Não tenho a mínima confiança na dicotomia esquerda/direita, mas vá lá. Segue artigo de Luiz Felipe Pondé, publicado na FSP, sobre a direita contemporânea:
Como prometido, vamos
esboçar uma tipologia científica da direita hoje. O tema é mais
complexo do que uma tipologia da esquerda contemporânea porque "ser de
direita" tornou-se quase um palavrão. Nesse sentido, há um indício
evidente de vitória cultural da esquerda nas últimas décadas.
Comecemos por esse
tipo de direita (um tipo meio patológico), ou a "direita que não sai do
armário". Aquele tipo de cara de direita que os outros dizem "você é de
direita" e ele fica com medo. "Ser de direita", aqui, significa "não ter
direito de contra-argumentar" e não ser convidado para jantares
inteligentes.
A própria palavra
"direita" dá medo de ser dita. Algumas pessoas tentam dizer a si mesmas
"sou de direita" na frente do espelho e engasgam ou vomitam sobre a
própria imagem.
Nesse tipo, a "pessoa
de direita" se vê presa do olhar do outro (bem chique esse
diagnóstico!), e esse olhar diz o seguinte: você gosta de torturadores, é
anti-humanista, burro, racista, homofóbico, machista e trabalhou para a
ditadura no Brasil (mesmo que você tenha hoje 20 anos de idade). Esse
tipo, quando sai do armário, grita: "Sou liberal, e não de direita!"
O que atormenta este
tipo de "direita que não sai do armário" é a possibilidade de que se
descubra gostando de torturadores, sendo racista, homofóbico e coisas
assim. Reconhecer-se como "direita fascista" e pró-Trump é reconhecer-se
como um membro daqueles que queimam o filme da direita. Mas vale dizer
que todo o trabalho da direita mais recente no Brasil é escapar dessa
narrativa (outro diagnóstico chique!).
O oposto a esse tipo
"patológico" é a "direita transante" (o termo não é meu). Essa direita
tende a ser mais jovem, mais descolada, derrubou a Dilma, é a favor do
mercado, do Estado mínimo e fala a língua da moçada "nas redes". Essa
direita ameaça o monopólio do mercado dos movimentos estudantis, que
sempre pertenceu a esquerda.
Essa direita é mais
festiva e está, aos poucos, aprendendo a falar de cinema, literatura, e
coisas que ajudam a pegar mulher. Um critério para essa direita é se
pega ou não gostosas.
Ligada a ela, nasce a
"direita gay", transante também, descolada e assumida. Como a anterior,
é a favor do mercado e foge do estereótipo da "direita fascista".
Também ligada a ela,
temos a "direita gostosa": mulheres jovens, normalmente empresárias,
advogadas, na maioria dos casos, gaúchas ou paranaenses. Aquele tipo de
mulher que assusta cara que ganha menos do que ela e que teme ficar
sozinha no final, justamente por ser sexy demais e ter seu próprio
Mastercard Black. Sem elas, nada acontecerá no século 21.
No lado oposto, está a
"direita dos esquisitos". Aquele tipo de cara que, ou só fala de
economia, ou de são Tomás de Aquino e frequenta eventos que "são de
direita".
Esse tipo gosta de
bater boca, odiar gente de esquerda e se veste muito mal. Não come
ninguém, o que dá a ele um perfil de ressentimento muito fácil de ser
identificado.
Variante desse tipo de "direita dos esquisitos" é a direita desses caras, simplesmente, mais velhos.
Diferentemente da dos
mais jovens, viveu muitos anos "no armário", o que produz um certo odor
de naftalina ao redor, daí seu nome cientifico de "direita naftalina".
Há também a "direita
moderna": liberal em economia, secular, defensora do Estado mínimo e que
engatinha no Brasil, no sentido de constituir uma rede
político-partidária pra "chamar de sua" e que escape da maldição da
herança autoritária e corrupta na política.
Uma direita bem
chatinha é a "direita da inovação". Gente que fala no mundo corporativo e
goza quando diz a expressão apocalíptica "impressora 3D".
Por último, a
"direita religiosa", que se divide em duas. A "direita católica",
normalmente gente muito estudiosa, conservadora, tímida e que anda na
sombra em lugares públicos. Quando ouve o nome "teologia da libertação",
mal consegue conter seus ímpetos inquisitoriais. A "direita evangélica"
é muito mais dinâmica, faz "política real", abre igrejas por
franchising e está a ponto de criar um verdadeiro liberalismo popular no
país. Aleluia, irmãos!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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