A coluna dominical de Carlos Brickmann, reproduzida aqui na íntegra:
Aconteça o que
acontecer no Supremo Tribunal Federal — o que inclui aquelas surpresas
jurídicas com que já nos acostumamos — o ex-presidente Lula não deve ser
candidato à Presidência: é barrado pela Lei da Ficha Limpa. Mas faz
questão de manter a ficção de pé e sustentar a candidatura até que seja
formalmente impugnada pelos tribunais. Neste momento entra em cena o
Plano B, aquele que Lula e seus principais seguidores garantem que não
existe: ele sai de cena e tenta transferir seus votos para um poste. O
robô (já escolhido) fará o papel de clone de Lula: eu sou ele, ele sou
eu.
O robô, diz VEJA on-line, na coluna Radar,
é Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, derrotado no primeiro
turno por João Doria quando tentou a reeleição. No horário de tevê, Lula
e Haddad se apresentarão, deixando claro que um é candidato-robô, só
para cobrir a vaga do inelegível. Lula diz: “Eu, Lula, sou Haddad”. E
Haddad, no melhor estilo dos antigos filmes de Tarzan (“Me Tarzan, you
Jane”), responde: “Eu, Haddad, sou Lula”.
Haddad não é Lula,
Lula não é Haddad (nem ele tem por si próprio tanta veneração quanto a
que Haddad lhe dedica). Mas não faz mal: supõe-se que Haddad não faça
com Lula o que Dilma fez, ao disputar a reeleição sem ceder a vaga para
ele. E Haddad, um político menos afoito, não terá a ousadia de liderar o
PT. Mesmo se fosse eleito, seria um robô de Lula.
Os bens da família
Afinal, a quanto
monta o patrimônio da família de Lula? Aqui estão os números oficiais,
expostos pelos advogados da família no inventário de Marisa Letícia,
esposa do ex-presidente. No inventário não consta o apartamento tríplex,
que Lula sempre negou lhe pertencer; nem o sítio de Atibaia, que
segundo o ex-presidente pertence a amigos que o convidam permanentemente
para ali se hospedar e se comportar como se fosse dele. Os bens
imóveis, de acordo com a lei, são avaliados pelo valor venal, que
raramente coincide com o valor de mercado.
É muito, é pouco?
Veja a íntegra do documento com o arrolamento dos bens a dividir,
elaborado pelo escritório Teixeira, Martins Advogados, neste link.
Ao fazer as contas, não esqueça que um presidente pode acumular mais
bens do que alguém com o mesmo salário, pois suas despesas correm por
conta do exercício do cargo. Sem raiva, sem ódio: faça sua análise.
Sem Tesouro, sem partido
O cientista político
Jairo Marconi Nicolau, professor da Universidade Federal do Rio, calcula
que os atuais 35 partidos políticos brasileiros se transformem em uns
20, isso já no ano que vem. Motivo: para ter acesso ao Fundo Partidário
(a caverna do Tesouro que explica por que há tantos partidos no país), a
legenda terá de alcançar 1,5% dos votos para deputado federal. Esta
campanha é curta; apesar de tantos políticos desmoralizados por
escândalos de corrupção, muitos vão se reeleger porque são veteranos e
seu nome é lembrado. O provável aumento de abstenções, brancos e nulos
dificultará a tarefa de quem não é conhecido. E qual o interesse de
muitos donos de partidos em mantê-los sem ter o Abre-te Sésamo da
riqueza?
O papel da elite
Não, Zeina Latif não
faz parte de grupos para quem a culpa de tudo é “da zelite”. É uma das
mais respeitadas economistas da nova geração. E, exatamente por ser
rigorosa em métodos e pesquisas, deve ser lida com atenção. Em excelente
estudo publicado pela Análise XP, da XP Investimentos, Zeina Latif
questiona a elite brasileira, mostrando as oportunidades que perdeu de
liderar o país para o desenvolvimento. Não vale a pena resumir: o melhor
é ler o texto (bem redigido, sem economês, do tamanho exato para
informar e analisar. Pode ser lido rapidamente) aqui.
Pegue menos, pague mais
Lembra-se daquela
história sem pé nem cabeça, de que a cobrança pelas bagagens iria
baratear as passagens aéreas? Pois é: baratear não barateou, não. As
passagens até subiram — e, além delas, o passageiro tem de pagar também a
passagem de sua mala. Nesta semana, a Gol aumentou em até 67% o preço
para enviar a primeira mala (eram R$ 30, foram para R$ 50). Isso caso o
passageiro opte pelo sistema mais barato, de reservar o envio pela
Internet. Se levar a mala para despacho no embarque, o preço foi de R$
60 para R$ 100. A propósito, as passagens subiram mais 7,9%.
É bom mas não pode
Um assíduo leitor
desta coluna sugere que se economize, modernizando a administração: cada
região metropolitana teria administração única, sem disputas internas; o
número de prefeitos, secretários, vereadores, assessores cairia
drasticamente. Mas, com menos cargos, como os partidos viveriam?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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