunciar a conclusão do tão esperado acordo
comercial com a União Europeia, o Mercosul fechou mais uma rodada de
negociações, desta vez com um bloco menor de países europeus que não
pertencem à UE: trata-se da Associação Europeia de Livre Comércio
(Efta), formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Para se
ter uma ideia da relevância do bloco, seu PIB é de R$ 1,1 trilhão,
semelhante ao do México; em comércio de bens, o Efta é o nono maior
bloco do mundo, e o quinto em comércio de serviços. O acordo, agora, tem
de ser aprovado pelos líderes e parlamentos de todos os países
envolvidos.
Um comunicado do Ministério da Economia, divulgado neste sábado,
enumera algumas vantagens do acordo para o Brasil. Assim que o acordo
entrar em vigor, as quatro nações europeias vão zerar tarifas sobre “a
importação de 100% do universo industrial”. Além disso, os produtos
agropecuários brasileiros terão acesso preferencial: “serão abertas
novas oportunidades comerciais para carne bovina, carne de frango,
milho, farelo de soja, melaço de cana, mel, café torrado, frutas e sucos
de frutas”, diz o comunicado. Além disso, continua o ministério, “o
acordo garantirá acesso mútuo em setores de serviços, tais como
comunicação, construção, distribuição, turismo, transportes e serviços
profissionais e financeiros”.
O impacto do livre comércio entre Mercosul e Efta no PIB brasileiro,
estima o Ministério da Economia, será de US$ 5,2 bilhões adicionais em
um prazo de 15 anos, com o mesmo valor esperado em investimentos dos
quatro países europeus no Brasil – a Suíça já é, hoje, o quinto maior
investidor estrangeiro direto no país – e um aumento de US$ 12,6 bilhões
no fluxo comercial brasileiro.
Que o Mercosul tenha conseguido fechar dois acordos com blocos
europeus em tão pouco tempo só foi possível porque os governos dos
países-membros têm demonstrado compromisso com o livre comércio. Essa
orientação está seriamente ameaçada pelas perspectivas de vitória da
chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner nas eleições argentinas
de outubro. A ex-presidente, que retorna às urnas na condição de vice da
chapa de esquerda, levou o protecionismo a extremos durante seu
governo, infernizando a vida de exportadores e importadores. Fernández
já afirmou que, se eleito, pretenderá revisar o acordo assinado com a
UE.
Acordo este que, a julgar pela reunião do G7 ocorrida neste fim de
semana, tem pouquíssimas chances de naufragar com o pretexto da questão
ambiental no Brasil. O presidente francês, Emmanuel Macron, que viu nas
queimadas um pretexto para satisfazer o setor agrícola francês –
altamente subsidiado e o principal adversário do acordo entre Mercosul e
UE –, teve de ouvir críticas dos principais parceiros, a alemã Angela
Merkel e o britânico Boris Johnson. Merkel foi bem clara ao dizer que,
se a Europa quer ver o Brasil trabalhar com afinco na proteção à
Amazônia, o melhor a fazer é aprovar o acordo, que prevê justamente esse
tipo de compromisso por parte do governo brasileiro – assim como o
acordo entre Mercosul e Efta, por sinal.
Quando assumiram o governo, o presidente Jair Bolsonaro e os
ministros Paulo Guedes e Ernesto Araújo prometeram lutar pela maior
inserção internacional do Brasil, ampliando o comércio exterior. Os
acordos com União Europeia e Efta deixam o país em posição ímpar para
negociar com praticamente todo o continente, pois os únicos países que
não estão em nenhum dos dois blocos são algumas nações dos Bálcãs,
Andorra, Turquia e as ex-repúblicas soviéticas (com exceção de Estônia,
Letônia e Lituânia, membros da UE). Que ambos os textos possam ser logo
aprovados e entrar em vigor, com enormes benefícios para os brasileiros.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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