Com tanto tiro, como chegar unidos à votação da Previdência? Coluna de Carlos Brickmann:
Getúlio Vargas flertou com os nazistas e se juntou aos Aliados,
festejou a tomada de Paris por Hitler e cedeu bases militares aos
americanos. Dizem que certa vez recebeu um político que se queixou de um
adversário, e Getúlio lhe disse que tinha razão. Pouco depois, veio o
adversário, e falou mal do primeiro. Getúlio lhe deu razão. Alzira,
filha e secretária, reclamou: “Pai, um falou contra o outro e o sr. deu
razão aos dois!”. Getúlio: “Você tem razão”.
É possível administrar assim ─ mas Getúlio, uma figura histórica que
não aprecio, era um mago da política, o que Bolsonaro ainda não mostrou
ser. E o incessante tiroteio entre aliados pode atrapalhar sua gestão.
Seu filho 02, Carlos, brigou com Bebianno, com Mourão (chegou a insinuar
que pessoas próximas ao presidente queriam sua morte), e pôs no YouTube
do pai um vídeo em que o escritor Olavo de Carvalho insultava militares
com palavras chulas. Bolsonaro mandou retirar o vídeo de seu canal,
Carlos o compartilhou. Bolsonaro fez leve advertência a Carvalho,
dizendo que ele é um patriota, mas suas palavras “não contribuem” para
ajudar o Governo. Nada falou, porém, sobre o uso de seu YouTube pelo
filho 02. Os militares pediam algo bem leve, não conseguiram: algo como
“o filho tem direito à opinião, que nem sempre reflete a do pai”.
Bolsonaro se diz convencido de que a militância virtual do filho 02 foi
essencial para elegê-lo, ponto final.
Mas, com tanto tiro, como chegar unidos à votação da Previdência?
Prato cheio
Para quem gosta da fofocalhada política, as divergências entre
militares e Olavo de Carvalho, este com apoio de Carlos 02, são um ótimo
divertimento. Carvalho disse que desde Euclides da Cunha, autor de Os
Sertões, os militares se limitam à voz empostada e a cabelos pintados. O
vice Mourão sugeriu que Carvalho volte a redigir horóscopos, no que,
afirma, o escritor é competente. Carvalho já sugeriu que Bolsonaro
nomeie para o Ministério seus três filhos políticos. Carlos considera
Carvalho o único responsável pela série de vitórias conservadoras em
eleições latino-americanas. E Carvalho responsabiliza os militares por
entregar o país aos comunistas. Este colunista tentou, sem êxito,
imaginar um diálogo entre o ex-presidente Médici e seu ministro
comunista Delfim Netto (sim, Delfim aparece nas listas de comunistas dos
mais radicais), a respeito da entrega do país a comunistas de
carteirinha como Tancredo Neves, José Sarney e outros líderes vermelhos.
A palavra de Tarso
A sorte do Governo é que a oposição também não consegue se unir e
fica amarrada à palavra de ordem “Lula Livre”. Até podem atingir esse
objetivo, mas esquecendo o de se opor ao Governo. Quando a oposição se
manifesta, é de maneira estranha. Vejamos Tarso Genro, petistíssimo,
ministro de Lula em três pastas diferentes, ex-governador, professor
universitário: disse que o ex-presidente peruano Alan García, ao
suicidar-se no momento em que era preso sob suspeita de corrupção, “deu
exemplo de dignidade”. Motivo: “Recusou a submissão às execuções
sumárias pelos juízes treinados pela CIA para fulminar o Estado de
Direito na América Latina”.
E Lula?
Estaria Tarso achando que Lula, ao manter-se vivo, não teve dignidade?
Ao trabalho
De acordo com dirigentes de várias facções de caminhoneiros, está
afastada a hipótese de greve da categoria. Óbvio: se conseguiram tudo o
que quiseram sem precisar da greve, por que a fariam? Mas o problema
virá: como as autoridades fiscalizarão o preço mínimo do frete, se o
assunto é tratado entre contratador e contratado, sem testemunhas? E, se
a alta do petróleo se mantiver, como se evitará, sem dilmismo, que o
diesel suba?
A festa dos vazamentos
O mérito é do repórter Pablo Fernandez, da BandNews FM: apurou um
enorme esquema de venda de dados pessoais pela Internet. O caro leitor
não deve sentir-se discriminado: há dados de autoridades, como por
exemplo o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro. Quais as
fontes de informação? Inúmeras: os dados vazam do INSS, de entidades
diversas, do serviço público federal. Surgem telefones, celulares ou
fixos, CPF, RG, endereços, informações bancárias, salário, ligações de
parentesco. Já faz muitos anos, no centro de São Paulo, que há venda
(livre, sem qualquer constrangimento) de CDs com listas de nomes e
informações. Mas eram listas não muito acuradas. Hoje são listas de
maior precisão.
Destino
Quando recebemos um estranho bilhete de cobrança, partindo de nosso
próprio endereço de e-mail, essas listas podem ser a fonte. Aqueles
call-centers chatíssimos, talvez esteja aí sua alimentação. E não é
caro: nos oito sistemas identificados pela BandNews, R$ 75 mensais
compram muita coisa. É ilegal. E daria cadeia, se houvesse investigação
policial.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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