Mas este é um Governo completo: se a oposição é fraca, os governantes
providenciam sua própria e sanguinária oposição. Coluna de Carlos Brickmann, publicada nesta quarta-feira:
O ministro Sergio Moro entregou no Congresso os projetos de combate
ao crime. O presidente Bolsonaro deve ir hoje ao Congresso com a reforma
da Previdência. São dois projetos-chave, promessas de campanha; se
derem certo, marcarão seu Governo. O momento é ótimo: o PT mantém a
cabeça em Curitiba e a oposição pode ser convencida com baixo custo
político.
Mas este é um Governo completo: se a oposição é fraca, os governantes
providenciam sua própria e sanguinária oposição. Brigas feias em torno
de conversas que, se houve (e houve) não fariam diferença. Bolsonaro e
um filho brigaram com o chefe da campanha presidencial, Gustavo
Bebianno, e o tocaram do Governo. Motivo? Uma importantíssima
divergência sobre telefonemas que foram trocados, ou não foram trocados,
entre o presidente e seu até então homem de confiança, Gustavo
Bebianno. Os telefonemas, aliás, houve; e tanto o filho do presidente
quanto o próprio acusaram quem disse que houve de mentiroso. Importância
zero – mas o Governo rachou.
Bobagem? Quem chega ao poder pode ser tudo, menos bobo. Se houve ou
não a conversa, isso foi pretexto. Então, por que a briga? Por causa do
encontro marcado entre Bebianno e um alto funcionário da Rede Globo, no
palácio? Bolsonaro não quer a Globo lá, disse no tal telefonema que
disse que não houve. Mas dois de seus auxiliares mais próximos já
receberam o mesmo cavalheiro, e ninguém brigou, não. Então, qual a causa
da briga?
Sopa de letras
Vale a pena buscar também o motivo que leva o organizador da UDN,
mais um novo partido, a dizer que a família Bolsonaro provavelmente irá
para lá, abandonando o PSL. Qual o problema que o PSL causou, ou causa,
ao presidente e a 01, 02 e 03, seus filhos? Que se saiba, nenhum. Qual
será a divergência ideológica entre UDN e PSL? Nenhuma: as duas legendas
se colocarão ideologicamente do jeito que Bolsonaro mandar. Por que
sair de um partido estruturado para entrar num em estruturação? UDN será
mais chique? Quantos eleitores se lembrarão de um partido extinto há 54
anos?
A grande atração
O repórter José Casado, de O Globo, levanta uma questão interessante:
o financiamento de campanha. O PSL tinha representação minúscula e, com
o impulso de Bolsonaro, formou bancada de 52 deputados. Com isso, uma
legenda que recebia R$ 6 milhões anuais de Fundo Partidário passa a
valer R$ 115 milhões por ano – e, se os costumes políticos no Brasil
continuarem os de sempre, a bancada vai crescer e valer R$ 200 milhões
de renda anual. Mas isso depende de Bolsonaro: se sai e leva seus
deputados, o PSL volta à receita habitual, baixinha. O presidente do
partido, Luciano Bivar, segundo Casado, administra 15% do financiamento
eleitoral. Bebianno é seu vice.
A grande solução
O site O Antagonista, que cita a análise de José Casado, avança e
aponta a solução do problema: extinguir o Fundo Partidário e o
financiamento público de campanha. Este colunista não vê motivo nenhum
para pagar a campanha de um candidato que, a propósito, nem sabe quem é.
A questão é política, mas Paulo Guedes daria um jeito rápido nesta
sangria de dinheiro.
A hora dos argumentos
Se na hora de mostrar força política o Governo racha, terá problemas:
há parlamentares cujo faro é especialmente aguçado para detectar o
momento certo de criar obstáculos. São pessoas que só se convencem
quando ouvem o tilintar de argumentos ponderáveis e em grande
quantidade. Bolsonaro marcou um café da manhã no Alvorada com líderes
partidários, amanhã, e tentará mostrar-lhes as vantagens da reforma da
Previdência. Mas só terá êxito se o cardápio for bom. Pão com leite
condensado não os convence.
Carne forte
A Austrália, grande exportador de carne, enfrentou primeiro uma seca
e, em seguida, chuvas devastadoras. Por causa da seca, muitas fêmeas
foram abatidas; em 2018, com a abundância de carne, houve exportações de
quase um milhão de toneladas, contra aproximadamente 1,4 milhão de
toneladas do Brasil (mas à custa da redução do rebanho). A chuva matou
500 mil cabeças. Ou seja, as exportações futuras da Austrália serão bem
menores.
No Brasil, noticiou-se a seca e a inundação, mas a consequente
redução das exportações não foi citada. Há quem acredite que os
frigoríficos brasileiros fingiram não dar importância à Austrália, e com
isso a repercussão foi mínima, para não indicar a próxima alta de
preços da carne exportável.
Luz e leite
Aqui a crise é outra: os produtores de Goiás criticam a qualidade dos
serviços da ENEL, que fornece eletricidade. As faltas de luz atingem
com mais força os produtores de leite, deixando-os sem refrigeração.
A Assembleia goiana já criou Comissão Especial de Inquérito sobre a ENEL.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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