sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Bolsonaro está fazendo apostas arriscadas ao se unir a Trump e Netanyahu


Jair Bolsonaro estreita laços com Benjamin Netanyahu
Netanyahu observa Bolsonaro usando o quipá dos judeus
Guga Chacra
O Globo

Jair Bolsonaro fez uma arriscada aposta ao se aproximar de Donald Trump e Benjamin Netanyahu em um momento que ambos enfrentam crises políticas e investigações na Justiça nos EUA e em Israel. Há uma chance de os dois governantes terem deixado o poder quando o presidente do Brasil ainda estiver na metade do seu mandato. Para complicar, os sucessores dos líderes americano e israelense talvez tenham posições antagônicas às deles.
As aproximações com os EUA e Israel são importantes e concordo com ambas. Podem trazer benefícios ao Brasil, se bem estruturadas. A boa relação com quem governa estes países também é fundamental. O problema está em personalizar a relação. Bolsonaro se coloca praticamente como um “trumpista”. Idolatra o presidente americano.
INVESTIGAÇÃO – Mas o que o presidente do Brasil fará, por exemplo, se a investigação de Robert Mueller incriminar Trump? Afinal, não podemos esquecer, já foram condenados pela Justiça americana seu advogado pessoal, seu chefe de campanha, seu assessor de segurança nacional entre outros. E se for aberto um processo de impeachment nos EUA? Ainda que Trump sobreviva, há o risco de um democrata como Beto O’Rourke ou Kamala Harris ser eleito para a Casa Branca em 2020. Como seria a reação de Bolsonaro de ter um “anti-Trump” em Washington?
Bolsonaro e o seu novo chanceler deveriam evitar serem ideológicos ao aprofundarem a relação com os EUA. Devem priorizar a economia. O Brasil precisa do mercado americano. Mas não será simples. Trump é protecionista e já reclama de os EUA perderem indústrias e empregos para o México. Dificilmente será convencido a abrir mais o mercado americano para a outra economia gigante da América Latina.
ALIANÇA CRISTÃ? – O chanceler brasileiro diz acreditar em uma aliança “cristã ocidental”. Mas Trump não é religioso e, assim como a maioria dos europeus e dos americanos, não considera o Brasil parte do Ocidente. Os brasileiros, na visão de Washington, podem auxiliar os americanos apenas em questões geopolíticas relacionadas à América Latina, como a Venezuela e Cuba. Seria ótimo para Trump terceirizar um pouco a questão para que ele possa focar em temas mais importantes na sua agenda de política externa, como o Oriente Médio, a China, a Europa e a Coreia do Norte.
No caso de Israel, em suas declarações, Bolsonaro valoriza mais o país do que Netanyahu. Já é um avanço. Caso o premiê israelense não consiga se manter no cargo nas eleições para o Knesset (Parlamento de Israel), em abril, ou seja indiciado nas múltiplas investigações de corrupção em curso na Justiça, o presidente brasileiro teria portas abertas para manter a relação com o seu sucessor.
IMAGEM RUIM – Nenhum premier de Israel irá querer atrito com o Brasil, mesmo com o presidente brasileiro tendo uma imagem ruim com setores mais liberais da sociedade israelense, que repudiam algumas de suas posições sobre a comunidade LGBT e o meio ambiente.
O grave está em anunciar uma possível visita a Israel no período de campanha eleitoral no país. Netanyahu pode usar a sua imagem e a possibilidade de transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém para conquistar votos na direita. Como regra na diplomacia, não é correto se envolver em eleições de outros países.

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