"Só não convém duvidar
dos poderes de Lula, nem de sua influência sobre o imaginário da nação;
aqui mora o perigo. Pois quem vota no Lula vota na Dilma. Quem vota na
Dilma vota num jumento. Quem vota num jumento vota facilmente em
Fernando Haddad". Coluna de Gustavo Nogy, via Gazeta do Povo:
Não sei se a história
é apócrifa, mas semanas atrás alguns sites veicularam a notícia de que
certa senhora, filiada ao PT, garantiu: “Se Lula me disser para votar
num jumento, eu voto”. Verdadeira ou não, o espírito é esse mesmo. Se
Lula pede para votar num jumento, o eleitor vota num jumento. E quem
vota num jumento, vota tranquilamente em Fernando Haddad.
As últimas pesquisas
indicam o que teremos de cardápio no segundo turno. Jair Bolsonaro, com
sua base eleitoral sólida, garantiu lugar; Fernando Haddad, como surto
de febre tropical, contamina a sanidade de todo eleitorado; o trepidante
Ciro Gomes aparece no retrovisor, mas com seu mau hálito eleitoral tão
característico deve ficar pelo meio do caminho.
(Registre-se para o anedotário: menino Boulos não pontuou.)
O cenário não me
surpreende. Mário Vitor Rodrigues apontou o quanto a pusilanimidade do
PSDB é responsável por essas eleições serem disputadas nas extremidades,
sem nenhum centro, o que é ruim. Um discurso de centro-esquerda e
centro-direita serviria para atrair os extremos de um lado e outro,
acalmar os ânimos e, consequentemente, moderar o que há de imoderado no
discurso.
Consideradas todas as
coisas, a inacreditável viabilidade de Fernando Haddad foi detectada
nas pesquisas quando ainda levavam em consideração a candidatura
impossível de Lula. Muita gente criticou os institutos de pesquisa, dada
a desfaçatez ética de se cogitar o atual presidiário como futuro
presidente.
Ocorre que essas
sondagens, com Lula no tabuleiro, de alguma forma qualificavam as
pesquisas subsequentes. Ora, se Lula, de dentro da cadeia, conseguia
chegar a 30, 35% das intenções de voto, muito naturalmente ele
conseguiria transferir parte desse capital para sua criaturinha. É o que
parece estar acontecendo.
Não sei se a condução
do processo e julgamento de Lula foi bem-feita, se houve exagerada
espetacularização, se os juízes e promotores falaram mais do que
deveriam ter falado, mas o fato é que o PT conseguiu manipular de tal
modo o espírito brasileiro do deixa-pra-lá, que, a essa altura, parcela
considerável do eleitorado já nem acredita tanto assim na culpa do
petista.
Além disso,
malfeitores com jeitão romântico ou melancólico seduzem muita gente.
Lampião, Marighella, Maníaco do Parque, Bandido da Luz Vermelha são
personagens que se movimentam simbolicamente num claro-escuro da
consciência nacional, onde os instintos e os sentimentos falam mais alto
que a razão e os princípios.
Daí a resiliência da
figura de Lula. Daí o crescimento da figura de Haddad. Ocupados que
ficamos com a punição do chefe da quadrilha e com o impeachment de
Dilma, talvez tenhamos esquecido que muito da política acontece numa
frequência mais baixa, menos ideológica, em que termos como
“totalitarismo”, “ditadura”, “austeridade fiscal”, “contas públicas” e
outras bruxarias não alcançam o eleitorado.
Como criticar o
aparelhamento do Estado, praticado com gosto e fome pelo PT, se somos um
país de funcionários públicos, cheio de ethos de funcionário público?
Se até mesmo entre os militares, que deveriam servir de exemplo, ainda
hoje pagamos vultosas pensões para as filhas solteiras que se mantém
solteiras para continuarem a receber as vultosas pensões? E o que dizer
de nosso judiciário de despesa faraônica e eficiência de pigmeu?
Que Lula resista como
figura política proeminente não espanta. Já me cansei de me espantar
com absurdos. Por isso, a estratégia de Bolsonaro é arriscada. Faz tempo
conquistou sua base eleitoral, mas ele e seus militantes não se
preocuparam em ampliar a zona discursiva para nela atrair eleitorado
diverso. Até porque as eleições acabam e ele terá de governar para um
país inteiro.
O acirramento
ideológico, desnecessário e gratuito, pode até mesmo leva-lo à
inesperada derrota, ainda que o festejado Capitão desponte como grande
favorito. Só não convém duvidar dos poderes de Lula, nem de sua
influência sobre o imaginário da nação; aqui mora o perigo. Pois quem
vota no Lula vota na Dilma. Quem vota na Dilma vota num jumento. Quem
vota num jumento vota facilmente em Fernando Haddad.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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