sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Salários, dívidas, queda de preços – os únicos caminhos para que o consumo cresça


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Charge do Nef (Jornal de Brasília)
Pedro do Coutto
Os fatores citados no título, na minha opinião, são os únicos caminhos que podem levar à expansão do consumo, ao contrário do que setores do governo e economistas de visão conservadora têm colocado constantemente nos jornais e nas entrevistas na TV. Os conservadores tentam fazer crer que o consumo pode resultar de um passo de mágica, ou apenas de uma fita utópica retirada da cartola. Vou repetir a frase que disse em artigo recente: a mágica é o contrário da lógica.
O consumo reflete o bem-estar da população, mas também pode ser decorrente do endividamento de centenas de milhares de famílias. O que basicamente incentiva o consumo é a valorização dos salários dos que trabalham, sejam eles celetistas ou funcionários públicos. Entretanto, para isso, é indispensável que os salários não percam a corrida contra a inflação. Isso de um lado. De outro, o consumo pode subir se alimentado por uma maior tomada de créditos bancários. Aí resulta o endividamento, o qual, em muitos casos exige uma parceria com a irresponsabilidade.
JUROS ABUSIVOS – Basta ver os juros bancários que vigoram no país: 3% ao mês, o patamar mais baixo. A inflação deste ano, de acordo com o IBGE atingiu praticamente 3% a/a . 3% ao mês significam , calculando-se os montantes algo em torno de 42% ao longo de 12 meses. Não vale a pena citar as taxas cobradas pelos cartões de crédito e uso de cheques especiais que oscilam em torno de 300% a 500% ao ano para o cartão de crédito.
O problema dos salários repousa também no índice de desemprego, objeto de reportagem de Daiane Costa e Geralda Doca, O Globo desta quinta-feira. Se o desemprego é alto, logicamente a massa salarial é baixa.
DESINFLAÇÃO – Mas e a questão dos preços a que me referi no título? Eles podem baixar, é claro, em decorrência da retração do mercado.
Mas é preciso distinguir entre o volume físico registrado no comércio e o total financeiro das compras. Se o crescimento do volume físico não for acompanhado pelo menos por uma correção inflacionária nos preços, as compras podem subir. Mas os tributos referentes ao movimento comercial não são afetados. Portanto, é essencial analisar-se em conjunto todo esse elenco de fatos, partindo das pesquisas de custo de vida feitas pelo IBGE. Nos supermercados, na minha impressão, os pesquisadores baseiam-se nos preços mínimos dos produtos.
Eles variam de um supermercado para outro. As famílias assim podem ter acesso ao elenco de preços mínimos. Porém, para isso terão que se dirigir no mínimo a três supermercados. As donas de casa podem fazer isso?  Claro que não. Mas os pesquisadores do IBGE podem, este é o seu trabalho.
PREÇOS VARIAM – Se existe uma estratégia de compra, com base nos preços, existe também uma estratégia de venda.  Num supermercado, por exemplo, o feijão é mais barato. Em outro supermercado, mais barato é o arroz. Para o IBGE, funciona o sistema de preços mínimos. Para os consumidores predomina a influência do tempo disponível para ir de um supermercado a outro.
Para finalizar quero dizer que basear os cálculos nos preços mínimos é uma forma de desfocar a realidade do mercado de compras.
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