terça-feira, 5 de março de 2019

Tem laranja no samba, no carnaval do ex-assessor Fabrício Queiroz


Fantasias de laranja marcam presença nos blocos do Rio
Fantasias de laranja marcam presença nos blocos do Rio
Bernardo Mello Franco
O Globo

Laranja é a cor do carnaval. A fruta se tornou onipresente nos blocos de rua. Enfeita fantasias, adereços e abadás. Na semana passada, o site do Globo chegou a publicar uma fotogaleria com os modelitos mais cítricos. Os foliões só pensam naquilo: o laranjal do PSL.
“Toma, toma vitamina C, pra não ficar doente e falar com o MP”, diz uma das marchinhas inspiradas no escândalo. O homenageado parece ter entendido. Na quinta-feira, ele apresentou suas primeiras explicações ao Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção.
“GERENCIAMENTO” – Fabrício Queiroz já havia faltado a dois depoimentos marcados pela Promotoria. Ele continua sem dar as caras, mas resolveu se defender por escrito. Justificou suas movimentações suspeitas, que acenderam o alerta do Coaf, como atividades de “gerenciamento financeiro”.
O ex-motorista de Flávio Bolsonaro apresentou uma versão curiosa. Afirmou que “gerenciava” salários de outros assessores do então deputado estadual, hoje senador, e repassava o dinheiro a colaboradores informais. A prática é proibida pela Assembleia Legislativa, mas ele disse que “nunca entendeu que estivesse agindo ilicitamente”.
“Com a remuneração de apenas um assessor parlamentar, o peticionante conseguia designar outros assessores para exercer a mesma função, expandindo, dessa forma, a atuação parlamentar do deputado”, escreveu. Se a multiplicação da mão de obra for verdadeira, é um caso a ser estudado nas faculdades de administração.
SEM EXPLICAÇÕES – Queiroz não deu os nomes dos supostos beneficiários do dinheiro. Nem explicou por que transferiu R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, madrasta de Flávio e primeira-dama do país. Ele também se esqueceu de mencionar os depósitos em série na conta do senador. Em um só mês, o Zero Um recebeu 48 envelopes recheados, somando R$ 96 mil.
Em tom imodesto, o motorista disse aos promotores que é “um líder comunitário respeitado e com grande empatia popular”. Ele também informou que “é de origem conservadora e insiste em administrar o essencial das finanças do seu núcleo familiar, recebendo em sua conta os rendimentos do trabalho de sua mulher e de seus filhos”. Faltou explicar por que uma de suas herdeiras, Nathalia, trabalhava como personal trainer enquanto deveria dar expediente no gabinete.
SEM MILÍCIA – Para explicar as movimentações milionárias, Queiroz se apresentou como um empreendedor de sucesso. Sem mostrar provas, ele disse que exercia “atividades informais de segurança particular, compra e venda de veículos, eletrônicos, vestuário, intermediação de imóveis e todo e qualquer produto que pudesse lhe garantir uma renda extra”. A palavra “milícia” não aparece no documento.
No carnaval de 1950, uma marchinha alegrou os bailes com o refrão “É dos carecas que elas gostam mais”. A letra não falava em laranjas, mas citava um homônimo do motorista milionário: “Pra que cabelo? / Pra que, seu Queiroz? / Se agora a coisa está pra nós, nós, nós…”

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