Bruno Garschagen, colunista da Gazeta do Povo,
escreve sobre os acontecimentos de 2018, observando que "o ano que
passou foi temporada crucial de transformações profundas. Foi um ótimo
ano em vários sentidos, especialmente para o conservadorismo, que começa
a ter, mesmo que de forma incipiente e reduzida, representantes
qualificados".
Segui um padrão ao longo dos artigos escritos durante o ano: qualquer
que fosse o assunto, ressaltei o valor das virtudes cardeais
(prudência, justiça, fortaleza e temperança), da responsabilidade
individual, dos deveres e obrigações na vida em sociedade. Na contramão
das preocupações hodiernas, fazia questão de deslocar o eixo do senso
comum desvirtuado para aqueles elementos que enaltecem a condição humana
e que nos permitem lidar com nossos dramas existenciais e com a maldade
que reside no espírito de alguns homens.
Na política, objeto de meus estudos e análises, parece que aqueles
cujo protagonismo sobressai carregam consigo a marca degenerada de um
espírito degradado, corrompido. Suas ações são, por isso mesmo, o
corolário dessa corrupção que transborda de seu interior para se
manifestar como infâmia social ou violação do Código Penal. Como na
famosa definição de Mussolini sobre o fascismo, nada fora da desonra,
tudo dentro da desonra.
A política não é, entretanto, sede única das vilezas, solo fértil da
baixeza. É, antes de tudo, instrumento imperfeito de ordenação e de
equilíbrio social. E, como todo território de construção humana, nada
garante a realização plena de seus objetivos, posto que se trata de
gestão de meio e não de fim.
Trata-se esse, aliás, de um dos maiores equívocos a seu respeito,
fonte profunda de expectativas frustradas: sendo a política caminho,
cabe a quem a orienta, organiza, comanda, ser capaz de controlar as
próprias paixões – aquelas sobre as quais David Hume tanto alertou em
seus ensaios –, de não se deixar seduzir pelas forças negativas que
corroem espíritos fracos, de não se fazer escravo das tentações pelo
poder, pelo supérfluo.
O ano que passou, 2018, foi temporada crucial de transformações
profundas. Foi um período de ebulição, turbilhão, catarse social e
política, de manifestação daquela conciliação de ambiguidades apontada
por Paulo Mercadante como traço português da nossa brasilidade. Foi um
ótimo ano em vários sentidos, especialmente para o conservadorismo, que
começa a ter, mesmo que de forma incipiente e reduzida, representantes
qualificados.
Aqueles que descobriram recentemente o extraordinário mundo da
política e das ideias que a preenchem e antagonizam reagiram como era de
se esperar, como crianças que se machucam quando aprendem a andar.
Por mais brutal que possa ter sido (e ser) o comportamento de muitos,
inexiste processo de maturidade sem os arroubos juvenis, porque é
impossível envelhecer prematuramente, como queria Nelson Rodrigues, e
sem a emergência de pretensões revolucionárias e reacionárias num país
cuja tradição política autoritária forjou uma mentalidade que consiste
em querer destruir tudo porque a desordem e a torpeza das elites parecem
fundamentar o todo e não ser expressão de uma minoria com poder
político e econômico. E é assim que, sem informação e formação, há quem
só veja como solução uma intervenção militar ou uma revolução
destruidora em vez de, por reformas, uma solução conservadora.
Mas, apesar da aparência de baixeza reinante que choca, que
horroriza, nem só de infortúnios vive a nossa sociedade e a nossa
política. Como somos treinados a odiar o nosso país, temos um radar
refinado para detectar torpeza e uma antena quebrada para identificar
retidão. Nosso espírito tornou-se incapaz, porque anestesiado por toda
sorte de violência e indignidade cometida por poucos, de perceber a
beleza disponível, a dignidade sediada no coração e nos atos de boa
parte da população. Por treinamento e exposição aos infortúnios, nos
tornamos uma espécie de oncologista que, diante da beleza complexa do
corpo humano, só tem olhos para os vários tipos de câncer.
Sim, estamos experimentando neste momento um processo de mudança, um
momento de transição, cujas oportunidades e possibilidades superam os
desafios, as dificuldades. Seja na reforma social, que começa numa
reforma interna em que a liberdade individual é conquistada a duras
penas, seja na transformação política, nada avança, nada muda
substancialmente, nada é transformado para melhor substantivamente, se
cada um de nós não assumir as responsabilidades, os deveres, as
obrigações que nos cabem. Sim: é árduo, doloroso, penoso, mas igualmente
possível e redentor.
Que 2019 seja um excelente ano, que seja a antítese do título do meu
livro: um ano de deveres máximos e direitos mínimos. Fiquem com Deus e
até a próxima!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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