Condenado ao desaparecimento pelo eleitorado que tapeou por tanto tempo,
o partido que virou bando vai morrer de sem-vergonhice. Augusto Nunes, na jugular dos totalitários:
O discurso lido por Jair Bolsonaro revogou o destempero da primeira
fala improvisada pelo presidente eleito e desconcertou adversários que
esperavam ansiosamente algum escorregão autoritário. O candidato
vitorioso transformou num “juramento a Deus” a promessa de respeitar a
Constituição, as leis, os direitos humanos, as múltiplas liberdades.
Louvou o Estado Democrático de Direito e reiterou o compromisso de
esforçar-se pela pacificação do Brasil.
O discurso de Fernando Haddad, declamado minutos depois, deixou em
frangalhos a fantasia do estadista que Lula escolheu para impedir que a
democracia brasileira fosse assassinada por uma versão piorada de Adolf
Hitler. Alheio aos 10 milhões de votos que escavaram um abismo entre ele
e Bolsonaro, Haddad transformou o que deveria ser um civilizado
reconhecimento da derrota no primeiro comício do terceiro turno de uma
eleição que acabou.
Em vez de desejar boa sorte ao vencedor, o democrata de galinheiro
tentou desqualificar a decisão da maioria do eleitorado, exigiu a
libertação do corrupto engaiolado pela Justiça e avisou que a luta
continua. A seu lado no palanque, Gleisi Hoffmann confirmou que o
partido não perdeu para Bolsonaro: foi vítima das fraudes, da enxurrada
de fake news, das injustiças praticadas contra Lula e de outras
perversidades engendradas por fascistas e neonazistas.
Guilherme Boulos aproveitou o clima beligerante e convocou para esta
terça-feira atos de protesto contra o governo que nem começou. Não
esclareceu se vai convidar para as manifestações Joaquim Barbosa,
Rodrigo Janot, Marina Silva e outros parceiros recentes da “frente
democrática” simulada pela tribo que sonha fazer do Brasil uma Venezuela
tamanho família. Tampouco revelou se vai aproveitar o ajuntamento para
invadir algum imóvel.
O palavrório dos companheiros de naufrágio destoou pateticamente da
cara de velório. Fiascos do gênero confundem seus protagonistas,
sobretudo se portadores de cabeças muito avariadas. Mas o surto de
alucinações não dura muito. Sacerdotes ou meros devotos, os integrantes
da seita logo descobrirão que Lula vai continuar na cadeia, que a Lava
Jato venceu a quadrilha, que Bolsonaro nocauteou Haddad, que os
brasileiros não são um ajuntamento de otários.
O comportamento dos vencidos informa: o PT pode até sobreviver por
alguns anos, mas a agonia é irreversível. Condenado ao desaparecimento
pelo eleitorado que tapeou por tanto tempo, o partido que virou bando
vai morrer de sem-vergonhice.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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