Aprovaram um texto em Brasília que simplesmente libera indicações
políticas para qualquer empresa ou agência. Coluna de Carlos Alberto
Sardenberg, no Globo:
Pode parecer teoria conspiratória, mas vamos juntar algumas pontas,
na base do livre pensar, para mostrar que tem muita gente em Brasília
tentando armar contra a Lava-Jato.
Primeira ponta: muitos políticos estabelecidos foram derrotados nas
urnas. É chato, mas a categoria sempre teve um modo de acomodação: a
nomeação para cargos públicos diversos, especialmente nas tão numerosas
estatais e, mais recentemente, nas agências reguladoras. Aliás, dá para
entender por que são necessárias tantas empresas ditas públicas.
De 2016 para cá, entretanto, surgiu um grande obstáculo, a Lei de
Responsabilidade das Estatais. A norma proíbe que dirigentes partidários
e parentes de políticos com mandato sejam nomeados para presidência,
diretorias e cargos em conselhos das estatais.
A lei havia sido uma reação à Lava-Jato, que flagrou justamente o
escândalo das nomeações políticas. E, mais recentemente, houve um
avanço, um projeto de lei, apresentado na Câmara, que estende a
proibição para as agências reguladoras.
Pois então, na tramitação desse projeto, deputados conseguiram uma
proeza. Com uma manobra de bastidor, inverteram os termos, de proibição
para permissão, e ainda incluíram as estatais. Ou seja, aprovaram um
texto que simplesmente libera totalmente as indicações políticas para
qualquer empresa ou agência.
A jogada ainda não está concluída, pois o projeto tem que passar pelo
Senado. Mas sobram informações mostrando que a Casa, onde foi maior o
número de parlamentares derrotados, está, digamos, muito propensa a
seguir a manobra da Câmara dos Deputados.
Argumentam que a lei não é razoável, é muito severa, exagerada, pois o
político ou seu parente podem ser um bom gestor. Podem, e a lei é mesmo
exagerada.
Mas isso porque a corrupção foi muito mais exagerada.
A segunda ponta: de nada adiantará liberar as indicações políticas se as estatais forem privatizadas. Claro, não?
Vai daí, acumulam-se as restrições administrativas e legais às
privatizações. O ministro Ricardo Lewandowski, por exemplo, com uma
liminar, derrubou pontos de uma lei que regula a gestão e, pois, a venda
de estatais. Para o ministro, para cada estatal a ser privatizada, é
preciso uma lei específica votada pelo Congresso.
Não basta, portanto, uma lei geral de desestatização, como era a norma. Mesmo pequenas subsidiárias precisam de lei específica.
Trata-se de liminar, decisão provisória de um ministro. Ainda precisa
ser debatida e votada no plenário do STF. A liminar é de junho último, e
não há o menor sinal de que será incluída na pauta do tribunal.
O ministro Lewandowski justificou seu voto dizendo que era preciso conter a “crescente vaga de desestatizações”.
Não há propriamente uma onda de privatizações, mas o tema está na
pauta nacional por uma razão simples: governos estão quebrados, estatais
em crise, de modo que vender ativos não é uma opção ideológica, mas uma
necessidade econômica.
Por toda parte, porém, vão surgindo obstáculos. A Eletrobras tem
ainda duas subsidiárias que são um poço de prejuízos, as do Amazonas e
de Alagoas. Não consegue privatizá-las e assim vai passando a conta para
os contribuintes. Mas se mantêm os cargos.
Terceira ponta da armação contra a Lava-Jato: o indulto de Natal
concedido pelo presidente Temer em 2017. Generoso, tira da cadeia
condenados por corrupção que tenham cumprido pequena parte da pena.
Nomes ilustres que seriam beneficiados: Eduardo Cunha e Antonio Palocci.
Partes dessa lei do indulto foram suspensas por liminar do ministro
Luís Roberto Barroso — e o caso agora está no plenário do STF.
Esta coluna foi fechada antes da conclusão do julgamento, mas o que
está em debate vai além. A questão é: pode o presidente, que tem a
prerrogativa de indultar, conceder o benefício aos criminosos de
colarinho branco?
Eles podem não ser violentos no sentido de que não mataram ninguém.
Mas roubar dinheiro público não seria uma violência social ainda mais
grave?
E, resumindo, é ou não é uma armação?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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