O The Economist virou uma espécie de Almanaque Capivari para os
empresários brasileiros da modalidade
"civilizada-liberal-contemporânea". Mestre J. R. Guzzo, no alvo, em
artigo publicado na edição impressa da revista Exame:
O que aconteceria num país que teve quase catorze anos seguidos da
mais ruinosa administração econômica que se possa imaginar, com direito à
maior recessão na história de sua economia? Além das repetidas
tentativas de suicídio econômico, armou-se ao longo deste período o que
provavelmente tenha sido o mais alucinante sistema de corrupção jamais
visto na administração pública mundial. A máquina do Estado foi
privatizada em favor dos partidos que apoiavam os governos, primeiro o
do ex-presidente Lula e depois o de Dilma Rousseff. Milhares de cargos
públicos foram entregues a militantes do PT e outros coletivos de
esquerda. Bilhões de reais desapareceram do Tesouro Nacional e foram
acabar nos bolsos de dirigentes de “movimentos sociais”, ONGs,
governantes de países estrangeiros que não se submetem à lei
internacional, ditadores africanos, filhos de ditadores africanos que
são pegos na alfândega do Brasil com malas abarrotadas de dinheiro vivo.
O ex-presidente está na cadeia, condenado a doze anos por corrupção e
lavagem de dinheiro. Estão presos ex-ministros, diretores de estatais e
outros barões do seu governo, quase todos réus confessos ─ e por aí
afora. Muito bem. A única resposta possível para a pergunta feita no
parágrafo inicial, dentro da lógica comum, é a seguinte: na primeira
eleição que aparecesse, os responsáveis diretos pelas calamidades
descritas acima receberiam da maioria dos eleitores uma ordem clara de
cair fora do governo e ficar o mais longe possível dele, de preferência
para sempre. Mas o país dessa história é o Brasil, e no Brasil as coisas
raramente fazem nexo.
O problema não está tanto no comportamento do eleitorado, que segundo
as “pesquisas de intenção de voto” põe numa situação privilegiada,
quase de favorito, o candidato que promete abertamente ressuscitar a
catástrofe dos governos Lula e Dilma. Num eleitorado em que a maioria
dos 150 milhões de votantes não têm nenhum preparo para escolher nada,
qualquer farsante bem treinado para mentir mais que os outros candidatos
sempre terá chances excelentes de ganhar. O curioso, na atual eleição
presidencial, é que grande parte da elite empresarial brasileira ─
aquela que se imagina mais avançada, vê a si própria como merecedora de
uma cota de sócia no mundo civilizado, lê os jornais e revistas de Nova
York ou Londres, etc., etc., etc. ─ esteja achando que o candidato que
promete voltar ao governo passado é o mais adequado para ocupar o
governo futuro. Não que Fernando Haddad seja o homem ideal, claro.
Nossos mais distintos magnatas e seus guias espirituais prefeririam um
Emmanuel Macron, digamos, ou coisa que o valha; mas Monsieur Macron não
está disponível. A saída, então, é se arrumar com esse Haddad mesmo. É
verdade que ele tem, entre todos os candidatos, o mais bem armado
projeto de destruição do Brasil. O que se vai fazer, porém? A
alternativa é eleger um homem de extrema direita ─ e isso deixa passando
mal os nossos capitães de indústria, comércio e finanças ─ ou, pelo
menos, é o que dizem. Haddad, imaginam, é uma pessoa com quem daria
“para conversar”.
De mais a mais, é essa a instrução que recebem no momento do The
Economist─ e nos últimos anos, por razões de ordem psicológica que
talvez sejam melhor esclarecidas no futuro, o The Economist virou uma
espécie de Almanaque Capivari para os empresários brasileiros da
modalidade “civilizada-liberal-contemporânea”. Acreditam no que é
publicado ali como se acredita na tábua de marés da Marinha Nacional ─ e
ali estão dizendo que Haddad, além de ter sido um prefeito “de êxito”
em São Paulo, poderia inclinar-se para uma abordagem mais liberal da
economia. Quem pode levar a sério um disparate desses? Mais gente do que
você pensa. Empreiteiros de obras públicas, banqueiros preocupados em
manter o monopólio que tanto dinheiro lhe deu nos governos Lula-Dilma,
fornecedores de sondas nacionais para a Petrobras, Joesleys, Eikes e
todo o resto da turma estão prontos para assinar embaixo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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