Artigo de Fernando
Gabeira, com o tradicional morde e assopra mineiro, sempre com um pé
atrás. É, como ele próprio diz, "um velho jornalista":
A intervenção federal no Rio foi feita por um governo impopular. E feita apenas parcialmente. Deveria ser completa.
Não creio que seja o
caso de defendê-la diante das teorias conspiratórias, de esquerda ou
direita, que veem nela uma espécie de ataque ao seu projeto eleitoral. É
inevitável que as pessoas fixadas na luta pelo poder interpretem tudo,
mesmo um fato dessa dimensão social, como simples contador de votos.
A intervenção está
aí. O governo é impopular, mas o instrumento é o Exército, com grande
credibilidade. Se escolher atos espetaculares para tirar Temer do sufoco
vai afundar com ele.
Logo, a primeira e
modesta tese: o norte é a prática militar, com preparo e meios materiais
necessários, e não o oportunismo político. Se prevalecer a
superficialidade do governo, a batalha será perdida.
A intervenção tem de
saber o que quer, para definir a hora de acabar. Isso não se define com
uma data rígida no calendário, mas com a realização da tarefa:
estabilizar a situação do Rio para que a polícia tome conta depois de
reestruturada. É isso que fazem as intervenções, mesmo num país como o
Haiti.
Para reestruturar a polícia é preciso contar com a parte ainda não corrompida e pagar todos os salários em dia.
A maioria parece
apoiar a intervenção. É fundamental respeitar a população, conquistar
corações e mentes. Nesse sentido, foi um grande passo civilizatório o
vídeo de três jovens orientando os negros a evitar a violência policial e
a se defender, legalmente, dela. Está na rede. É um texto que deveria
ser levado em conta, pois revela como as pessoas de bem se comportam
nessa emergência.
Circulou uma notícia
de que as favelas ocupadas por traficantes armados seriam considerados
territórios hostis. É um equívoco, creio eu. As favelas são territórios
amigos, ocupados por forças hostis. Parece um jogo de palavras, mas é
uma diferença que implica em táticas e estratégias diversas.
A quarta modesta
tese: como não foi realizada a intervenção completa, a Lava-Jato poderia
avançar nos processos contra os políticos. Seria a maneira de combinar
um ataque ao crime organizado em seus diferentes universos. Creio que
fortaleceria o trabalho da intervenção.
Finalmente, algo que
me parece também decisivo. Quem acha que é a única saída do momento,
apesar de sua fragilidade, precisa ajudar.
O que significa
ajudar? A sociedade já se move de muitas formas, inclusive, na internet,
colaborando com aplicativos como Onde Tem Tiroteio, Fogo Cruzado e
dezenas de outras iniciativas.
Isso vai depender
também da intervenção. Se a visão for de aglutinar o esforço social, o
general Braga precisa apresentar as linhas gerais de seu plano. Delas
podem surgir uma indicação de como ajudar.
Compreendo que a
esquerda diga que a violência foi superestimada pela mídia. O próprio
general Braga derrapou no primeiro momento, ao afirmar que é muita
mídia.
Ele tem razão, de
certa forma. Sou um velho jornalista. No século passado, as notícias
eram produzidas apenas por profissionais. Hoje, não: a estrutura
industrial ampliou seu alcance diante de milhares de colaboradores
filmando tudo. Quem filma os tiroteios no morro? E os assaltantes que
tentam enforcar uma velha? Não são repórteres. Nenhum dos atos violentos
foi desmentido. Não houve fake news, uma vez que caindo no circuito
industrial os dados foram checados.
Não se trata, portanto, apenas de muita mídia. São muitos fatos. De qualquer forma, ganhariam as redes sociais.
É com eles que vamos. Ou não vamos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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