
O destino do país está nas mãos de Rosa Weber
Carlos Newton
Nesta terça-feira, dia 3, enquanto o país se prepara para o julgamento
do habeas corpus do ex-presidente Lula da Silva pelo Supremo Tribunal
Federal, o ministro Gilmar Mendes não está nem aí. Pela manhã, às 9
horas em Lisboa (ou seja, às 6 horas em Brasília), ele abre o VI Fórum
Jurídico, que é organizado pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Instituto
Brasiliense de Direito Público (IDP), o curso universitário do qual o
ministro é fundador e sócio principal. A seu lado, o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, participaria do evento e sua palestra
aborda o tema “Estado Social e os desafios da economia moderna”. Mas
será que Meirelles foi?
Na manhã do dia 5, quinta-feira, Gilmar Mendes está programado para ser
moderador do último painel e depois comandar a sessão de encerramento,
com participação do presidente Marcelo Rebelo de Souza. O político
português foi convidado pessoalmente por ele para prestigiar o evento
binacional, que por coincidência é patrocinado pela empresa Itaipu, onde
trabalha a advogada Samantha Meyer, ex-mulher do ministro do Supremo.
PÉ NO JATO – Esta
agenda mostra que, se realmente quiser participar do julgamento do
habeas corpus de Lula, o ministro Gilmar Mendes terá de tomar um avião
nesta terça-feira, porque o voo leva cerca de 10 horas, o que significa
entre 13 e 14 horas perdidas, entre idas e vindas aos aeroportos.
Os jornais disseram que o ministro
estará a postos, apesar do “jet leg” que sempre o incomoda, conforme ele
próprio já admitiu. Mas será um esforço em vão, porque o habeas corpus
preventivo de Lula não dependerá da presença dele, que somente será
fundamental se também for logo discutida a prisão após segunda
distância, que é o prato de resistência do julgamento, digamos assim.
O placar, sem Gilmar Mendes, indica 5 a
4 para a prisão de Lula, como Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz
Fux, Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia, a favor; e Marco Aurélio Mello,
Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Celso de Mello, contra. E fica
faltando o voto de Rosa Weber, a Esfinge de Brasília.
EMPATE PRÓ-LULA – Se
Gilmar Mendes estiver presente, ocorrerá o empate, em 5 a 5, e Rosa
Weber então decidirá, fazendo as vezes de Minerva, mas sem presidir a
sessão. Se a ministra gaúcha votar a favor de Lula, o habeas corpus
estará concedido por 6 a 5. Sem a presença de Gilmar Mendes, nada
mudará, porque o empate de 5 a 5 dá a vitória a Lula (“in dubio pro
reo”, diz o Direito Romano).
Detalhe importante: no julgamento que
decidiu a nova jurisprudência, em 2016, Rosa Weber votou contra a prisão
após segunda instância, e Gilmar Mendes votou a favor, dizendo que não
mundo civilizado não há nenhum país que não adote essa prática.
Mas agora o ministro mudou de idéia,
porque a prisão passou a ameaçar seus amigos do PSDB e do MDB. Com a
maior desfaçatez, Gilmar Mendes decidiu mudar seu voto, mesmo que isso
signifique mergulhar o país num retrocesso jurídico jamais visto.
VOTO DECISIVO – A
ironia do destino é que, desta vez, a estratégica e suspeita mudança de
lado de Gilmar Mendes pode esbarrar no voto decisivo de Rosa Weber.
A revista “Veja” desencavou uma importante colocação da ministra em 2011, ao ser sabatinada no Senado: “O
cumprimento da pena após o trânsito em julgado da sentença condenatória
realmente gera a cada dia na sociedade uma sensação de impunidade do
sistema, que nós temos de tentar solucionar de alguma forma”, disse ela, que tem uma biografia intocável.
Então, por que Rosa Weber iria manchar
sua carreira a essa altura da vida, para manter em liberdade um político
totalmente emporcalhado, que liderou o maior esquema de corrupção do
mundo e favoreceu “os negócios” de dois de seus filhos – Fábio Luís, o
“Lulinha”, e Luís Cláudio, o caçula, ambos processados na Operação
Zelotes?
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