Coluna de Carlos Brickman, publicada nos jornais de domingo:
Está ruim: políticos
importantes merecidamente presos, outros ainda não. Governo fraco, nas
mãos de congressistas que só têm força na hora de buscar vantagens
pessoais. Carlos Marun é ministro. Gleisi comanda o PT.
Está ruim, mas pior
ainda é essa campanha para culpar os cidadãos pela sem-vergonhice e
corrupção nos altos escalões. Coisas do tipo “ah, você é contra o
desrespeito às leis, mas já estacionou em lugar proibido”, “prestou um
serviço e recebeu por fora”, “reclama da falta de educação dos outros,
mas já jogou embalagem de chocolate na rua”. Ou seja, a bandalheira dos
poderosos nasce de sua falta de correção ao pegar um envelopinho a mais
de açúcar na hora do cafezinho. Jogar papel de bala na rua e ordenhar as
estatais é mais ou menos a mesma coisa. Seríamos malandros
incorrigíveis, enquanto japoneses, suecos e coreanos cumpririam seus
deveres cívicos.
Só que não. Há
tempos, o notável articulista Mauro Chaves perguntou por que o
brasileiro, na Suíça, não jogava maço de cigarros vazio no chão,
enquanto, no Brasil, os suíços não se davam ao trabalho de procurar a
lata de lixo. O motivo era simples: é que lá tem polícia. As altas
multas educam o cidadão pelo bolso. O cidadão, aqui e lá, sabe o que lhe
é conveniente.
Há brasileiros
influentes na política americana de banda larga, na saúde canadense, no
comércio libanês, na expansão das exportações chinesas. Sem complexo de
vira-latas: ruins são os governantes, não os governados.
Tem de ser fraco
O executivo Pedro
Parente, em dois anos, recuperou a Petrobras. Foi um processo doloroso,
já que era preciso, além de gerir o presente, descobrir e pagar os
rombos do passado. Houve acordos com credores e acionistas, os
investimentos foram retomados, a Petrobras voltou a ser lucrativa — o
que é essencial se quiser captar recursos para se desenvolver. Até Luiz
Marinho, o mais petista dos petistas, candidato do PT ao Governo
paulista, admitiu que Dilma tinha perdido a mão no comando da Petrobras.
Parente sofria um processo de fritura. Afinal, que é que fazia um
executivo como ele num Governo que tem Eunício como expoente? Pediu
demissão. Caiu ele, caíram as ações da Petrobras. O investidor cuida de
seu dinheiro.
Dinheiro fujão
Depois do acordo do
Governo com as empresas de transporte — que os jornais chamam de
“caminhoneiros”, como se um caminhoneiro pudesse ficar nove dias sem
trabalhar — começou a discussão: onde o Tesouro iria buscar recursos
para cobrir todas as concessões oficiais? Houve gente que listou fontes
de recursos (insuficientes, mas pelo menos sairiam das mordomias
oficiais): fim dos penduricalhos que multiplicam vencimentos de
funcionários e os colocam muito acima do teto constitucional; fim das
viagens em jatinhos da FAB; fim do seguro-saúde ilimitado e permanente
dos parlamentares; e assim por diante. Mas isso não vai dar certo. Esta
coluna teve acesso a uma lista, em papel timbrado do Tribunal de Justiça
do DF e Territórios, com 401 linhas contendo nomes que receberiam, cada
um, R$ 437.773,00, a título de auxílio-moradia atrasado. Faça um teste
de aritmética: R$ 437.773,00 x 401. E responda: como pagar essas contas?
Dívida no alto
Essas contas não são
pagas: o Governo pega dinheiro emprestado para honrá-las. O que faz, na
verdade, é transferir a quantia para a dívida pública, mais juros,
despesas, etc. Todos os etc. que der para imaginar. Resultado: a dívida
pública federal subiu 27% desde o início do Governo Temer, informa Lauro Jardim.
Alcançou o estonteante total de 3 trilhões, 658 bilhões de reais. Mas
Temer não é o único gastador: do último dia do Governo Fernando Henrique
até hoje, Governos Lula e Dilma, a dívida pública subiu 412%.
Luz, ele quer luz
Acredite: o
presidente Michel Temer diz que, durante a paralisação dos caminhões,
foi iluminado por Deus. Não deve ser verdade, claro. Se Deus o tivesse
iluminado, tão logo visse aquela imagem de mordomo de filme de terror
apagaria a luz. Bela Lugosi, Boris Karloff, Vincent Price — nenhum dos
astros de terror de Hollywood chegava aos pés de nosso presidente. E
vejamos as medidas tomadas pelo Iluminado para resolver seus problemas.
Segurança no Rio
Temer determinou a
intervenção de tropas federais para enfrentar os problemas de segurança
do Rio. Há quem diga que não aconteceu nada, mas aconteceu, sim.
Traficantes tomaram cinco estações do belo BRT, o ônibus de transporte
rápido construído para os Jogos Olímpicos. E montaram quiosques para a
venda de drogas ao longo do percurso.
Povo mais rico
Temer reajustou a
Bolsa Família em 5,67% a partir de 1º de julho. Atenção, beneficiários:
não é para sair por aí gastando feito loucos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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