segunda-feira, 4 de março de 2019

Conselho já tem maioria e vai aprovar mais penduricalhos para procuradores


A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tem se posicionado internamente contra os penduricalhos, mas sofre pressão
Raquel Dodge é derrotada pelo Conselho, que mostra ser insaciável
Reynaldo Turollo Jr.
Folha
Em uma sessão tensa e com manobras de lado a lado, o Conselho Superior do Ministério Público Federal, órgão máximo de deliberação da instituição, formou maioria para aprovar um projeto que amplia as gratificações pagas a procuradores por acúmulo de funções.
A votação não foi concluída porque dois conselheiros — o vice-procurador-geral, Luciano Mariz Maia, e a subprocuradora-geral Maria Caetana Cintra Santos — pediram vista (mais tempo para analisar o assunto). Uma nova data será marcada para a conclusão do debate.
“COMPENSAÇÃO” – Desde que foi extinto o auxílio-moradia de R$ 4.377, que era pago indiscriminadamente a todos os juízes e membros do Ministério Público até novembro passado, procuradores têm pressionado a procuradora-geral, Raquel Dodge, para aprovar projetos que aumentem seus vencimentos como forma de compensação.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tem se posicionado internamente contra os penduricalhos, mas sofre pressão. O projeto que já tem maioria (seis votos) para ser aprovado é de iniciativa da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), e sofreu algumas alterações do relator, o conselheiro Hindemburgo Chateaubriand.
Para os críticos, a mudança na gratificação, quando for implementada, criará uma remuneração extra para tarefas que são corriqueiras e já remuneradas pelo salário. Os salários dos procuradores variam de R$ 33,7 mil a R$ 39,3 mil (salário da procuradora-geral), e foram reajustados em 16,38% no final do ano, ocasião em que foi extinto o auxílio-moradia.
NA PAUTA – Dodge colocou o projeto como quarto e último item da pauta do Conselho Superior desta sexta-feira (1º). O presidente da ANPR, José Robalinho, tentou inverter a ordem da votação, para garantir que a proposta fosse apreciada, mas Dodge evitou o quanto pôde.
Quando a votação enfim chegou e alcançou cinco votos, os aliados da procuradora-geral pediram vista. A conselheira Ela Wiecko, então, quis adiantar seu voto, favorável ao projeto, formando desde já a maioria.
JÁ EXISTE – A Gratificação por Exercício Cumulativo de Ofícios é prevista em lei de 2014, que prevê uma compensação financeira para procuradores que exerçam função alheia à sua por mais de três dias. O Ministério Público Federal já paga o benefício quando um profissional substitui outro temporariamente ao mesmo tempo em que continua com suas atribuições.
O projeto em discussão no conselho prevê que o pagamento passe a ser efetuado em mais casos, sempre que houver prestação de serviço em mais de um setor ou órgão do MPF.
Por exemplo: um procurador que exercer atividades de investigação e também participar de atividades administrativas, como as reuniões do Conselho Superior, deverá receber gratificação proporcional.
SIMETRIA – “A gratificação é uma reivindicação que a ANPR faz desde 2017 que se baseia na simetria com o Judiciário”, disse Robalinho, presidente da associação —os juízes, segundo ele, já recebem nesses casos. “A queda do auxílio-moradia abriu espaço [para cobrir os novos gastos]”, afirmou.
O Conselho Superior também rejeitou, nesta sexta, um projeto que regulamentava o trabalho a distância de procuradores (teletrabalho). A ideia era permitir que procuradores trabalhassem de casa durante alguns dias do mês, mas a maioria dos conselheiros a reprovou por temer que a regulamentação servisse de estímulo para que profissionais morassem fora da comarca em que atuam.​

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