Um grande político
baiano, Otávio Mangabeira, dizia que, por mais que um fato fosse
estranho, na Bahia havia precedente. No Brasil também: o único país do
mundo a ter Justiça do Trabalho e Justiça Eleitoral criou também três
Supremos Tribunais Federais. Um está na cabeça do ministro a quem o caso
é entregue, e que prende e solta a seu critério. Outro é o do plenário,
com os onze ministros que a Constituição determina. O terceiro é o das
turmas, cada uma com cinco ministros. Sabe-se que o ministro Edson
Facchin, ao ver que Lula seria solto pela Segunda Turma, decidiu levar
seu caso ao plenário, que o julgará depois das férias. Lula fica preso
até agosto ou setembro. Mas a Segunda Turma decidiu ontem soltar seu
braço direito, José Dirceu, que Lula chamava de “capitão do time”. O que
um fez, o outro sabia. Os recursos de ambos tinham o mesmo fundamento: o
STF autorizou a prisão de condenados em segunda instância, mas não a
tornou obrigatória. Dirceu foi solto; e Lula, se o recurso fosse julgado
pela Segunda Turma, talvez estivesse na rua em campanha, embora
inelegível, pois é ficha suja. Com Dirceu, foi libertado também João
Cláudio Genu, ex-tesoureiro do PP.
O Brasil tem ainda
outro precedente: muitos réus escolhem quem irá julgá-los. Alguns dos
condenados por tribunais regionais federais recorrem direto ao Supremo,
sem passar pelo STJ. Mas não se pode dizer que sempre ganharão por 3×2.
Ontem, por exemplo, Celso de Mello faltou. E foi 3×1.
O nosso Cristiano
Geraldo Alckmin é
contestado por Fernando Henrique, Aécio, Temer, Rodrigo Maia. Pode se
aproximar do DEM, mas não terá, por exemplo, o apoio de Ronaldo Caiado,
porque preferiu se aliar a Marconi Perillo, que Caiado conhece e prefere
ver longe. É contestado por Doria, que gostaria de ser o candidato; é
contestado por causa de Doria, já que tinha prometido apoio à
candidatura de seu vice, Márcio França, do PSB, mas se vê forçado a
acompanhar o candidato do PSDB. Corre o risco de disputar sozinho, ou
com o apoio de Marconi Perillo. E até nisso o Brasil tem precedente: em
1950, o candidato oficial Cristiano Machado foi abandonado pelo PSD, o
seu partido, o maior do país, que fez campanha pela volta do ex-ditador
Getúlio Vargas. Quando disserem a Alckmin que está sendo cristianizado,
talvez pense que o estão transformando em Cristiano Ronaldo. Mas estarão
pensando em Cristiano Machado e em sua campanha que não foi.
Surpresa!
O apresentador José
Luiz Datena, astro da Rede Bandeirantes, se dispõe a ser candidato ao
Senado pelo DEM paulista. Mas há no partido quem o queira mais alto:
como Luciano Huck, é bem visto pelo público, tem o dom da comunicação,
junta a condição de nome conhecido à de alguém que nunca participou da
política ─ em bom politiquês, a língua preferida dos especialistas no
setor, um outsider. Não tem escândalos. Por que limitar-se ao Senado?
Considerando-se que a grande estrela dos partidos de centro é Alckmin,
que não sensibiliza nem o presidente de honra de seu partido, há em
Datena um possível candidato à Presidência, com força em São Paulo,
Goiás, Bahia; capaz de atrair apoios que lhe deem tempo de TV e presença
na maior parte dos Estados; e de comandar um poderoso horário
eleitoral.
O som do silêncio
A eleição está
próxima, mas os candidatos podem mudar. Bolsonaro, em marcha ascendente,
terá pouquíssimo tempo de TV. Marina até poderia ser forte, mas não
montou estrutura para seu partido, a Rede. E também não tem tempo de TV.
Álvaro Dias, com base no Paraná, tem quase a mesma intenção de voto de
Alckmin; mas também tem pouco tempo de TV e pode preferir se aliar a
outro candidato. João Amoedo, do Novo, poderia ser a novidade na eleição
─ mas como mostrar a cara, sem tempo de TV e com campanha curta? Há o
PT: quem sai no lugar de Lula, Jaques Wagner, Haddad? Ciro é difícil:
Lula não passaria a liderança a outro partido. E Ciro tem tradição de
começar bem, impressionar bem e falar demais. A pergunta é: quem
conseguirá transformar-se na voz da maioria silenciosa?
Aqui, tudo igual
No Congresso nada
muda: apesar dos escândalos, deve haver muita reeleição. Não há tempo
(nem dinheiro) para fazer com que candidatos desconhecidos sejam
lembrados. O não-voto (nulos, brancos e ausências) crescerá, mas
candidato novo dificilmente conseguirá capturá-lo. Outra coisa que não
muda é o sistema de trabalho: nesta semana, o Congresso vai parar hoje,
por causa do jogo, e só volta a trabalhar na terça-feira que vem.
Tudo igual, também
Crise? Isso é para os
fracos. Deputados estaduais do Rio descobriram um projeto há anos
esquecido pelo qual 13 mil servidores da Justiça devem ter aumento extra
de 5%. A PM do Rio está pedindo doações para colocar suas viaturas em
ordem, mas não importa: que venha mais um aumento!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário