quarta-feira, 25 de julho de 2018

Os sofismas de Collor


Luiz Holanda

Tribuna da Bahia, Salvador
24/07/2018 07:48
   


A entrevista do senador Fernando Collor (PTC-AL) à revista Veja foi um apoiado de sofismas tentando vender uma imagem que, infelizmente, ele não tem. Nem o seu partido o quis como candidato a presidente da República. Na entrevista, ao se defender das denúncias de corrupção que pesam contra sua pessoa, Collor atacou a Lava Jato e defendeu o ex-presidente Lula, seu rival nas eleições  de 1989.
Collor esqueceu que, nessa eleição, faltando dez dias para o encerramento do horário eleitoral gratuito do segundo turno, negociou com a enfermeira Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, a gravação e a exibição de um depoimento no qual ela contava na TV que Lula, em 1974, a abandonou quando soube que estava grávida, e que lhe pediu que fizesse um aborto para não prejudicar a sua trajetória política.
A primeira pergunta feita a Collor na entrevista foi: “O senhor é corrupto? à qual ele respondeu que não. Diante dessa resposta, o repórter indagou sobre as transferências de dinheiro do doleiro Alberto Yousseff para sua conta. Collor respondeu que quando o dinheiro surgiu questionou sua origem, pois “não conhecia a pessoa. Não sabia de quem se tratava. Pedi ao banco que o deixasse de fora da minha conta até que a polícia visse o motivo daquele depósito. O dinheiro continua na conta. Está à disposição. Se o Youssef quiser mandar pegar e a Justiça autorizar, pode pegar. Está lá”.
Collor acha que o eleitor vai acreditar nessa história, e nisso ele está coberto de razão. Um povo que esquece tudo por futebol, cerveja, carnaval e cachaça, mesmo vivendo na miséria por causa da corrupção, merece, realmente, uma resposta dessa.
Collor, nestas eleições, jamais foi candidato a presidente da República. Sua verdadeira campanha é em Alagoas, onde seu nome é sondado para uma disputa paroquial pelo Executivo daquele estado e onde ele pretende o apoio do seu antigo inimigo, Renan Calheiros, hoje no MDB.
Ele, em sua entrevista, também afirmou que “A Lava Jato não demoliu a classe política”, no que ele também tem razão. Os caciques se farão presentes na próxima legislatura com mais força ainda, e ele é um exemplo disso. Em todos os estados, com exceção da candidatura do excêntrico Bolsonaro no Rio de Janeiro, os caciques aparecem à frente nas pesquisas, principalmente em Alagoas, onde as velhas figurinhas carimbadas lideram a corrida pelos votos, apesar dos processos que respondem por corrupção.
A Lava Jato mostrou ao país as entranhas dos governos mais corruptos de nossa história, a começar pelos os dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardos, José Sarney, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Apesar disso, o esquema montado para acabar com a Lava Jato parece estar funcionando. A pressão espúria dos poderosos, com a ajuda de alguns dos ministros de nossa Suprema Corte, conseguiu diminuir a força da operação. No faroeste tupiniquim, os mocinhos agora são bandidos.
Collor tem razão nesse aspecto. Não há mais claridade, compromisso, ética política e disposição de luta. O surgimento de Bolsonaro prova isso. Prometendo fazer surgir um novo país, acabar com a corrupção e se manter no poder com apoio das Forças Armadas, o homem vai ganhando terreno. Até a histriônica Janaina Paschoal, que rodou a baiana durante o processo do impeachment, pode ser sua vice.
Lógico que há erros cometidos pela Lava Jato, mas não dá para negar que ela expôs para o país a maior corrupção material e moral já existente em sua história. Quando o senador alagoano diz que provará sua inocência, devemos esperar que o faça. É um direito seu garantido por nossa Constituição. Só não pode é posar de vítima, coisa que ele jamais foi ou será.
É preciso não esquecer que existe inúmeras acusações contra Collor. Só no relatório do ministro Fachin, de 30 páginas, existe 29 acusações de crime de lavagem de dinheiro e casos de corrupção passiva envolvendo um montante de R$ 50 milhões. Vamos torcer para que ele prove ser inocente.
Entretanto, não se pode negar que ele tem razão quando diz que os caciques voltarão à política com mais força ainda. O Brasil é um país que nunca foi levado a sério. Quando o embaixador do Brasil na França, Carlos Alves de Souza, disse ao jornalista Luís Edgar de Andrade, correspondente do Jornal do Brasil naquele país, que “o Brasil não é um país sério”, não estava sofismando, como Collor; estava apenas dizendo a verdade.
Luiz Holanda é advogado e professor universitário.

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