"Se Rosa Weber e o STF
sucumbirem ao apadrinhamento político, Lula não será o único
beneficiado. O que está jogo esta semana não é só a prisão daquele que,
por um projeto de poder, atrasou o Brasil e seu potencial como nação
séria em décadas, mas também a prisão de outros tantos ladrões,
assaltantes, assassinos, estupradores, pedófilos e corruptos que poderão
também usar a jurisprudência criada. O efeito cascata pode ser
devastador para o Brasil que trabalha, produz, estuda e sabe a diferença
entre o certo e o errado, o justo e o injusto, o moral e o imoral". Ana Paula Vôlei,
retornando hoje ao Estadão, sobre o crucial papel da ministra Rosa
Weber na sessão de quarta-feira do STF. Convém lembrar que ela vem da
ideologizada Justiça do Trabalho, além de ter nascido em uma das mais
ideologizadas cidades do Rio Grande do Sul, que é Santa Maria:
Já terminou o verão e
meu coração bate outra vez com esperanças. Não vou me queixar às rosas,
aprendi com Cartola que as rosas não falam. O mundo é um moinho que
“vai reduzir as ilusões a pó”, mas sou brasileira e não desisto nunca.
Nem do STF.
Para o eterno
menestrel da Mangueira, as rosas não falam mas “exalam o perfume que
roubam de ti”. Nesta quarta, quando a ministra Rosa Weber, a mais
discreta representante da atual Suprema Corte, tomar sua decisão sobre o
HC de Lula, o país inteiro poderá sentir o aroma que será exalado da
Praça dos Três Poderes. Haja fôlego.
Lula não está preso
apenas por uma decisão provisória do STF, já que todos os ritos
processuais e recursos da segunda instância aparentemente estão
esgotados. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que já havia
mantido a condenação da primeira instância por três votos a zero,
rejeitou os últimos embargos, embargos dos embargos e mais todo leque de
artimanhas criadas pelos caríssimos advogados à disposição da “alma
mais honesta do país”. Falta pouco, mas ainda há muito para acontecer.
A chave da cela está
nas mãos de uma corte formada por onze ministros, sendo que três deles
foram indicados ao cargo pelo réu. Ricardo Lewandowski, que por uma
dessas ironias do destino presidiu a sessão do impeachment da
companheira rasgando o artigo 52 da Constituição e a Lei 1.079 para
preservar seus direitos políticos; Dias Toffoli, ex-advogado da CUT, do
PT e do próprio Lula; e Carmem Lúcia, a presidente do STF. Outros quatro
vestem a toga preta mais poderosa do país por indicação de Dilma: Luiz
Fux, Luís Roberto Barroso, Luiz Edson Fachin e Rosa Weber, que atuou
durante toda carreira na ultra-ideologizada Justiça do Trabalho. Caso
encerrado? Quero crer que não.
Ao todo, sete dos
onze ministros que podem decidir o destino de todos os condenados em
instâncias inferiores foram colocados lá por uma dupla com sérios
problemas com a justiça e que fazem parte de um projeto de poder cuja
essência a Lava Jato não deixa mais dúvida. O julgamento de Lula não
deixa de ser um desafio às instituições do país, que passou no teste do
impeachment de Dilma mas que agora vive sua provação mais importante. Em
breve, vamos descobrir se todos são iguais mas, como disse George
Orwell, se alguns são mais iguais do que outros.
Muito pode acontecer
nesta quarta, inclusive nada, mas isso não é desculpa para passividade
ou negligência de cada um de nós. Amanhã, dia 3, os brasileiros que
querem que as leis sejam aplicadas igualmente para todos, que querem
virar a página da impunidade e de um governo nefasto que pilhou os
recursos do país por quase quinze anos, uma conta que vamos levar ainda
gerações para pagar, vão para as ruas pedir justiça. A convocação é
auto-explicativa: “ou você vai ou ele volta”. Você escolhe.
Vale lembrar que Rosa
Weber era conhecida na época da sua escolha, segundo matérias
publicadas na imprensa, por ser amiga pessoal de Dilma Rousseff e por
“levar em conta as repercussões sociais das suas decisões”, uma ressalva
ideológica muito preocupante. Antonin Scalia, juiz da Suprema Corte
Americana falecido em 2016, costumava dizer: “um juiz que sempre fica
feliz com o resultado das suas sentenças é um mau juiz”. Defensores da
letra fria da lei como Scalia são cada vez menos populares em cortes de
ativistas e militantes como as nossas.
O Brasil vive uma
crise profunda nas suas instituições e o mal que os governos petistas
causaram ainda levará gerações para ser tratado, mas a hora de começar é
agora. Se Lula é condenado mas não é preso, a mensagem passada para o
cidadão comum é a pior possível. Quando se soma a tudo isso a maneira
como os mais jovens estão sendo doutrinados para entender a crise, temos
a própria democracia em cheque. Sem instituições que funcionem, podemos
votar em quem quisermos para presidente que não fará qualquer
diferença. Ou Lula vai para a cadeia, libertando o país da pecha de
republiqueta de bananas, ou teremos mais uma vez a certeza de que a lei
não é para todos.
Se Rosa Weber e o STF
sucumbirem ao apadrinhamento político, Lula não será o único
beneficiado. O que está jogo esta semana não é só a prisão daquele que,
por um projeto de poder, atrasou o Brasil e seu potencial como nação
séria em décadas, mas também a prisão de outros tantos ladrões,
assaltantes, assassinos, estupradores, pedófilos e corruptos que poderão
também usar a jurisprudência criada. O efeito cascata pode ser
devastador para o Brasil que trabalha, produz, estuda e sabe a diferença
entre o certo e o errado, o justo e o injusto, o moral e o imoral.
A mais alta corte do
Brasil pode perder esta semana mais uma chance histórica de mudar nossa
trajetória de impunidade e clientelismo. Espero que lotemos as ruas
amanhã para protestar contra a blindagem à corrupção, causa maior do
Estado não ter recursos para resolver nossas eternas mazelas na área da
saúde, educação e segurança. Lula embargou o Brasil, cabe a cada um de
nós recorrer e lutar por justiça.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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