quarta-feira, 3 de abril de 2019

Não somos empregados do governo para aprovar o que ele manda, diz líder do PP


Lira, do PP, afirma que o líder do PSL é uma nulidade completa
Camila Mattoso
Folha

Líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL) afirmou que o governo está “com um jogador a menos no time” ao se referir sobre o líder do governo na Casa, o major Vitor Hugo (PSL-GO), a quem chamou de inexperiente e sem habilidade. Em entrevista à Folha, o parlamentar, que comanda a terceira maior bancada da Câmara, com 38 deputados, disse que o representante de Jair Bolsonaro (PSL) está isolado.
“Não tem um líder que converse com ele [Vitor Hugo]. Não vi ele nem no plenário mais. Quando tentou voo mais alto, fez patacoada. Dizem que pediu desculpa no privado. Mas faz no público, tem que se desculpar no público”, lembrando o episódio em que Vitor Hugo enviou mensagens com críticas à velha política em um grupo de WhatsApp do PSL. ​
“NOVA POLÍTICA” – Em seu terceiro mandato na Câmara, Lira vive pela primeira vez o cenário de não compor o governo. Assim como outros partidos, o PP não ganhou vaga nos ministérios de Jair Bolsonaro. O deputado alagoano é um dos que lideram o movimento de crítica e incompreensão sobre a “nova política”, expressão utilizada pelo presidente e recém-eleitos.
“Qual é a nova política? É a política da rede social? Os mais carentes vão receber as transformações pelas redes sociais? O velho é tudo que não presta? O que é que tem de novo até agora? Em três meses, muitos problemas. É isso o novo? A gente tem tido muita parcimônia e paciência”, acrescentou.
Lira também disse ser obrigação de Bolsonaro a articulação para a reforma da Previdência e que os deputados “não são empregados do governo para ter que aprovar o que ele manda.”
SEM BASE – “Em 30 anos de mandato, eu nunca vi uma matéria com uma importância dessa sem apoio determinante de conversas por parte do governo com o Congresso para formar uma base.”
O centrão, aglomerado de partidos que não se alinharam automaticamente ao Planalto, já declarou que não tem acordo com a proposta da Previdência do ministro Paulo Guedes (Economia).
Na semana passada, o grupo se posicionou, com veto as alterações no BPC (benefício pago a idoso carente) e nas regras de aposentadoria rural.
ONYX SOZINHO – O líder do PP afirmou ainda que o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) tem se esforçado na articulação política, mas não tem conseguido resultado. “Tem feito esforço, mas não tem avanço. Não conseguiu nada. Já era pra ter a base resolvida. Ele está sozinho”, declarou, elogiando Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, a quem chamou de “apagadora de incêndio”.
O parlamentar disse ter visto em frases recentes de Bolsonaro a tentativa de demonizar a política. “Ele [Bolsonaro] deu uma declaração sobre a prisão do [ex-presidente Michel] Temer, que a articulação política foi a causa. Ele quis demonizar a articulação política. Sem articulação, o governo não me convence e eu não convenço eles.”
Responsável pela indicação de aliados para cargos em outras gestões, Lira defendeu a prática, mas disse não ter feito nenhum pedido ao atual governo.
ORÇAMENTO – “Por que se brigava por cargos? É simples: porque, licitamente, através dos cargos, você levava transformação para os estados. Mas, agora, não preciso mais desse caminho”, completou, lembrando da recente aprovação do orçamento impositivo.
“[O orçamento impositivo] É o fim do toma-lá-dá-cá, definitivamente. Agora vai ficar muito mais confortável para o governo. Era sempre um Congresso de muita parceria e que deixava o Executivo muito à vontade. Isso não faz bem para a democracia.”
A aprovação foi vista como a segunda derrota do governo no Congresso neste ano. A primeira foi em fevereiro, quando os deputados derrubaram um decreto do governo que alterava a Lei de Acesso à Informação —o presidente teve de recuar e revogou a medida.

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