Assim como Trump, Bolsonaro tende ao ceticismo em relação ao aquecimento
global. Acham que o tema foi muito ideologizado. Parcialmente, aceito o
argumento. Mas a proposta que solucionaria este problema é usar a
ciência como mediação do debate. Fernando Gabeira, via jornal O Globo:
Numa antiga peça de Harold Pinter, dois andarilhos entram, de
repente, na cozinha de um grande restaurante. Subitamente, começam a
ouvir pedidos de pratos sofisticados. Aturdidos, olham para o embornal e
percebem que há em suas modestas provisões um pão, uma fruta talvez.
Cada vez que vejo uma equipe nova assumir o governo, lembro-me dos
andarilhos aturdidos por sofisticadas demandas a que não podem atender.
Quando Bolsonaro apareceu diante da câmera, ao vencer as eleições, tinha
apenas uma bandeira do Brasil, levemente torta, colada com durex na
parede. No passado, candidatos contratavam hotéis, posavam diante de
grandes painéis, e suas imagens eram transmitidas em alta definição.
Isso só aumentou em mim a suspeita de que, apesar de sua força
descentralizada na sociedade, a campanha de Bolsonaro era modesta e
artesanal. Basta lembrar que, nos últimos dias, todos os principais
atores do grupo foram silenciados. Compreendo que isso era para não
causar polêmicas. Teoricamente, nos últimos dias, todos falam porque o o
objetivo central é persuadir.
Bolsonaro tem noção dos limites. Num culto religioso, ele afirmou que
pode não estar bem preparado, mas Deus capacita os escolhidos. Acho que
a fé ajuda, suscitando energia, resiliência e até compaixão. Nesse
sentido, a fé ilumina.
No entanto, há temas espinhosos que demandam conhecimento,
experiência e até um certo talento. A ideia de fundir os ministérios da
Agricultura e Meio Ambiente — que Bolsonaro defendeu e depois voltou
atrás mais de uma vez — não me parece uma inspiração divina.
Já desenvolvi um primeiro argumento sobre esse tema, afirmando que
era muito vasto. O Meio Ambiente cuida desde conceder licenças na área
do pré-sal ao monitoramento de um lobo-guará na Serra da Canastra, à
redução de emissões de CO2, ao controle da biodiversidade — enfim, como
costumamos brincar, não é um meio ambiente, mas um ambiente quase
inteiro.
Há um outro argumento. A fusão poderia suscitar acusações do tipo
raposa tomando conta do galinheiro. Isso é ruim no exterior. Pode
provocar uma resistência nos consumidores. Resistência espontânea ou
induzida pelos competidores internacionais.
Paranoia? Uma ponta de paranoia é saudável. Estava no Congresso
quando apareceu a falsa notícia no Canadá de que havia doença da vaca
louca no Brasil.
Fizemos uma comissão, demos entrevistas, inclusive cheguei a planejar
uma viagem ao Canadá. Eu, que sou vegetariano, me vi, de repente,
combatendo pela carne brasileira. Daquele grupo, lembro-me de Ronaldo
Caiado, eleito governador de Goiás.
Tomar uma decisão dessas apenas nos bastidores, sem consultar
estudiosos ou mesmo o agronegócio exportador, não seria o melhor
caminho.
Mas nem tudo estaria perdido. O Congresso brasileiro, de alguma
forma, será acionado. Uma medida provisória talvez. E nossa tarefa será a
de levar o debate para o interior da Câmara, através do Parlamento
universal em que se transformaram as redes sociais.
Temos um ponto em comum, que é a luta contra a corrupção. Vamos ter
de conversar com os eleitores de Bolsonaro, sobre a nova dimensão da
ética: a que diz respeito às futuras gerações.
Não porque eu tema que o planeta acabe, isso não acontecerá . Temo
pela vida humana, que pode tornar-se inviável, ser expelida do organismo
terrestre.
Assim como Trump, Bolsonaro tende ao ceticismo em relação ao
aquecimento global. Acham que o tema foi muito ideologizado.
Parcialmente, aceito o argumento. Mas a proposta que solucionaria este
problema é usar a ciência como mediação do debate.
Ciência nem sempre significa unanimidade. Senti isso quando da
proibição do amianto. Havia cientistas a favor e contra. No caso do
aquecimento global, o peso numérico dos cientistas que acreditam é
esmagador. Viajando, como faço, pelo Brasil, nem precisaria tanto da
ciência, apesar de sua autoridade.
Capitão, fé em Deus. Mas a outra parte do dito popular, pé na tábua,
poderia ser reservada para o consenso, como, por exemplo, acabar com a
estatal que cuida do trem-bala. Nesse ritmo, acabariam criando uma
estatal para a viagem a Marte.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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