Estudo realizado pelo SPC mostra que 83% dos consumidores, no 1º
semestre, tiveram que conter despesas para poder enfrentar a crise
Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil/Agência Brasil
Por Yuri Abreu
As famílias brasileiras tem sentido no bolso os efeitos da crise que afeta o país. Para evitar impactos ainda maiores, principalmente nas receitas, muitas delas têm adotado estratégias para driblar esse momento conturbado. De acordo com um estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), uma delas foi a realização de cortes no orçamento.
Oito em cada dez consumidores tiveram que tomar a medida no primeiro semestre deste ano. Mais precisamente, de acordo com a pesquisa, 83% dos brasileiros fizeram contenção de despesas para driblar as consequências da crise ao longo deste ano – um aumento de 3,3% em relação a 2017. Não existem dados específicos por região ou estado, segundo a SPC Brasil. Foram ouvidos 886 consumidores em todo o país.
Contudo, a mesma pesquisa mostra que, entre sexos, 81,6% dos homens e 85% das mulheres tomaram essa decisão. Com relação a idade, quase 86% dos que tem 55 anos ou mais – e àqueles que tem entre 35 e 54 anos – cortaram gastos. O índice é menor naquelas pessoas que tem 18 e 34 anos: 79,6%. Quanto ao grupo social, 84,1% dos entrevistados das classes C, D e E afirmaram ter cortado gastos, contra 80,5% das classes A e B.
Entre os que cortaram gastos, 61% (um aumento de 4,3% em relação a 2017) cortaram ou reduziram refeições fora de casa – comportamento que apareceu com mais frequência entre os brasileiros de mais alta renda, com 74% de citações (na categoria C, D e E esse índice foi de 57,6%). As mulheres (62,8%) e pessoas acima dos 55 anos (64%) foram as que mais modificaram este hábito por causa da crise.
Outros cortes comuns no período foram os de roupas, calçados e acessórios (57%), itens que não são de primeira necessidade em supermercados, como carnes nobres, congelados, iogurtes e bebidas (55%) e gastos de lazer, como cinema e teatro (53%). Também foram citadas nesta pesquisa viagens (52,9%) e saídas a bares, baladas e casas noturnas (50,5%). Há ainda 30% de entrevistados que para conseguir algum dinheiro tiveram de vender algum bem.
“Antes da crise, eu preferia, quando ia ao supermercado, de sempre comprar os produtos de marca, pois a qualidade deles era superior. Mas, tive que me adaptar a nova realidade e passei a comprar produtos principalmente em promoções”, disse a dona da casa Analice Bezerra. “Hoje em dia, eu procuro economizar, por exemplo, levando a marmita de casa para almoçar na rua, já que passo o dia fora. É uma forma de poupar dinheiro para o supermercado, por exemplo”, contou o administrador Renato Loureiro.
Maioria ainda não sente melhora na economia
Ainda conforme o estudo, 77% dos brasileiros declararam que ainda não sentem os efeitos da melhora da economia no seu cotidiano, seja nos preços dos bens e serviços, juros, emprego ou consumo. Segundo apuração, entre esses entrevistados, 77% consideram que os preços continuam aumentando, ao mesmo tempo em que 56% pensam que as taxas de juros estão muito elevadas.
Já outros 54% argumentam que o mercado de trabalho segue sem contratar. Além disso, 57% das pessoas ouvidas disseram que ficaram desempregados ou tiveram algum membro da família que perdeu o emprego nos últimos meses.
Por outro lado, 23% dos entrevistados relataram já sentir no próprio bolso os efeitos de melhora na economia. Nesse caso, 47% justificam sua posição dizendo que as pessoas voltaram a consumir, enquanto 36% consideram que a criação de novas vagas está aumentando, apontando um cenário de positividade já neste ano.
“O Brasil passou por uma das recessões mais longas de sua história, com 11 trimestres consecutivos de retração no produto interno bruto. Hoje, mesmo com a inflação controlada, fica a impressão de que a economia do país está emperrada e isso só vai mudar quando o ritmo de crescimento se tornar mais vigoroso e a confiança for recuperada” explicou a economista-chefe da SPC Brasil Marcela Kawauti.
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