quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Vício em dinheiro tem difícil diagnóstico e pode ser apenas tentativa de “vitimização”


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Cabral agora quer se fazer de vítima, como se isso fosse possível
Leticia Lopes
O Globo

Além de admitir que eram seus os US$ 100 milhões em contas no exterior, entregues pelos doleiros delatores Marcelo e Renato Chebar, ex-governador Sérgio Cabral disse nesta terça-feira em depoimento à Justiça Federal que se apegou ao poder e ao dinheiro e que esse foi seu “erro de postura” durante o período em que comandou o Estado do Rio.
— Esse meu erro de postura, de apego a dinheiro, a poder, a tudo isso. Isso é um vício — disse Cabral, ao citar um acerto de pagamentos ilícitos na área de prestação de serviços na Saúde com o empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur.
ESPECIALISTAS – O Globo ouviu dois psicanalistas, que analisam  de maneiras distintas as declarações do ex-governador. Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ), o psicanalista Jeremias Ferraz Lima diz que, em mais de quarenta anos de profissão, nunca atendeu nenhum paciente com vício em dinheiro. Apenas pessoas que se sentiam culpadas por circularem em “ambientes corruptos”.
— O diagnóstico de um distúrbio como esse é muito complicado, já que são sintomas egossintônicos, que agradam ao ego. Você fica viciado em ganhar dinheiro, isso traz prazer e bem-estar, e está diretamente ligado a autoestima. Obviamente, a pessoa não encara isso como um problema. Com o Cabral, passou a ser um porque ele está preso — explica Lima, que também é professor adjunto da UFRJ e autor do livro Psicanálise do Dinheiro.
Lima acredita, porém, que há sinais de que o ex-governador do Rio pode ter, de fato, um vício em poder e dinheiro. No entando, por outro lado, Cabral pode  na verdade “mirar indulgência processual”.
SEM SENTIDO – Para Virgínia Ferreira, professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis, as declarações de Sérgio Cabral não fazem sentido. Ela entende que as atitudes do ex-governador se explicam pela “ganância desmedida”.
— Não existe nenhum vício, está muito longe disso. O que há, na realidade, é um desvio de caráter. É bom que se entenda que o vício só traz malefícios. A pessoa sabe que ela está errada, mas não tem controle. O dele é justo o oposto. O que ele tem é uma ganância desmedida. Agora, tenta se vitimizar e certamente minimizar as punições na Justiça — avalia.

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