Quem se diz aliado nem sempre o é. Na Venezuela, é melhor esperar mais para errar menos. Coluna de Carlos Brickmann, publicada nesta quarta-feira:
Guaidó, apoiado por Brasil, Estados Unidos e todos os países
próximos, ou Maduro, apoiado por Cuba, Rússia e Bolívia? Para os
venezuelanos, neste momento, tanto faz: se Maduro continua, mantém sua
política maluca, que conseguiu a façanha de transformar um dos maiores
produtores mundiais de petróleo num país onde falta tudo; se Guaidó o
derruba, mesmo que melhore dramaticamente o desempenho do Governo,
levará bom tempo para reerguer a economia, e nesse tempo terá de
enfrentar a desconfiança da população, na qual despertou esperanças que
em curto prazo não serão satisfeitas.
E o confronto, quem ganha? Este colunista não se atreve a fazer
qualquer previsão: se Maduro se manteve até agora no poder, apesar da
calamitosa administração, é porque tem apoiadores fiéis; se Guaidó está
solto, embora se tenha proclamado presidente da República, é porque tem
apoio suficiente para que Maduro não consiga prendê-lo. A qualquer
momento pode ocorrer um desfecho (ou não); não adiantaria sequer
consultar uma lista de chefes militares, porque, conforme evolui a
situação, muda a posição de cada chefe. Em 1964, o presidente João
Goulart tinha a lealdade pétrea do general Amaury Kruel, seu amigo de
longa data; e foi Kruel, em decisão de última hora, quem derrubou seu
Governo (a notícia era tão improvável que os jornais a confirmaram
várias vezes antes de publicá-la). Quem se diz aliado nem sempre o é.
Na Venezuela, é melhor esperar mais para errar menos.
Um dia de sossego
O fim de semana marcou, no Brasil, um raro momento de trégua entre os
aliados do presidente Bolsonaro. Embora Rodrigo Maia tenha falado mal
do 02 e 03 – chamou Eduardo 03 de deslumbrado e Carlos 02 de radical -
ele e Bolsonaro estão de bem. Segundo Onyx Lorenzoni, da Casa Civil,
“daqui para a frente é vida nova, os dois reabriram um canal direto”.
Bolsonaro disse que respeita Maia, os dois almoçaram juntos no sábado, e
o presidente, além de chamar a conversa de “maravilhosa”, garantiu que
está namorando o presidente da Câmara. Com o namoro, a reforma da
Previdência se acelera.
Os filhos do capitão
Eduardo e Carlos, criticados por Rodrigo Maia, tuitaram louvores à
reforma, sem ataques. Ambos pensam em afastar o general Santos Cruz do
Governo, mas isso até agora não gerou crise. Por enquanto, o clima é de
paz.
O caminho das pedras
Quanto mais se acelerar a reforma melhor é para o Governo. O peculiar
ritmo de andamento dos projetos na Câmara exige alguém experiente e com
poder, como Rodrigo Maia, para buscar os atalhos. Um exemplo: a partir
de ontem, começa a correr o prazo de 40 sessões da Câmara para a entrega
do relatório da comissão especial. Mas ontem não é ontem: é terça que
vem, dia 7, porque, graças ao Dia do Trabalho, a primeira sessão da
Câmara ocorre só naquele dia. Seria possível, mesmo assim, votar a
reforma da Previdência até 15 de julho, antes do recesso do meio do ano,
mas junho é um mês ruim: um grande número de parlamentares volta para
seus Estados para participar das festas juninas. Se a reforma ficar para
depois das férias, vai levar mais uns dois meses – e se aproximar das
festas de fim de ano, quando para tudo.
É mas não é
Normalmente não daria para votar nada antes do finzinho do ano. Mas,
se os parlamentares acharem que vale a pena ficar com Bolsonaro, aí é
possível.
Problema na exportação
Na Apex, Agência de Promoção das Exportações, o terceiro diretor de
Gestão Corporativa do Governo Bolsonaro acaba de cair. O primeiro durou
nove dias, e saiu por não ser fluente em inglês; o segundo, embaixador
com experiência na área, caiu não se sabe bem por que, mas dizem que não
se entendia com Letícia Catelani, diretora de Negócios e bolsonarista
de primeira hora. O terceiro é próximo de Leda e do chanceler Ernesto
Araújo, e saiu não se sabe o motivo. O próximo deve ser Sérgio Segóvia,
um contra-almirante, que ao que se saiba não tem experiência em comércio
exterior.
Exemplo de cima
O país enfrentava um gigantesco buraco nas contas públicas? O Supremo
se deu um bom aumento, que repercute em todo o funcionalismo. O Supremo
vem sendo criticado? Pois abriu concorrência para banquetes de luxo,
com medalhões de lagosta na manteiga queimada, vinhos com tipo seleto de
uva, envelhecidos em barris de carvalho francês ou americano, que
tenham ganho ao menos quatro prêmios internacionais, espumantes também
premiados e elaborados pelo método “champenois”; o mesmo desenvolvido há
uns três séculos pelo abade D. Pérignon. Método Charmat, outra
possibilidade? Nem pensar! E pratos como arroz de pato, moqueca de
camarão, baiana ou capixaba, pato assado, salada Waldorf com camarão,
tudo de bom. Preço máximo, R$ 1,1 milhão, conforme o número de banquetes
ofertado pelo STF.
Exemplo? E quem está disposto a dar um exemplo de economia?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário