Há alguns anos, recebi do meu querido
amigo, Almirante Carlos Eduardo Motta, o texto do Professor José Luiz
Delgado, publicado no Diário de Pernambuco, em outubro de 1984, cujo
extrato compartilho agora com meus caros amigos.
Assim escreveu o Professor José Luiz Delgado:
“ A lealdade é um risco. À primeira vista,
pode não parecer. Mas é. Haverá nela, as alegrias de amizade e haverá,
muitas vezes, as generosidades do sincero reconhecimento. Mas, na hora
crucial, a lealdade é muito mais difícil do que se poderia supor. Porque
simplesmente não é leal, embora cômodo e sobretudo rendoso, o gesto de
concordar com tudo e tudo aplaudir e tudo elogiar.
Amigo é quem quer o bem do amigo; não o
que, ou para não o desgostar, ou por calculado interesse, o conserva
iludido e lhe falseia os fatos e suas repercussões. Pior ainda o que
explora os defeitos do outro e os pinta com as cores da virtude.
Toda a deficiência pode, a alguma luz
parecer qualidade. Se o outro é escrupuloso e hesitante caberá menos ao
amigo louvar, nisso, requintes de prudência e moderação, do que
estimulá-lo a vencer sua tendência omissiva.
Se, ao invés, o outro apressa-se em tomar
decisões em cima da perna, meio açodadamente, sem ouvir quem seria
indispensável ouvir, ao amigo caberá menos exaltar tais inclinações como
próprias de um temperamento singularmente enérgico, do que recomendar
pausa e reflexão. Por que não amadurecer certos ímpetos e esfriar certos
entusiasmos? Que mal haverá em pensar duas vezes sobre assuntos que se
sabe gravíssimos?
(…) o amigo leal estará tão pronto para,
quando necessário, com a delicadeza e a discrição convenientes, chamar a
atenção do outro para defeitos ou equívocos que houver identificado,
quando é isso mesmo que espera dele, em relação aos próprios equívocos e
defeitos. A autêntica lealdade é recíproca. (…) Lealdade pede lealdade.
(…) A bajulação, o aulicismo(*), o
carreirismo oportunista, os coros de dizer amém, sempre em si mesmos
repelentes, são outra coisa muito diversa de lealdade; são incompatíveis
com ela. Como, no outro lado, são com ela igualmente incompatíveis a
prepotência, o abuso de poder, o desrespeito ao subalterno, a
arrogância. (…).
[A lealdade] porque é uma virtude e, como
tal, só se encontra à vontade dentro de uma constelação de virtudes. (…)
Entre ladrões, entre facínoras, não há propriamente lealdade; haverá
cumplicidade, interesses, parceria, coautoria, negociatas, todas uma
trama de mútuas dependências e escusos comprometimentos. (…).
Qualquer autoridade que aspire aquela
grandeza que leva a inscrever o nome na História, tem de saber cercar-se
de auxiliares dotados dessa penosa lealdade e ouvi-los, e
prestigiá-los. No mesmo sentido prestigiará a Oposição e a Imprensa e as
quererá independente e críticas.
(…). Os governantes (…) precisam de
auxiliares altivos e não amedrontados, dispostos a dizer lealmente o que
pensam, a alertar para as consequências que enxergam, a instruir,
enfim, mais completamente a autoridade, para que esta não tome decisões
sem conhecer os lados todos do problema e sem bem pesar todas as suas
implicações. “
Gen Paulo Chagas
(*)Os áulicos eram os parasitas que infestavam as cortes dos reis e viviam exclusivamente dos seus favores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário