Coluna de Merval Pereira, via jornal O Globo, com um resmungo ou outro diante da derrocada petista:
O que poderia ser uma “onda vermelha” não se confirmou. Nenhum fato
novo ocorreu ontem para reforçar essa possibilidade, e a média das
pesquisas divulgadas mostra uma situação estável, indicando que o
segundo turno está praticamente definido a favor de Bolsonaro.
É quase impossível que cerca de 15 milhões de pessoas mudem o voto de
um dia para outro em favor de Haddad. Os resultados dos diversos
institutos de pesquisa são diferentes, mas dentro das margens de erro.
Apenas coma pesquisa de hoje, a terceira da série no segundo turno de
Ibope e Datafolha, será possível dizer se a tendência de Bolsonaro é de
queda e de Haddad é de alta, o que até agora não se confirmou
tecnicamente. E qual a velocidade das mudanças.
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, explica que, para definir se
houve uma variação fora da margem de erro, é preciso que os números se
movam na proporção de 4 pontos percentuais, para mais ou para menos. Por
isso, mesmo Haddad tendo crescido 3 pontos e Bolsonaro caído outros 3,
teoricamente fora da margem de erro, que é de 2 pontos percentuais,
ainda não há indicação de que houve uma alteração efetiva do quadro
eleitoral.
Se analisarmos bem, o resultado é praticamente o mesmo em todas as
pesquisas, algo em torno de 60% para Bolsonaro e 40% para o PT, pouco
mais ou pouco menos. O interessante é que esses números são da mesma
ordem de grandeza das vitórias que Lula teve em 2002 sobre Serra (61,27%
a 38,72) e Alckmin em 2006 (60,83% contra 39,17%).
Essa média caiu um pouco em 2010 com Dilma sobre Serra (56,05% contra
43,95%), indicando que a onda petista estava se aproximando do fim, e
veio 2014, com um virtual empate no final, uma vitória apertada de Dilma
sobre Aécio, de 51,64% contra 48,36%.
Desde 2013 estava em curso uma mudança de humor da sociedade, que se
cristalizou na eleição municipal de 2016 e nesta, presidencial. Se os
tucanos tivessem mantido o eleitorado cativo e pudessem avançar sobre o
do PT, que é o que Bolsonaro está fazendo, elegeriam o próximo
presidente, e Bolsonaro provavelmente seria mais um candidato nanico.
Mas o PSDB se perdeu no caminho, chegou às eleições depauperado pelos
erros que cometeu e pelos acertos que se recusou a assumir. O PT foi aos
poucos sendo levado para o Nordeste, perdeu a classe média para o PSDB
primeiro, e agora para Bolsonaro.
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, entende que os números
semelhantes indicam que Lula em 2002 roubou parte dos votos do PSDB, que
havia elegido Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno em 1994 e
1998, com 54,24% e 53,06% respectivamente, limitando os tucanos a uma
parcela de 40% do eleitorado nas duas eleições seguintes, que agora
foram assumidos por Bolsonaro.
O cientista político Sérgio Abranches acha que esses são os mesmos
eleitores, uma parte que é volante, não tem preferência nenhuma pelos
candidatos e vota de acordo com sentimentos diferenciados: uma parte
porque quer votar no favorito, outra porque considera que ele vai
resolver seus problemas.
Isso em geral acontece, diz Sérgio Abranches, no estamento médio das
classes médias, que é muito vulnerável a incertezas, “aquele pessoal que
está começando a ser bem-sucedido e tem muito medo de retroceder”.
Preferem as coisas mais certas, evitar qualquer tipo de incerteza.
“Sente a onda e vai na onda”. “Quando muda, muda na mesma onda porque é o
mesmo comportamento social”.
O economista Sérgio Besserman, que foi presidente do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também vê uma mudança do
que chamam de “nova classe média”, que melhorou de vida nos últimos 25
anos, agora já tem o que perder em crises econômicas ou políticas, e
procura um porto seguro de acordo com o momento do país.
Lula está sendo vítima de sua própria atuação política. Pai dos
pobres, mas percebido pela classe média e pelos investidores como capaz
de trazer progresso ao país, foi de desgaste em desgaste até ser preso
em Curitiba. Sua imagem, que parecia inabalável, acabou simbolizando a
corrupção que tomou conta dos governos petistas.
A nova classe média, gestada desde o Plano Real e consolidada nos
governos de Lula, com a crise econômica e a recessão dos governos Dilma,
acabou correndo para outro populista, este de direita, em busca da
segurança que o PT não oferece mais.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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