Um dos principais fronts escolhidos pelos heróis da resistência é a
universidade. E para a alegria dos bravos combatentes, a polícia andou
entrando em instituições de ensino, por solicitação da Justiça, para
mandar remover propaganda eleitoral e – alegria suprema – faixas contra o
fascismo. Guilherme Fiuza, via Gazeta do Povo:
Já começou a resistência contra o fascismo. Só falta o fascismo
chegar, mas isso é problema dele. Até porque o fascismo, autoritário
como é, pode resolver nem chegar, só para contrariar seus oponentes
imaginários. Definitivamente, não dá para confiar em fascista.
Um dos principais fronts escolhidos pelos heróis da resistência é a
universidade. E para a alegria dos bravos combatentes, a polícia andou
entrando em instituições de ensino, por solicitação da Justiça, para
mandar remover propaganda eleitoral e – alegria suprema – faixas contra o
fascismo.
Foi bonito de se ver os brados por liberdade de expressão nas
universidades. Deu até vontade de contar aos gladiadores da democracia o
que aconteceu nas salas de aula do Brasil inteiro nas últimas décadas.
Vocês não iam acreditar, intrépidos guardiões do mundo livre:
professores em tudo quanto é canto fazendo comício petista disfarçado de
lição pedagógica – e não pensem que foi só naquelas missas patéticas
fantasiadas de aula de História, não: até no ensino de Química andou
cabendo sermão de sindicalista do PSOL. É chocante, nós sabemos.
Desculpem, mas vocês precisavam saber também.
Imaginem se essas vibrantes brigadas libertárias tivessem tomado
conhecimento dessa longa, abrangente e implacável transfusão de lixo
ideológico para mentes em formação? (não dá para chamar de lavagem
cerebral, porque não se lava nada com lixo) Várias gerações já teriam
sido salvas da picaretagem intelectual – essa que se espalhou sem dó nem
piedade por diversos círculos de transmissão de conhecimento. Que pena
que os libertadores não repararam em nada disso.
Agora vejam o tamanho do problema: numa sociedade com tanta gente
catequizada para se filiar às mentiras certas, o país se vê num certo
embaraço sempre que quer dar um passo em frente.
Por exemplo: o Plano Real era um estelionato, uma jogada política da
elite branca, um golpe neoliberal. Acabou sendo a maior ação de combate à
pobreza da história contemporânea do país, mas só não foi dinamitado no
nascedouro porque travou uma guerra sangrenta contra a narrativa dos
coitados profissionais – e porque botou dinheiro no bolso do povo.
A privatização da telefonia também era um atentado elitista contra o
patrimônio nacional – e o povo só chegou a receber os imensos benefícios
dela depois de uma batalha campal (literal) contra vocês, queridos
heróis da resistência contra o fascismo capitalista.
Como se vê, é um truque fajuto que por algum mistério insondável
continua dando voto, grana e status progressista (!). Ou talvez não seja
tão misterioso assim, se voltarmos ao que tem se passado nas salas de
aula do país nas últimas décadas. Aliás, até hoje aparecem questões de
provas no ensino médio onde a resposta certa é associar o período do
Plano Real à crise econômica e social.
(Nota do autor: naturalmente isso não é chute, é fato, pois apesar de
reconhecermos a formidável eficácia da máquina de hipocrisia, não temos
a senha. Aos interessados, ver “Não é a mamãe” e “Manual do Covarde” –
editora Record).
Se você sai da escola com essa habilidade para torturar a verdade, e
ninguém te diz com todas as letras que isso é hediondo, você vai fazer
isso vida afora e ainda vai se orgulhar. Plano Real é golpe das elites,
Lula é perseguido político, controle fiscal para tirar o país da
recessão é maldade do mordomo denunciado pelo bravo Joesley, resultado
eleitoral é conspiração do WhatsApp.
Você é uma fake news ambulante, mas ainda vão te defender em nome da liberdade de expressão.
Parêntese semântico (com a sua licença, professor eloquente):
defender jornalismo de cabresto é defender a liberdade ou atacá-la?
Os heróis da resistência não responderão, pois estão ocupados no
banheiro descobrindo mais uma suástica dessas que o fantasma de Hitler
anda pichando por aí. A esperança desses democratas intrépidos era um
ladrão condenado, passou por um boquirroto destemperado (que agora está
atacando o tal ladrão), derivou para um suplente de presidiário – com o
qual morreu na praia – e agora quer ressuscitar contra o fascismo
imaginário.
Eles já mostraram que resistem a tudo. Menos ao ridículo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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