Folha
Quando alguém propõe aumento de impostos para solucionar os problemas do Estado brasileiro, eu me lembro do Fiat 147 que minha irmã comprou (por R$ 1.000) nos anos 90. Quando funcionava, a pequena geringonça bege não chegava a 70 km/h; o motor, sempre prestes a fundir, fazia 4 km por litro de gasolina. Demorou só um mês para minha irmã perceber que ali não havia futuro. Juntou dinheiro e trocou por um Voyage.
Mas imagine se minha irmã teimasse em acreditar no potencial daquele Fiat e acreditasse que o problema, na verdade, era a falta de combustível. “Se ele tiver mais gasolina, tudo será resolvido, e quem sabe um dia este Fiat nos levará até a praia!”, diria ela em tom profético.
ESTADO BEBERRÃO – Se minha irmã fosse tomada por essa alucinação, agiria como as pessoas para quem o problema do Brasil é a falta de impostos. O Estado é beberrão, vagaroso e frequentemente guiado por motoristas desastrados. Como muito se repete, consome 30%, 40% da riqueza do país; cobra impostos como a Dinamarca, mas oferece serviços da Índia.
É evidente que a cobrança de impostos sobre lucros, dividendos ou sobre fortunas não é a solução. A proposta, defendida pela esquerda, é um populismo fiscal que asfixiaria ainda mais a criatividade e a iniciativa dos empreendedores.
Primeiro, porque não só os investidores pagariam o pato: como qualquer taxa ou aumento de imposto, o valor seria repassado para o custo dos produtos e serviços das empresas. Além disso, o governo já cobra impostos sobre o lucro —no nível da empresa, antes de ser dividido para acionistas.
CONCLUSÃO – Seria melhor cobrar impostos dos acionistas e não das empresas? Bem, talvez sim. No “Brasil que eu quero”, só pessoas físicas pagariam tributos. Empresas são vetores de realização de desejos: se existem (sem a ajuda do governo) é porque resolvem problemas e melhoram a vida dos cidadãos. Por isso deveriam ser isentas de qualquer encargo.
Desse ponto de vista, até seria correto taxar dividendos, desde que se eliminassem os impostos sobre o lucro das empresas. Mas sem esquecer que, como o Fiat 147 da minha irmã, a geringonça vai continuar decepcionando — independentemente da quantidade de combustível.
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