Houve uma vitória de grande porte: um enorme acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Coluna dominical de Carlos Brickmann:
Houve ameaças de má recepção europeia a Bolsonaro, mas não houve nada
de errado. Bolsonaro conversou com o presidente francês Macron, que
acabou convidado a visitar a Amazônia. E, ao mesmo tempo, houve uma
vitória de grande porte: um enorme acordo de livre comércio entre a
União Europeia e o Mercosul. Dois números: espera-se que, em 15 anos, o
Brasil aumente as exportações à UE em US$ 100 bilhões; e, com o acordo, o
PIB brasileiro pode crescer em US$ 125 bilhões no mesmo período.
Com isso, nossa economia, que está devagar quase parando, tomaria um
choque de entusiasmo, e demonstraria que a reforma da Previdência,
embora essencial, não é a única ferramenta disponível para o aumento do
emprego. Mas tudo foi ofuscado por uma nuvem de pó: a prisão em Sevilha
de um dos integrantes do grupo de apoio à viagem presidencial, que
tentou carregar 39 kg de cocaína para fora do aeroporto de Sevilha. Como
um comissário de bordo entra num avião da Presidência com 39 kg de
cocaína na mala? Como levou a cocaína, poderia ter levado explosivos.
Quem falhou na vigilância?
Quem viaja em comitiva presidencial, seja ou não no avião do
presidente, tem de ser examinado – com raios X, revista pessoal, o que
houver de mais seguro. A cúpula se esquiva: até o Gabinete de Segurança
Institucional diz que a questão é da FAB, não dele. A poeira tapou a
visão de tudo e de todos.
E ainda riram
O presidente já sofreu um atentado, a segurança não pode ser
descuidada. E não é a primeira vez que o avião presidencial é usado por
traficantes. Em 1999, a Operação Mar Aberto, da Polícia Federal, apurou
que aviões da FAB eram usados por pessoal de bordo para tráfico de
drogas. Um coronel pegou 16 anos de prisão e perdeu o posto e a patente.
Tudo indica que algo parecido ocorreu agora: o tripulante levou sua
mala sem ser revistado, sem sequer passar pelos raios X, e transportou
quase R$ 6 milhões em cocaína.
O ministro da Educação fez piada: disse que o avião presidencial já
havia transportado muito mais drogas, referindo-se aos presidentes Lula e
Dilma. Só que não é caso de piada: é caso sério, que não pode jamais se
repetir.
Educador-chefe
Mas é injusto culpar o ministro da Educação por ter-se referido ao
“PT e seus acepipes”, como se não soubesse que acepipe é sinônimo de
guloseima. O responsável pelo equívoco deve ter sido o corretor do
teclado. Só que aí a coisa piora muito: é provável que ele tenha querido
escrever “asseclas”. Mas, para que o corretor errasse como errou, teria
de ter escrito “aceclas”.
Hora errada
A poeira nos olhos prejudicou a visão de boas perspectivas bem na
hora em que Bolsonaro mais precisa de um reforço de imagem. A pesquisa
Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, mostra que
ele, pela primeira vez em seu Governo, tem índice de desaprovação
superior ao de aprovação. Sua maneira de governar é desaprovada por 48%,
contra 46% que a aprovam – tudo bem, é margem apertada, está dentro das
possibilidades de erros.
Mas outras indicações também estão mal: 51% desconfiam do presidente,
e 46% nele confiam. E 32% acham o governo bom ou ótimo, contra 35% no
mês passado – uma porcentagem que vem caindo mês a mês.
O indício mais forte
Mais importante do que qualquer pesquisa, entretanto, é o
comportamento de pessoas que estiveram a seu lado e dele agora se
descolaram. São gente do ramo – como dizia Ulysses Guimarães, pessoas
que cheiram a direção do vento. João Doria é um deles: apoiou Bolsonaro
na eleição, aproximou-se, e agora se afasta. Um dos motivos, claro, é
que pensa na eleição presidencial, e acredita que Bolsonaro será seu
adversário. Mas ainda falta tempo e ficar perto do presidente lhe
renderia alguns frutos, se a árvore frutificasse.
Outro é o empresário carioca Paulo Marinho, que Bolsonaro colocou
como suplente de Flávio no Senado e em cuja casa funcionou seu
quartel-general de campanha. Marinho agora é Doria desde criancinha. Diz
que continua gostando de Bolsonaro, mas não de seu governo. Entre
aspas: “Esperava que o governo fosse trabalhar de maneira mais
coordenada, sobretudo na relação com o Congresso. O que vimos até agora
foram muitos desencontros. Se ele não encontrar uma maneira de lidar com
o Congresso vai ter problemas até o final. Ele tem sido muito generoso
com a imprensa, o capitão: gera notícias todo dia, e notícias que não
são exatamente positivas.” Aliás, diz, só apoiou Bolsonaro porque Doria
não se lançou. Queria alguém que derrotasse o PT.
Boa notícia
O Idec, Instituto de Defesa do Consumidor, apresentou à Anatel uma
série de medidas para limitar o abuso de ligações de telemarketing – as
ligações chatas que caem tão logo o caro leitor atende, e quando não
caem veiculam mensagens de interesse zero. O Idec sugere que só possam
receber ligações os assinantes que autorizem o serviço, e desde que haja
limitação de horários.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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