A tendência é que a reforma passe com poucas mexidas. Coluna dominical de Carlos Brickmann:
A reforma da Previdência vai bem, obrigado, deve passar sem problemas
pelo Congresso. A oposição continua paralisada. Com a aceitação da
reforma pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, as ações
subiram e o índice Bovespa superou os 96 mil pontos. Suas Excelências já
sabem, portanto, o que é que o mercado espera. Hoje, só um grupo
político tem condições de criar problemas ao Governo: o próprio Governo.
Fora as brigas internas, o presidente Bolsonaro já disse que aceita
que o Congresso mexa na reforma para reduzir a economia esperada. Paulo
Guedes quer R$ 1 trilhão em dez anos, e projetou quase R$ 1,2 trilhão;
Bolsonaro sinalizou que R$ 800 bilhões já está ótimo ─ o que leva o
Congresso a pensar em economia ainda menor. Bolsonaro, calado, teria
obtido mais. Mas mesmo assim a tendência é que a reforma passe com
poucas mexidas. Talvez a ideia de criar um sistema de capitalização seja
deixada para depois. Não seria má ideia fazer novos estudos, para
garantir que com ele as contas fechem.
Outro fator favorável à reforma é o fortalecimento institucional de
Paulo Guedes. O COAF, que acompanha movimentações financeiras e que
agora está com Sergio Moro, pode voltar à Economia ─ cuidando de
economia, não só de indícios de ilícitos. Moro quer segurar o COAF, mas
tem perdido todas as batalhas no Governo. Se Guedes quiser mesmo a COAF,
fica com ele.
EUA, o bom e o mau
A economia americana vai bem (o que deve facilitar a reeleição de
Trump, de quem Bolsonaro é admirador). Crescimento indica maiores
importações; pode indicar menos excedentes agrícolas para exportar, o
que abre espaço para mais exportações brasileiras. Lá, o PIB deve subir
algo como 2%, um número gigantesco numa economia do tamanho da
americana.
O tamanho de Moro
No caso do COAF, Moro enfrenta também o Congresso, que ameaça não
aprovar a medida provisória que reduziu os ministérios se a entidade
ficar na Justiça (os parlamentares estão fartos da Lava Jato, da
pregação antipolítica dos procuradores, e veem com simpatia tudo que os
enfraqueça). Caso a MP seja rejeitada, Bolsonaro terá de redesenhar seu
Governo e distribuí-lo por mais ministérios ─ um trabalho complexo.
Bolsonaro, que já ampliou a posse de armas contra a opinião de Moro,
disse que ele mesmo enviará projetos de segurança pública não incluídos
nos planos do ministro. Um deles: permitir o uso de drones para
monitorar áreas controladas pelo crime organizado. E Moro também se
enfraquece sozinho, como agora, ao dizer em Portugal que não responderia
a críticas do ex-primeiro-ministro José Sócrates “porque não debateria
com criminosos”. Sócrates é suspeitíssimo, mas não foi julgado, nem se
sabe se o será. E não é o representante de um Governo estrangeiro que
pode atribuir-lhe a condição de criminoso ─ que ele não tem. Pegou mal.
Vergonha 1
A Câmara do Recife aprovou aumento de 70% para o próximo prefeito,
vice e secretários. O atual prefeito ganha R$ 14 mil mensais: o próximo
terá R$ 22 mil. Justificativa: o salário dos políticos deve seguir os da
iniciativa privada, para atrair pessoas qualificadas. Bom… não vem
dando certo.
Vergonha 2
A Justiça Federal de Uruguaia, Rio Grande do Sul, recebeu inquérito
por estelionato contra o deputado federal Paulo Pimenta, do PT gaúcho.
Sua Excelência é acusado de calote de R$12 milhões na venda de arroz.
Vergonha 3
Um competente e sério jornalista de Itabuna, Bahia, publicou no
jornal A Regiãoum artigo de opinião sobre José Dirceu. O jornalista,
Marcel Leal, acreditava que no Brasil não há crime de opinião. Mas há:
Dirceu, condenado por corrupção, a quem Lula chamava de Capitão do Time,
foi ouvido ao sustentar que o artigo de opinião era noticioso. E ganhou
o processo contra Marcel, que terá de pagar-lhe indenização. O
jornalista não conseguiu juntar a fortuna de quem já foi (e é) alvo da
Lava Jato, e terá de entregar seu carro, ficando a pé. Ok, fica a pé,
mas não de quatro. Já lhe sugeriram que transfira seus bens, danifique
seu carro, mas isso seria desrespeitar a Justiça. Ele prefere retaliar
de outra maneira: amavelmente, visitando José Dirceu na prisão, para que
fique bem claro que quem estará preso é ele.
Xeque aos reis
Os filhos do fundador da Marabraz, o mais velho dos irmãos Fares, que
se consideram prejudicados por manobras atribuídas a seu pai e tios
para prejudicar sua mãe no processo de divórcio, conseguiram nos últimos
dias uma importante liminar: a juíza Luciana Biaggio Laquimia, da 17ª
Vara Cível de São Paulo, bloqueou contas bancárias do Grupo Marabraz no
total de 10% do valor atribuído à marca, para garantir o pagamento dos
sobrinhos caso vençam a ação. O processo está no início, longe de chegar
a um xeque-mate, mas o bloqueio de dezenas de milhões de reais é algo a
ser considerado.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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