quinta-feira, 24 de maio de 2018

Protesto de caminhoneiros: falta de produtos e combustíveis atingem cidades baianas


O DEFENSOR
Os bloqueios em estradas estaduais e federais na Bahia, por parte dos caminhoneiros, estão custando aos produtores de leite do estado R$ 1,2 milhão em prejuízos. Ontem, 800 mil litros do produto deixaram de ser coletados nas fazendas.
Na Região Metropolitana de Salvador, a paralisação dos caminhoneiros fez com que um dos mais tradicionais centros de compras da cidade, a Feira de São Joaquim, passasse o dia com boxes fechados e poucas opções de frutas e legumes à disposição dos clientes. O vaivém e o burburinho de vendedores e clientes deram lugar a galpões esvaziados. No setor de hortifruti, a maioria dos boxes sequer abriu.
A BR-324, principal via de acesso a Salvador, foi bloqueada pelos manifestantes e produtos vindos do interior não chegaram à Ceasa, principal central de abastecimento que atende a capital.
 Sem oferta, os preços das frutas e legumes aumentaram. A saca de cebola subiu de R$ 60 para R$ 80 e da batata de R$ 60 para R$ 110.
Vendedores que compram produtos do Recôncavo  deram mais sorte: a produção chega pela Baía de Todos os Santos e não foi afetada pela greve. A paralisação fez aumentar a demanda por produtos da região.
Desabastecimento
Em cidades do sudoeste baiano, como Vitória da Conquista, e da região da Chapada Diamantina, como Jacobina, motoristas fizeram filas em postos de combustível para abastecer os carros, diante da baixa oferta de gasolina.
Em Conquista, a rede de postos São Jorge, com seis unidades na cidade, reservou o restante do combustível em estoque para abastecer ambulâncias, viaturas da polícia e do corpo de bombeiros.
“Estamos com dois caminhões com combustível que não conseguiram nem sair da distribuidora. O prejuízo é enorme”, diz o gerente da rede, Erval Arruda.
No setor leiteiro, os bloqueios nas estradas afetam mais de 200 laticínios.  “Essa manifestação está afetando o setor leiteiro todo. O leite está sendo perdido nas fazendas”, disse o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de Leite do Estado da Bahia, Lutz Viana Rodrigues.  As regiões onde mais se produz leite são o Sudoeste, Sul, Extremo Sul e nas imediações de Feira de Santana, no Sertão.
Em Itapetinga, no Sudoeste, a Cooperativa dos Produtores de Leite (Cooleite) informou que deixará de coletar 4 mil litros de leite hoje de 30 produtores em Itororó e Potiraguá porque o acesso via BA-130 está bloqueado.
A cooperativa tem seu próprio posto de combustível, mas o estoque só era suficiente até a noite de ontem. “Estamos vendo como fazer a coleta dos outros fazendeiros que ficam em locais onde não há bloqueios”, informou o presidente da Cooleite, Robson Viveiros Silva.
Caminhões parados
De acordo com o Sindicom, que representa as distribuidoras de combustíveis na Bahia, mais de 500 caminhões estão nos terminais e bases de combustíveis parados em São Francisco do Conde, Itabuna, Jequié, Juazeiro e Luiz Eduardo Magalhães.
Em Jequié, o litro da gasolina subiu para mais de R$ 5 em vários postos e, mesmo assim, carros e motos fizeram filas para abastecer.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) divulgou comunicado no qual manifesta sua “preocupação com os absurdos aumentos cobrados nas tarifas de energia elétrica e com as abusivas altas nos preços dos combustíveis”.
“Tudo com reflexos diretos na manutenção e geração de empregos e nos preços dos alimentos de subsistência e naqueles destinados à comercialização com o consumidor final”, acrescenta.
Prejuízos em todo o país
A greve nacional dos caminhoneiros já prejudicou a produção de 16 fábricas de carros e caminhões, conforme balanço da Anfavea, entidade que reúne as montadoras, obtido pela Folha de S. Paulo. Desde anteontem, já vinham paralisadas as plantas da Ford, em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), e da General Motors, em Gravataí (RS) e São Caetano (SP).
Com a continuidade da greve, no entanto, o problema se agravou muito. Ontem, mais 11 fábricas pararam pelo menos um turno. O setor automotivo, que representa 4% do PIB e 20% da indústria, é extremamente dependente do transporte por caminhões, tanto para transportar peças quanto os veículos até as concessionárias.
