Em sua coluna na Gazeta do Povo, Alexandre Garcia dá testemunho pessoal sobre 1964:
Todo mundo discute o que leu, o que não leu – alguns até o que
viveram – sobre 55 anos atrás, os dias 31 de março e 1º de abril de
1964. Eu vou contar para você o que eu vivi, sem nenhuma opinião ou
entrar em análises.
Já contei isso para o presidente do Supremo, Dias Toffoli, que não
havia nascido naquela época e que discorda de chamar a data de golpe
militar. Também não haviam nascido os presidentes da Câmara, Rodrigo
Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. O presidente da República, Jair
Bolsonaro, tinha 9 anos. O vice-presidente, Hamilton Mourão, tinha 17
anos. Eu tinha 23.
Primeira parte
Eu estava em casa naquele 31 de março e bateu à minha porta o
prefeito da cidade de Encantado (RS), Adilar Giuseppe Bertuol. Ele disse
que o Grupo dos 11, que o Brizola chamava de Guarda Vermelha, tal como a
Revolução de 1917 na União Soviética, iria atacar a prefeitura e estava
precisando de voluntários.
Como ele sabia que eu tinha sido da seleção de tiro no Exército, me
perguntou se eu poderia ajudar a defender a prefeitura. Eu, então,
perguntei se tinha arma e munição. Ele disse que sim – e lá fomos nós.
Quando o grupo dos 11 percebeu que a prefeitura seria defendida,
atacou o vigário, o Padre Ernesto Alipi, a tiros de calibre 22. O padre
estava voltando de uma festa comemorando a queda de João Goulart quando
foi atacado. Ele foi atacado porque, nas missas de domingo, estava
pregando uma reação à revolução comunista que estava em marcha.
Bom, não teve ataque à prefeitura e foi decretado feriado bancário.
Eu era do Banco do Brasil e fui até a rodoviária pegar um ônibus para
visitar meus pais em Lageado. O motorista do ônibus se chamava Servigo, e
sintonizou o rádio. A notícia era que João Goulart havia saído para o
Uruguai e que o Congresso nacional havia decretado a vacância da
presidência e dado posse ao presidente da Câmara, Pascoal Ranieri
Mazzilli. Quando a notícia chegou ao ônibus foi uma gritaria geral: todo
mundo aplaudindo e festejando.
Essa foi a primeira parte da história.
Segunda parte
Eu trabalhava para o Banco do Brasil em Viamão. No dia 18 de março de
1970, fomos assaltados por um grupo da VAR-Palmares (estava até
identificado na boina deles), a Vanguarda Armada Revolucionária
Palmares. Eu lembro que o chefão do assalto, que depois eu soube que se
chamava Edimur, colocou uma pistola no meu tórax e eu pensei que tinha
quebrado uma costela.
Quando o assalto terminou, eu peguei meu karmanguia e fui atrás para
ver onde eles iam, para informar a polícia. Eles perceberam que eu
estava seguindo e pararam um caminhão médio, um F350, e aí surgiram com
fuzis. Eu não tinha visto arma longa, só arma curta – por isso fui
atrás. Aí dei meia volta.
Fim da metade do meu testemunho.
Terceira parte
Meu testemunho final aconteceu no dia 17 de agosto de 1980. Eu ia a
Porto Alegre, era subsecretário de imprensa da presidência da República e
o Correio do Povo, principal jornal da capital gaúcha, que me pediu uma
grande entrevista para domingo.
Então, eu passei no gabinete do ministro Golbery do Couto e Silva e
perguntei o que iria dizer para não falar só abobrinha. Ele respondeu:
“Pois diga que a sucessão de Figueiredo será civil”. Eu disse isso e foi
manchete em todos os grandes jornais do Brasil no dia seguinte à
publicação do Correio do Povo. Isso aconteceu três anos antes do começo
das Diretas Já – foi a primeira vez que se falou nisso.
Eu queria apenas registrar esse testemunho pessoal.
Enquanto isso…
O presidente está em Israel reatando uma amizade necessária, porque é
um dos países mais avançados do mundo em ciência e tecnologia: uma
parceria que nos interessa muito. De cada cinco prêmios Nobel, um vai
para um descendente da cultura judaica. Israel é referência em biologia,
medicina, aeroespacial, química, física, mundo digital. Eles já tinham
feito até um computador em 1954!
Eu estive em Israel em 1982 cobrindo guerra e fui alvo inclusive de
fogo, e depois voltei com a família nos anos 90 como turista…
Enfim, Bolsonaro está lá e decidiu que a embaixada não vai agora para Jerusalém, mas sim um escritório do governo brasileiro.
Hoje também é um dia importante: 1º de abril, o dia da mentira, e é o
dia em que todo o judiciário brasileiro se lança em uma campanha contra
fake news. Eu sou vítima de fake news. Agora mesmo estão usando meu
nome em um artigo que começa assim: “Eu não peço desculpas pelo que
estou postando”. Esse artigo não é meu: está mal escrito e é feito por
um covarde que não teve coragem de assinar o próprio nome.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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