terça-feira, 28 de agosto de 2018

Eleição presidencial será decidida no primeiro turno (mas não da forma que se espera)


Resultado de imagem para BOLSONARO, MARINA, CIRO, HADDAD E ALCKMIN
Os principais candidatos representam interesses diversos
Mário Assis Causanilhas
Na internet e na mídia em geral, diariamente são publicadas muitas análises da eleição presidencial de outubro. Muito se fala, porém poucos analistas demonstram a lucidez do jornalista Luciano Trigo, que mantém no G1 um blog sobre Artes, mas é um  cientista político de primeira.
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OS CANDIDATOS SÃO MUITO DIFERENTES ENTRE SI
Luciano Trigo

Lula perdeu três eleições (em duas delas, FHC venceu no primeiro turno) antes de se eleger em 2002. Naquele ano, ele entendeu que jamais chegaria à Presidência se contasse apenas com o voto dos eleitores petistas. Veio então a “carta aos brasileiros”, na qual se comprometia a respeitar os fundamentos macroeconômicos, agradando ao mercado e aos eleitores moderados. Foi isso que lhe permitiu agregar, no segundo turno, os votos necessários para derrotar o candidato tucano (acho que era José Serra).
Normalmente eu encerraria esse post aqui, acreditando que para bom entendedor meia palavra basta. Mas não existem mais bons entendedores. Hoje é preciso explicar, desenhar a explicação, depois explicar o desenho, e mesmo assim as pessoas não entendem o que você quis dizer.
CÍRCULO VICIOSO – OS eleitores de bolsonaro trabalham contra o candidato e lamentam um círculo vicioso: eles se esforçam para acreditar na vitória no primeiro turno (o que não vai acontecer), porque intuem que esta seria a única chance de chegar à Presidência. Mas, à medida que o tempo vai passando e o candidato não cresce, isso faz com que se tornem mais agressivos e intolerantes – o que aumenta a rejeição a Bolsonaro.
A situação é, portanto, singular: temos, de um lado, um candidato com uma base fiel, suficiente para levá-lo ao segundo turno, mas insuficiente para a vitória. Seu alto (e crescente) índice de rejeição e sua pouca disposição para costurar alianças tornam sua derrota no segundo turno mais do que previsível. O que sinaliza que a eleição será, sim, decidida no primeiro turno, não por maioria absoluta de votos de um candidato, mas porque quem conquistar a segunda vaga tem tudo para se tornar o próximo presidente do Brasil.
BRIGA DE FOICE – Então, o que temos hoje é uma briga de foice no escuro entre quatro candidatos com chance de vitória: Alckmin, Ciro, Haddad e Marina. Dizer que os quatro são iguais é uma burrice. São muito diferentes. Dependendo de quem vencer, o Brasil pode seguir pela via da recuperação ou mergulhar de vez no abismo.
Pelo critério da capacidade de gestão, só dois desses quatro candidatos são minimamente qualificados: Alckmin e Ciro. Um e outro já foram eleitos e reeleitos governadores e têm resultados para mostrar. Haddad foi prefeito de São Paulo, mas a gestão foi desastrosa: sua grande marca foi a Cracolândia. Marina nunca ocupou um cargo no executivo: como gestora, é uma incógnita.
É difícil orientar o voto pelo critério ideológico, já que no Brasil direita e esquerda se tornaram conceitos confusos e de pouca utilidade (candidatos de direita defendendo Estado forte, candidatos de esquerda se aliando a grandes banqueiros, direitos e liberdades individuais apropriadas como bandeiras pela esquerda etc).
DIFERENÇAS – Mas parece óbvio que, mesmo nesse quesito, os quatro candidatos são muito diferentes. Alckmin é do partido que promoveu uma enorme e liberalizante reforma do Estado, privatizando dezenas de estatais e eliminando milhares de cargos públicos; Ciro e Marina são ambíguos no discurso, mas evidentemente estão à esquerda de Alckmin. E Haddad não está apenas à esquerda, ele é o representante de um projeto de poder que levou o país ao colapso, produziu os maiores escândalos de corrupção da nossa história e dividiu de forma criminosa a sociedade brasileira.
Por isso mesmo, embora nenhum dos quatro candidatos desperte entusiasmo, dizer que todos são iguais é apenas uma estupidez.
Respeito o voto de todo mundo. Se você é eleitor de Bolsonaro, reflita antes de ajudar a colocar Haddad no segundo turno, ao concentrar seus ataques nos outros candidatos. Se você não é eleitor de Bolsonaro, pense muito bem antes de escolher em quem vai votar. Mesmo entre tragédias, há gradações. E nada seria pior para o país que a volta do PT ao poder.
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