A paralisação  suspendeu as atividades de 91 mil trabalhadores de plantas industriais de carne bovina, suína e de aves, ontem. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), há 129 plantas paradas em todo o país, principalmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Além disso, os Correios anunciaram a suspensão dos serviços de Sedex, enquanto perdurar a greve nas estradas do país.
Em cidades como  Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, a falta de óleo diesel compromete o transporte público.
Petrobras reduz preço do diesel
O presidente Michel Temer tentou. Pediu, literalmente, “uma trégua”, em suas palavras, “de dois ou três dias” para os caminhoneiros. A Petrobras sinalizou com uma redução temporária de 10% no preço do diesel, que poderá ter um impacto de R$ 0,25 nas bombas. Mas os caminhoneiros se mantiveram ontem irredutíveis e decidiram manter os bloqueios nas estradas de todo o Brasil no dia de hoje.
O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, disse que a paralisação dos caminhoneiros vai continuar porque o governo não avançou nas propostas para a categoria, além do fim da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Ao deixar uma reunião com Temer, no Planalto, Bueno afirmou que durante a reunião, os ministros mais justificaram a impossibilidade de atender à demanda do que apresentaram contrapropostas. Um novo encontro foi marcado para hoje.
Na tentativa de facilitar o entendimento, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, reuniu a imprensa  para anunciar a decisão  de congelar o preço do diesel. Ele foi enfático, porém, ao reafirmar a decisão da empresa de manter a política atual de acompanhar o mercado internacional, com revisões diárias, após esse período.
Segundo o executivo, o prazo de 15 dias é suficiente para o governo negociar com os caminhoneiros. Passado o período, a companhia voltará a acompanhar as Bolsas estrangeiras da commoditty, porém, deve demorar mais tempo do que isso para chegar à paridade. “São 15 dias para desanuviar o ambiente e para poder trabalhar”.
Parente negou que a medida tenha impacto sobre o programa de desinvestimento e nas ações.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que vai tentar votar o quanto antes o projeto da reoneração da folha de pagamento para alguns setores da economia. Maia chegou a dizer que tentaria aprovar a mudança ainda ontem. A proposta incluirá redução da alíquota do PIS-Cofins incidente sobre o óleo diesel.
Maia disse que, na reunião, ele prometeu votar a redução do PIS-Cofins e, na próxima semana, “avançar” na votação da regulamentação do transporte de cargas, tema que também interessa aos caminhoneiros.
Relator do projeto da reoneração, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) disse estar trabalhando em seu parecer para que a proposta seja votada o quanto antes.  Pelos cálculos de Silva, somando o corte na alíquota do PIS-Cofins com a possível redução a zero da Cide, será possível alcançar até 9% de redução no preço do diesel.
Pelo menos 15 cidades baianas tiveram bloqueios
Caminhoneiros ocuparam uma faixa de cada sentido da BR-324, na altura do Makro, durante boa parte do dia de ontem.  A categoria, com a orientação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), decidiu ocupar apenas uma faixa dos sentidos Salvador e Feira de Santana. As outras faixas foram liberadas para carros de passeios, micro-ônibus, vans e ambulâncias.  A intenção era fazer com que os caminheiros parassem para aderir à manifestação.
No interior, foram registrados bloqueios em Ipiaú, Itatim, Senhor do Bonfim, Capim Grosso, Itabuna,  Gandu, Presidente Tancredo Neves, Seabra, Itaberaba, Vitória da Conquista, Poções, Alagoinhas, Feira de Santana e Jequié. A Concessionária Bahia Norte também registrou três pontos de retenção ao longo do Sistema de Rodovias BA-093.
Segundo o portal G1, ontem a BRF conseguiu uma liminar da Justiça Federal proibindo o bloqueio em rodovias baianas de caminhões pertencentes ou contratados pela empresa de alimentos. A empresa aponta “flagrante violação ao direito de ir e vir e ao exercício da atividade empresarial” com os bloqueios.
Correio

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