Bernardo Mello Franco
O Globo
Em 1961, Jânio Quadros disse ser perseguido por “forças terríveis”. Em 2018, Michel Temer se diz vítima de “forças obscuras”. A expressão está na nota que o Planalto divulgou na sexta-feira, depois da prisão dos amigos do presidente. Jânio pensou que a renúncia lhe permitiria reassumir com plenos poderes. Deu tudo errado, e ele voou de Brasília para o ostracismo. Temer imaginou que a intervenção no Rio fabricaria uma candidatura competitiva. A “jogada de mestre” virou um problema, e agora o governo volta a ser encurralado pela polícia.
Seria uma injustiça histórica levar a comparação adiante. Jânio bebia além da conta, mas nunca deixou de entrar num restaurante com medo de ser xingado pelos clientes.
CONSPIRAÇÃO – A defesa do Planalto aposta na teoria da conspiração. A nota fala em “métodos totalitários” e sustenta que existiria um complô para “destruir a reputação” de Temer. Enquanto a polícia recolhe provas, o governo insiste que não há “fatos reais a investigar”.
“Repetem o enredo de 2017, quando ofereceram os maiores benefícios aos irmãos Batista para criar falsa acusação que envolvesse o presidente”, diz o texto. Como os personagens mudaram, a Presidência fez uma queixa genérica das “autoridades”, sem nomeá-las.
O MESMO SUSPEITO – A maior semelhança entre o escândalo da JBS e o atual é a presença de Temer como suspeito. Os irmãos Batista confessaram muitos crimes, mas não têm nada a ver com a roubalheira no Porto de Santos. O procurador Rodrigo Janot guardou as flechas e se mudou para a Colômbia. A Operação Skala é obra da doutora Raquel Dodge, nomeada pelo atual presidente.
A procuradora terá papel central na nova crise. Depois de frear as delações premiadas, ela pisou no acelerador com o inquérito dos portos. Ontem à noite, ensaiou outro recuo ao pedir a libertação dos amigos de Temer.
Com a passagem de José Yunes e do coronel Lima pelo xadrez, quase todos os homens do presidente passam a acumular temporadas pela cadeia. A PF já havia recolhido Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Rodrigo Rocha Loures e Tadeu Filipelli. As prisões em série sugerem que as “forças obscuras” não atuam fora, e sim dentro do palácio.
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O Globo
Em 1961, Jânio Quadros disse ser perseguido por “forças terríveis”. Em 2018, Michel Temer se diz vítima de “forças obscuras”. A expressão está na nota que o Planalto divulgou na sexta-feira, depois da prisão dos amigos do presidente. Jânio pensou que a renúncia lhe permitiria reassumir com plenos poderes. Deu tudo errado, e ele voou de Brasília para o ostracismo. Temer imaginou que a intervenção no Rio fabricaria uma candidatura competitiva. A “jogada de mestre” virou um problema, e agora o governo volta a ser encurralado pela polícia.
Seria uma injustiça histórica levar a comparação adiante. Jânio bebia além da conta, mas nunca deixou de entrar num restaurante com medo de ser xingado pelos clientes.
CONSPIRAÇÃO – A defesa do Planalto aposta na teoria da conspiração. A nota fala em “métodos totalitários” e sustenta que existiria um complô para “destruir a reputação” de Temer. Enquanto a polícia recolhe provas, o governo insiste que não há “fatos reais a investigar”.
“Repetem o enredo de 2017, quando ofereceram os maiores benefícios aos irmãos Batista para criar falsa acusação que envolvesse o presidente”, diz o texto. Como os personagens mudaram, a Presidência fez uma queixa genérica das “autoridades”, sem nomeá-las.
O MESMO SUSPEITO – A maior semelhança entre o escândalo da JBS e o atual é a presença de Temer como suspeito. Os irmãos Batista confessaram muitos crimes, mas não têm nada a ver com a roubalheira no Porto de Santos. O procurador Rodrigo Janot guardou as flechas e se mudou para a Colômbia. A Operação Skala é obra da doutora Raquel Dodge, nomeada pelo atual presidente.
A procuradora terá papel central na nova crise. Depois de frear as delações premiadas, ela pisou no acelerador com o inquérito dos portos. Ontem à noite, ensaiou outro recuo ao pedir a libertação dos amigos de Temer.
Com a passagem de José Yunes e do coronel Lima pelo xadrez, quase todos os homens do presidente passam a acumular temporadas pela cadeia. A PF já havia recolhido Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves, Rodrigo Rocha Loures e Tadeu Filipelli. As prisões em série sugerem que as “forças obscuras” não atuam fora, e sim dentro do palácio.
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