sábado, 31 de março de 2018

Hoje nada de DR, Aleluia


por Aninha Franco / CORREIO
A semana que deslanchou no sábado de Aleluia foi panquérrima. Semana de escutar Lula chamar seus antagonistas de fascistas e cachorros doidos e de assistir Bolsonaro declarar que se for presidente, o Ministro do MinC será Alexandre Frota. Motivos cavalares para bater duas DRs, encher os cabelos cinzas de cinzas e jejuar, mesmo num sábado de Aleluia que ainda grelha Judas aqui e ali. Quem será que inventou essa ideia macabra de queimar Judas? Pergunto ao Google, e ele me responde que surrar e queimar Judas Iscariotes foi um hábito introduzido na AL pelos invasores ibéricos. Mil vezes melhor o comer dendê dos Africanos e depois deitar na Rede dos Tupinambás.
Mas nem os hábitos Africanos e Tupinambás têm me livrado de pensar coisas insanas, porque está complicado ser brasileira, porque o Brasil está perturbando os lúcidos, os racionais, os kantianos com o seu jeito ensandecido de ser sem lógica, sem lucidez, sem coerência. No Brasil, a lógica muda de nexo dependendo da necessidade de seus políticos. E quando esta semana santa acabar, amanhã, virá uma semana mundana brasileira com os próximos capítulos de Temer e Lula, os líderes dos partidos que conduziram a República brasileira ao frangalho.
A República iniciada na Salvador colônia há 469 anos, quando 6 caravelas estacionaram no Porto da Barra e desembarcaram Jesuítas, militares, o arrecadador de impostos, degredados e artesãos, está com seus dois líderes mais importantes dos últimos anos em situações esdrúxulas, um a um fio da prisão ou da decretação da impunidade, e o outro com todos os seus contatos próximos presos. Não é peculiar que o presidente de uma república não possa telefonar para nenhum amigo numa manhã de sábado porque todos estão presos? Não é extravagante que um cara eleito para combater a corrupção torne-se o garoto propaganda da impunidade?
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Pois é, poderíamos ficar aqui batendo essa duas DR enquanto alguns Judas ainda são queimados e a carne volta às mesas dos carnívoros neste fim de semana, santa, em que a declaração estrondosa do Papa Francisco provocou pouco impacto. Não existe Inferno, nos garantiu o Santo Padre lá do Vaticano, este Estado que está conosco desde nossos primeiros momentos de Colônia, e continua – menos forte – nesses tempos de República esfrangalhada. Se não existe Inferno, existe Céu tive vontade de perguntar ao Google, mas desconfiei que ele tentaria me responder ideologicamente, e desisti.
O Inferno são os outros, lembrei de Sartre de quem lembro raramente, hoje, mas que já li muito, um dia. E fui ao Inferno de Dante, um Paraíso para quem ama a Poesia e li que “no inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.” E voltei ao Papa Francisco que disse a um jornalista que as almas daqueles “que se arrependem obtêm o perdão de Deus e vão entre as fileiras das almas que o contemplam (...) mas aqueles que não se arrependem e, portanto, não podem ser perdoados, desaparecem.”
Não, não, não! Sem partidos políticos, sem políticas públicas, sem líderes, sem lucidez e agora sem Inferno! Melhor que o Inferno exista, Papa Francisco! Aleluia!

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