Alguns palpites da Gazeta do Povo sobre quem ganhou e quem perdeu com a paralisação dos caminhoneiros:
A paralisação dos
caminhoneiros desencadeou uma corrida entre os políticos para ver quem
conseguiria faturar politicamente com a crise, por pior que isso possa
parecer. O que se viu nos últimos dez dias, desde que a greve começou,
foi uma série de opiniões precipitadas e equivocadas, mas também
acertadas, sobre como solucionar o problema e atender às demandas dos
motoristas de carga. Qualquer ocasião serviu: eventos, entrevistas,
discursos.
Nesta quarta-feira (30), pela primeira vez, a paralisação começou a dar sinais de enfraquecimento.
Resta saber como isso irá se refletir nas urnas em outubro. Quem terá
mais sucesso, só em algumas semanas para avaliar. Leia a seguir alguns
palpites sobre quem perdeu e quem mais ganhou com a greve dos
caminhoneiros.
Quem perdeu
Michel Temer
O presidente Michel
Temer (MDB) sofreu um forte abalo político com a greve dos
caminhoneiros. A oposição usou a oportunidade para ampliar as críticas à
política econômica da gestão dele. E até aliados aproveitaram o momento
para discordar do governo. Logo no momento em que ele completava dois
anos de gestão, com bons índices na economia: controle da inflação,
baixa histórica na taxa de juros e retomada do crescimento, ainda que
tímido.
A incapacidade de seu
governo de prever a paralisação e de negociar com os motoristas de
carga a tempo de evitar maiores danos à população ficou evidente. O caos
da falta de combustível e de desabastecimento em supermercados
seguramente desgastou ainda mais a imagem de Temer, que hoje só agrada
6% dos brasileiros – o mais baixo índice de aprovação desde a
redemocratização.
Rodrigo Maia
Pré-candidato à
Presidência da República, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) tentou largar
na frente na crise com os caminhoneiros e faturar politicamente em cima
disso, mas queimou a largada. Primeiro anunciou na internet que o
governo ia zerar a Cide sobre os combustíveis para tentar conter a alta
de preços. No dia seguinte, precisou retificar que o fim do tributo
valeria apenas para o diesel e quase foi desmentido pelo ministro da
Fazenda, Eduardo Guardia, que foi pego de surpresa pelo anúncio feito
pelo presidente da Câmara.
No último dia 23,
quando a mobilização dos caminhoneiros demonstrou um poder de alcance
até então inimaginável e as consequências começaram a aparecer, Maia
desengavetou o projeto de lei que reonera a folha de pagamento de
empresas de vários setores produtivos. Articulou a inclusão de uma
emenda que isenta o óleo diesel do PIS/Cofins, manobra que foi avalizada
pelos demais deputados, mas não pelo governo.
As contas divergiam.
Enquanto Maia sustentava que o impacto fiscal seria de R$ 3,5 bilhões,
ministros colocavam um rombo na casa dos R$ 16 bilhões. No dia seguinte,
o deputado precisou vir a público com uma revisão de seus cálculos, que
agora mostravam uma redução de R$ 9 bilhões na arrecadação com a
isenção aprovada.
Foi ridicularizado
nos bastidores do governo e até pelos próprios deputados. Resolveu sair
de cena no restante da semana, enquanto, no Palácio do Planalto, era
assinado um acordo com parte das lideranças do movimento. O documento
ignorou a questão da incidência de PIS/Cofins sobre os combustíveis.
Eunício Oliveira
Se Maia agiu com
precipitação, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), pecou
pela paralisia. O político cearense estava ao lado do presidente da
Câmara no vídeo em que se anunciou a isenção da Cide, mas depois cometeu
um erro capital.
Na quinta-feira (24),
um dia após a Câmara aprovar a reoneração com o fim do PIS-Cofins sobre
o diesel, o senador se ausentou de Brasília em meio à crise de
desabastecimento do país provocada pela greve. Eunício viajou ao seu
estado para inaugurar uma obra de importância secundária, em Fortaleza.
Foi duramente
criticado pelos caminhoneiros, que esperavam que ele articulasse
rapidamente a votação do projeto encaminhado pela Câmara. Diante da
repercussão negativa, voltou rapidinho para a capital federal e à noite
participou do anúncio do primeiro “acordo” fechado pelo governo com os
grevistas. "Os ministros estavam me esperando antes de assinar. Queriam
que eu participasse do pronunciamento no Palácio do Planalto", disse o
senador na noite de quinta (24). Mas o acordo acabou fracassando.
Eunício conseguiu
limpar a própria barra na última terça-feira (29), quando finalmente
colocou em votação a proposta de reoneração, essencial para que o
governo cubra parte do rombo que virá com as concessões aos
caminhoneiros – na noite de domingo (27), Temer anunciou uma redução de
R$ 0,46 no diesel nas bombas de combustível. O projeto foi aprovado
facilmente e restou a Temer a tarefa de vetar o artigo que fala da
isenção do PIS-Cofins sobre o diesel e assumir o desgaste político.
Henrique Meirelles
Ex-ministro da
Fazenda de Temer, Henrique Meirelles (MDB) assistiu de camarote a crise
no governo. Contudo, não pôde comemorar muito. Há quem coloque nele a
culpa pela disparada dos preços dos combustíveis, que desencadeou a
greve dos motoristas de frete. Apesar de não fazer mais parte do
governo, Meirelles participou de parte das reuniões do fim de semana do
comitê de crise montado no Planalto. Pré-candidato presidencial pelo
MDB, ele dificilmente escapa das chamas que fritam politicamente o
presidente Michel Temer.
Jair Bolsonaro
Pré-candidato à
Presidência, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) foi outro que tentou
faturar politicamente com o movimento grevista. Ele se apressou em ir às
redes sociais apoiar a paralisação, após inicialmente criticar as
manifestações com obstrução de vias. E afirmou que, caso vença a eleição
de outubro, irá anistiar os caminhoneiros que tenham sido multados ou
presos por causa a greve. “Qualquer multa, confisco ou prisão imposta
aos caminhoneiros por Temer/Jungmann será revogada por um futuro
presidente honesto/patriota”, publicou no Twitter, no domingo (27).
Ia tudo bem até vir a público, na segunda-feira (28), que Bolsonaro é autor de um projeto de lei na Câmara que pune com até quatro anos de cadeiaquem impedir ou dificultar o trânsito de veículos e pedestres nas vias públicas. A proposta foi apresentada em agosto de 2016.
“A proposição é
pautada na necessária preservação dos direitos individuais e coletivos
dos cidadãos, vítimas de ações irresponsáveis daqueles que desprezam as
liberdades do outro quando da busca de suas demandas sociais”, escreveu
Bolsonaro na justificativa do projeto. Pegou mal para ele.
Quem ganhou
Márcio França
O governador de São
Paulo, Márcio França (PSB), foi o primeiro chefe de Executivo estadual a
assumir sua responsabilidade na tentativa de encontrar uma solução para
a greve dos caminhoneiros. A alta no preço do diesel, a maior
insatisfação dos motoristas de caminhão, é resultado também da
incidência de ICMS, um imposto estadual, cujas alíquotas variam bastante
de estado para estado. Num momento em que o próprio Palácio do Planalto
convocava os estados a se posicionarem, a maioria se calou sobre a
crise, como se tivessem nada com isso.
No sábado (26), dois
dias após o fracasso das negociações com o governo federal, França
chamou líderes dos caminhoneiros para conversar. Não se comprometeu a
mexer no ICMS, mas prometeu suspender o pedágio por eixo suspenso em São
Paulo, com a condição de o governo federal arcar com o custo. Essa
medida começa a vigorar nesta quinta-feira (31).
O governador paulista
apresentou essa saída ao Planalto, que foi incluída no último pacote de
benesses para os caminhoneiros, anunciada no domingo. O gabinete de
crise montado em Brasília não deu crédito para França. Nem precisava
mais. França é candidato à reeleição em São Paulo.
Romero Jucá e Randolfe Rodrigues
Sem muito esforço, os
senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Romero Jucá (MDB-RR), líder do
governo no Senado, tiveram a coragem de comprar uma briga com os
estados – mesmo que, por enquanto, simbolicamente. Eles apresentaram uma proposta que fixa um teto para a cobrança de ICMS sobre combustíveis nos estados.
Ao se justificarem, afirmaram que seus estados sofrem com a alta nos
preços dos produtos devido a distância. A redução do imposto tende a
baratear os preços da gasolina, etanol e diesel.
Eles garantem que o
projeto será analisado nas próximas semanas pelo Senado e não vão perder
a oportunidade de exaltar a ideia o quanto puder. Principalmente Jucá,
que como líder do governo tem visibilidade garantida. Resta saber se,
com o arrefecimento da paralisação, o teto do ICMS vai mesmo prosperar
na Casa.
Raul Jungmann
Deputado federal
licenciado do PPS, Raul Jungmann não será candidato na eleição deste
ano. Mesmo assim, se saiu bem durante a crise dos caminhoneiros.
Ministro da Segurança Pública, ele foi de longe a voz mais sóbria em
meio ao caos instalado. Agiu com sobriedade e transparência nas
coletivas de imprensa.
Foi o primeiro a falar sobre a suspeita de locaute no movimento,
quando empregadores fazem greve, o que é proibido por lei. Destacou a
Polícia Federal para investigar empresários e incentivou a atuação das
Forças Armadas nos comboios para transportar medicamentos e outros
produtos essenciais. E ainda acompanhou de perto as ações da Polícia
Rodoviária Federal a desobstrução de estradas e nas negociações com os
motoristas em greve.
Internamente,
Jungmann saiu mais forte desse episódio, principalmente após o fracasso
do setor de inteligência do governo, subordinado ao Gabinete de
Segurança Institucional, do general Sergio Etchegoyen, que foi incapaz
de prever a crise.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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