Coluna de Carlos Brickmann, publicado hoje em diversos jornais do país - e surrupiada aqui via Chumbo Gordo:
A superestrela de
outra época foi esquecida, mas se acha ainda a rainha do cinema. Em sua
mansão decadente, espera o grande retorno às telas, como se fosse essa a
vontade do público. Na sua vida de ilusão, tem o apoio de um ex-amante,
talentoso cineasta que trocou o sucesso pelo emprego de mordomo da
mulher que adora; ele escreve as cartas com que ela se ilude, pedindo
sua volta. O filme é Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950,
direção de Billy Wilder). Nele surge um jovem William Holden, o
roteirista que narra os fatos reais só depois de morto; Erich von
Stroheim, o ex-amante que virou mordomo e ajuda a atriz a se imaginar um
ídolo; e a monumental Gloria Swanson, ela própria a grande atriz dos
filmes mudos, que não resistiu ao cinema falado. Gloria Swanson é Norma
Desmond, a antiga rainha incapaz de perceber que os novos tempos a
aposentaram, e o que lhe resta são as imagens do passado.
A vida imita a arte.
Um astro de outros tempos, empolgante no regime militar, vitorioso na
democracia, tenta se reinventar como desafiante. Só que agora não
desafia acusações de subversão: enfrenta denúncias de corrupção, e quem o
acusa não são generais ferozes, mas empresários que foram seus amigos, e
seus amigos que viraram empresários. Tem, como tinha na ditadura, apoio
internacional – mas só Venezuela, Bolívia, por aí.
No filme, Gloria Swanson vai presa. E vai feliz, de novo sob holofotes.
E agora?
A pressão da Justiça e
do Ministério Público sobre Lula é crescente: o Ministério Público
Federal pediu que seu passaporte fosse apreendido (e o juiz concordou) e
que seus movimentos fossem restritos a São Bernardo do Campo (o que o
juiz rejeitou). De qualquer forma, Lula não pode sair legalmente do
Brasil. O processo que o condenou a 12 anos de prisão foi o primeiro; há
mais quatro na fila. O próximo deve ser julgado no mês que vem pelo
juiz Sérgio Moro: o do sítio de Atibaia. Há mais provas no sítio de que o
dono é Lula do que havia no apartamento da praia, processo no qual já
foi condenado. Vêm depois Petrobras, Odebrecht… é muita coisa. E já há
condição legal para que a Justiça decrete, se quiser, a prisão de Lula.
Chamando pra briga
Lula foi condenado no
dia 24. No dia 25, perdeu o passaporte. Mas não perdeu tempo para
analisar a situação e decidir o caminho a seguir: praticamente colocou o
PT fora da lei (por enquanto, isso não tem grande importância, porque
Lula muitas vezes incita o radicalismo e depois diz que não foi bem
compreendido). Falando à Executiva Nacional do PT, que aprovou o
lançamento de sua candidatura à Presidência da República, disse que não
respeitará a decisão da Justiça que o condenou; pediu aos militantes
petistas que o defendam e pregou o enfrentamento político, seja lá isso o
que for. Mas, pelas palavras e pelo tom, Lula quer beligerância.
O futuro
Nem todo político é
igual, claro; Palocci, importante auxiliar de Lula, resistiu a pouco
tempo de prisão e se ofereceu para contar tudo; Dirceu, que foi tão ou
mais importante que Palocci, resistiu mais tempo e não contou nada. Mas,
no geral, político tende a fugir de partidos que se esvaziam. Normal:
num partido que não atraia tantos votos, o número de eleitos será
obrigatoriamente menor, e o político luta em primeiro lugar pela própria
sobrevivência. O afastamento de políticos dos partidos que diminuem
tende a provocar maior emagrecimento partidário.
E o PT está reagindo
de modo desconexo às pressões contra Lula. Há parlamentares, como a
presidente do partido, Gleisi Hoffmann, defendendo a ampliação do
desafio do partido à Justiça. O deputado Marco Maia propôs, em outras
palavras, um levante. Seu texto no twitter: “Lula não deveria entregar
seu passaporte. A hora é de rebeldia. Os fascistas estão se excedendo em
muito. Ultrapassando todos os limites! Ao mexerem no formigueiro terão
de aguentar as formigas!”
Como?
Mas imaginemos que
Lula, com uma ordem, coloque o partido na linha que considerar correta e
convença quem pensa em sair do PT a ficar e lutar. Outros problemas
prejudicarão o desempenho eleitoral petista. Se Lula não for preso,
poderá percorrer o país, mesmo sem ser candidato, para tentar
popularizar o nome do poste que indicará para disputar a eleição em seu
lugar (hoje, fala-se de Jaques Wagner, governador da Bahia, e em
Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, derrotado já no primeiro
turno quando tentou a reeleição). Mas, se for preso, quem terá prestígio
para falar em seu nome? Pior: quem convencerá os partidos nanicos da
esquerda, que sempre foram braços auxiliares do PT, a aceitar papel
subalterno mais uma vez?
Confusão geral
A confusão do PT é
maior que a dos concorrentes. Mas nenhum partido tem até hoje estratégia
definida e estrutura planejada para as eleições.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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