Artigo publicado pelo
reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier de Olivo - que se suicidou hoje no
Shopping Beia-Mar, em Florianópolis - no jornal O Globo no dia 28 último:
A humilhação e o
vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na
história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados
ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados,
paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi
reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior
brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação
pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada
a uma “quadrilha”, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo
após libertados, de entrar na universidade.
Quando assumimos, em
maio de 2016, para mandato de quatro anos, uma de nossas mensagens mais
marcantes sempre foi a da harmonia, do diálogo, do reconhecimento das
diferenças. Dizíamos a quem quisesse ouvir que, “na UFSC, tem
diversidade!”. A primeira reação, portanto, ao ser conduzido de minha
casa para a Polícia Federal, acusado de obstrução de uma investigação,
foi de surpresa.
Ao longo de minha
trajetória como estudante de Direito (graduação, mestrado e doutorado),
depois docente, chefe do departamento, diretor do Centro de Ciências
Jurídicas e, afortunadamente, reitor, sempre exerci minhas atividades
tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito
ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da
tolerância. Portanto, ser conduzido nas condições em que ocorreu a
prisão deixou-me ainda perplexo e amedrontado.
Para além das
incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da
união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me
saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à
mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado
processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos
ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o
contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF;
sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se
passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de
denúncias relativas a período anterior.
Não adotamos qualquer
atitude para abafar ou obstruir a apuração da denúncia. Agimos, isso
sim, como gestores responsáveis, sempre acompanhados pela Procuradoria
da UFSC. Mantivemos, com frequência, contatos com representantes da
Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União. Estávamos
no caminho certo, com orientação jurídica e administrativa. O reitor
não toma nenhuma decisão de maneira isolada. Tudo é colegiado, ou seja,
tem a participação de outros organismos. E reitero: a universidade
sempre teve e vai continuar tendo todo interesse em esclarecer a
questão.
De todo este episódio
que ganhou repercussão nacional, a principal lição é que devemos ter
mais orgulho ainda da UFSC. Ela é responsável por quase 100% do
aprimoramento da indústria, dos serviços e do desenvolvimento do estado,
em todas as regiões. Faz pesquisa de ponta, ensino de qualidade e
extensão comprometida com a sociedade. É, tenho certeza, muito mais
forte do qualquer outro acontecimento.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário