quarta-feira, 30 de maio de 2018

Arrecadação cai 30% e São João fica ameaçado em cidades baianas


O DEFENSOR
Faltando menos de um mês para o São João, o destino da maior festa do Nordeste do país ainda é incerto este ano. Devido à paralisação nacional dos caminhoneiros, que entra no 10º dia nesta quarta-feira (29), os prefeitos já não têm certeza se os arraiás serão mantidos. Até o momento, 30% da arrecadação dos municípios foi comprometida pela greve.
Segundo o presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Eures Ribeiro, a paralisação dos caminhoneiros está tirando o sono dos prefeitos e obrigando os gestores a encurtar e, em alguns casos, até mesmo cancelar a festa.
Em Bom Jesus da Lapa, onde Eures é prefeito, a festa de São Pedro seria de três dias, mas foi reduzida para dois. Além disso, algumas bandas foram dispensadas, o que deve gerar economia de 40% nas despesas. Mesmo assim, o presidente da UPB acredita que, após as festas, os prefeitos terão que fazer demissões, corte de horas extras e suspender serviços.
Ele contou que em Porto Seguro, Sul da Bahia, a festa foi cancelada e que alguns prefeitos não conseguiram fazer a inscrição para receber a ajuda de recurso do governo do estado para o São João. O motivo: não tem combustível para vir à capital. “Conversei com o governador e o prazo foi estendido até o dia cinco”.
Alguns municípios estão com atraso na entrega dos equipamentos para montagem dos palcos. Outras cidades remarcaram ou cancelaram festas por falta de combustível para os geradores ou porque temem que a queda na arrecadação tributária comprometa os pagamentos.
Reserva
O prefeito de Irecê, Elmo Vaz (PSB), contou que dois eventos que estavam programados para acontecer na cidade esta semana precisaram ser revistos. Um deles foi cancelado e o outro foi adiado por falta de combustível.
“Sentimos a queda na arrecadação e no comércio, com os patrocinadores. O São João não corre o risco de ser cancelado porque as bandas já foram pagas e já foi licitada a empresa que fará a montagem da estrutura, mas estamos preocupados porque os equipamentos vêm de fora da cidade, pelas estradas”, afirmou.
Na segunda, o município decretou estado de emergência. Apenas os serviços essenciais estão sendo mantidos, como o de hemodiálise, ambulâncias e viaturas. As aulas não foram suspensas, mas a merenda e o gás só têm estoques para mais uma semana.
Remarcado
O São João de Senhor do Bonfim, no Centro Norte do estado, é um dos mais famosos do estado, e começa cerca de um mês antes da data. Este ano, os tradicionais forrós de bairro tiveram que ser remarcados por conta da falta de combustível.
Segundo o secretário municipal de Cultura, Rodrigo Wanderley, um comitê foi montado nesta segunda para acompanhar a greve. Ele afirmou que a festa não está ameaçada e que a medida foi uma precaução. Cerca de 80% dos mil leitos de hospedagem da cidade já estão reservados.
“Antes da festa maior acontecem outras menores, os forrós de bairro. No último sábado teria o primeiro deles, mas nós remarcamos para a próxima sexta porque não tinha combustível para o gerador. Agora, teremos que remarcar novamente, ele e o que estava previsto para acontecer no próximo sábado”, disse.
O secretário contou que o palco principal leva 15 dias para ser montado e, por isso, a obra precisa começar na próxima semana. A empresa responsável pela estrutura disse que vai obedecer o prazo, se a greve terminar nos próximos dias. “Se demorar mais de uma semana a coisa vai pegar”.
Atraso
Em Amargosa, no Sudoeste do estado, os equipamentos usados na montagem dos palcos já deveriam ter chegado, mas até agora nada. Segundo o prefeito Júlio Pinheiro (PT), o atraso na entrega do material está sendo provocado pelo bloqueio nas estradas. Ele tem esperança de que tudo esteja resolvido nos próximos dias.
“As estruturas de som, palco e iluminação ainda não chegaram devido a paralisação, mas, por enquanto, a festa de São João está mantida. Esperamos que essa semana tudo se resolva e que tanto os equipamentos como os insumos da festa cheguem. Caso a greve se estenda para além dessa semana, aí ficaremos mais preocupados”, disse.
A cidade também foi afetada pela falta de combustível e alimentos. Na última sexta-feira, o prefeito decretou situação de emergência e criou um comitê de crise para acompanhar os desdobramentos da paralisação dos caminhoneiros.
As aulas foram suspensas, e na área da saúde estão em funcionamento apenas as transferências hospitalares e o serviço de hemodiálise. Nesta terça, dois comboios com combustível foram escoltados até os postos do município. Segundo o prefeito, 30% do material será usado em ambulâncias, viaturas e nos carros da coleta de lixo, e os outros 70% foram disponibilizados para os consumidores comuns.

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