Analgésicos, antitérmicos e antibióticos são os medicamentos mais "autoprescritos" pelos brasileiros
Para a pesquisa, foram ouvidas 2.074 pessoas de 16 anos ou mais em capitais e Regiões Metropolitanas e, também, cidades do interior de diferentes portes em todas as regiões do Brasil. Os números obtidos, ainda conforme o CFF, serão utilizados em uma campanha de conscientização do Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, comemorado no dia 5 de maio.
Dentre os 77% que confessaram que se automedicam, 25% fazem isso todos os dias ou pelo menos uma vez por semana, 22% uma vez ao mês e 30% menos de uma vez a cada 30 dias. Foi detectada ainda pelo estudo uma modalidade diferente de automedicação, quando, após passar pelo profissional da saúde e ter a receita, a pessoa usa o medicamento de forma diferente da orientada. Esta forma foi utilizada por 57% dos entrevistados, sendo que a principal alteração foi a redução da dose (37%), sob a alegação de que o medicamento fez mal ou a doença já estava controlada.
Diante de números tão alarmantes, a assessora Técnica do CFF responsável pela pesquisa, Mariana Gonzaga, aproveitou entrevista ao Hoje em Dia para alertar a população. "Todo medicamento tem o potencial de causar um efeito adverso. Portanto, quando eu tomo por conta própria, eu posso não estar totalmente informada do que pode acontecer de ruim. Principalmente se a pessoa já tiver um problema de saúde. Digamos que ela tem um problema de coração. E existem alguns medicamentos para gripe, por exemplo, que podem elevar o batimento ou a pressão. Mesmo tento venda livre, há riscos", diz.
Outro ponto constatado pela pesquisa do conselho é que a frequência da automedicação é maior entre as mulheres, já que 53% das entrevistadas disseram usar remédios por conta própria pelo menos uma vez por mês. Além disso, também foi apontado que a maioria das pessoas só se automedica quando já o utilizou o remédio em outra ocasião (61%). Por outro lado, a facilidade no acesso aos medicamentos é o principal motivo entre os mais jovens, já que foi apontado por 70% dos entrevistados de 16 a 24 anos.
Antibiótico é o 2º mais usado sem receita
A automedicação, além de poder fazer mal para quem pratica, também pode se tornar um problema de saúde pública. A pesquisa da CFF indicou que os antibióticos são responsáveis por 42% do total usado sem receita, ficando atrás somente dos analgésicos e antitérmicos, que juntos somam 50%. Para se ter ideia, o terceiro lugar é dos relaxantes musculares, com 24%.
O problema é que, quando utilizado de forma errada, o antibiótico pode fortalecer uma determinada bactéria, tornando cada vez mais difícil combater infecções. A farmacêutica Letícia Martins Barros Ramos, que é professora da Faculdade Kennedy, explica que cada classe de antibiótico é voltada para um tipo de bactéria. "Se eu tomo para dor de garganta, posso matar também as bactérias do trato intestinal, o que pode piorar uma coisa que nem tinha relação com o objetivo inicial. Além disso, pode-se criar bactérias mais resistentes e aí já não é problema só para a pessoa, pois ela pode passar para outras pessoas, que é como surgem estas superbactérias", explica a especialista.
A assessora técnica do conselho que fez a pesquisa, Mariana Gonzaga, também aponta para o risco do uso indiscriminado de antibióticos. "Estamos vivendo um momento difícil, com muitas superbactérias. É o único remédio que não causa dano só à pessoa, mas a todos ao redor. E, ainda assim, existem pessoas que defendem, inclusive no Senado, a volta da venda livre de antibióticos, o que seria um grande retrocesso para a saúde pública", acrescenta a assessora técnica do conselho.
Ela alerta ainda sobre o uso de medicamentos para dor e anti-inflamatórios sem a devida orientação. "São medicamentos muito buscados e que são os mais envolvidos com o risco de enfarte e lesão renal. Outro cuidado importante, diante da época em que estamos entrando, é com os antigripais. A orientação é que a pessoa tome somente um medicamento, pois muitas vezes mistura uma grande quantidade e a maioria deles têm uma mesma substância que, se usada de forma errada, por causar problemas hepáticos, disfunção renal e risco cardiovascular", conclui a farmacêutica.
Influenciadores
Ainda de acordo com o levantamento da CFF, familiares, amigos e vizinhos foram apontados como os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição médica, representando 25% do total. Entretanto, 21% dos entrevistados também citaram farmacêuticos e funcionários de farmácias como a fonte de indicação sobre quais os melhores remédios a serem tomados.
"O farmacêutico é habilitado para orientar sobre uso e, inclusive, pode prescrever medicamentos que não exigem que a receita fique retida. Por isso, se você buscar um remédio de gripe é importante que o farmacêutico saiba se a pessoa tem algum problema anterior. Esse profissional tem um grande papel e a busca é recomendada, diferentemente da procura de funcionários e também parentes. A pessoa pensa: 'Se fez bem para mim, vai fazer para quem eu amo', mas pode acabar fazendo mal", finalizou Mariana Gonzaga.
Números da pesquisa
- 77% da população que usou medicamentos nos últimos 6 meses o fez sem orientação médica
- 47% dos brasileiros se automedica pelo menos uma vez por mês
- 57% alteraram a dose receitada pelo médico
- 53% das mulheres tomam remédio por conta própria pelo menos uma vez ao mês
- 29% dos entrevistados no Sul do país não se automedicam, sendo considerada a região com mais consciência sobre o assunto
- 61% se automedicam só quando já usaram o medicamento antes
- 70% dos jovens de 16 a 24 anos atribuem a automedicação à facilidade do acesso
- 88% dos casos de automedicação foram feitos com remédios comprados pelos usuários
- 30% usaram remédios da rede pública quando o fizeram sem orientação médica
- 76% dos entrevistados confessou que descarta medicamentos vencidos de maneira incorreta
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