Coluna de Carlos Brickmann, publicada em diversos jornais do país e surrupiada aqui, via Chumbo Gordo:
É tudo muito simples:
os petistas agora têm de falar mal de Palocci, falar bem de Maluf e
defender Aécio. Os parlamentares do Centrão têm de falar bem de Temer e
Aécio, dizer que não existe Quadrilhão, esquecer Maluf (as alas que hoje
comandam o PP operaram sozinhas no Mensalão) e ignorar Palocci. Os
tucanos falam bem e mal de Temer, esquecem Maluf, ignoram Palocci e
defendem Aécio, que foi seu candidato à Presidência. Mas nem todos
defendem Aécio: Alckmin, Serra, Fernando Henrique e Tasso Jereissati, os
caciques do partido, mantêm-se em estrondoso silêncio.
Todos, petistas,
tucanos das mais diversas alas (há aproximadamente uma ala por
parlamentar), a turma do Quadrilhão, se aliaram em defesa da democracia
deles, especialmente das normas que dificultam prisões. Onde já se viu,
punir senadores só porque fizeram o que não deviam? E até onde isso vai,
considerando-se que metade dos senadores está sendo investigada?
Suas Excelências
descobriram que gritar “Fulano na cadeia” para fins eleitorais virou
algo perigoso: o grito vira eco, vai e volta. Querem mudar. Só falta
combinar com o Supremo. Mas aí tudo é mais suave: o julgamento da Ação
Direta de Inconstitucionalidade, que os partidos propuseram em defesa
dos parlamentares atingidos por decisões do Supremo, está marcado para
breve, 11 de outubro. E a presidente do Supremo, ministra Carmen Lúcia,
já disse que Supremo e Senado “estão na boa”.
Estão na boa, pois.
O objetivo final
Como presidente do
Supremo, Carmen Lúcia tem papel da maior importância. Frase sua: “O fim
do Direito é a paz, a finalidade do Direito é a paz. Nós construímos a
paz”. A paz, portanto, será construída.
Nem burros…
Há muitos anos, a
deputada estadual paulista Conceição da Costa Neves, a temida rainha da
Assembleia, dizendo a este repórter que os deputados eram o retrato do
povo, exemplificou: “Na Assembleia há honestos e ladrões, estudiosos e
ignorantes, preguiçosos e trabalhadores. Só não tem burro nem bobo,
porque burro e bobo não conseguem chegar aqui”.
Todo esse
comportamento de Suas Excelências, que nós consideramos esquisito, eles
sabem que é mesmo esquisito. Burro e bobo não chegam ao Congresso. Eles
têm motivo para agir assim; na verdade, motivos. Alguns querem livrar-se
de problemas futuros com grades e tornozeleiras; outros só se preocupam
em manter o padrão de vida, sem devoluções, sem multas.
…nem bobos
O fato é que não há
partido importante livre de escândalos. Quem parece lutar por Aécio está
é salvando Lula; quem diz que Lula não deveria passar por tantos
problemas está lutando por Aécio – e todos, inclusive Renan Calheiros,
que fez discursos oposicionistas, por Michel Temer, que sabe o que fazem
aliados e adversários quando ninguém está olhando. Em cada caso, seguem
a regra básica de sobrevivência congressual: “no meu, não”.
Do chão não passa
Michel Temer está a
ponto de bater um recorde mundial: daqui a pouco, seu índice de
aprovação poderá ser divulgado com nome por nome dos que o apoiam. Na
última pesquisa Ibope, Temer está com 3%, menos da metade de Dilma na
sua pior fase. E 77% acham seu Governo ruim ou péssimo.
Aliados já querem
botar a culpa no pessoal de Comunicação, já que os bons resultados
econômicos – um pouco menos de desemprego, uma leve alta no consumo, a
tendência ao retorno do crescimento econômico, a forte baixa nos juros, a
inflação em queda – não têm contribuído para evitar a má imagem de
Temer e do Governo. O problema é que, no momento, os resultados
econômicos teriam de ser fenomenais para elevar a popularidade do
presidente. Na hora em que cada prisão é saudada antes que se saiba seu
motivo, esperava-se que Temer limpasse a área, cortando despesas,
combatendo privilégios, implantando austeridade. E ele assumiu com Jucá,
Padilha, Moreira Franco, e apareceu conversando com Joesley – aquele
que não resistiu e caguetou a si mesmo. Não há popularidade que aguente.
As tropas-ioiô
O ministro da Defesa,
Raul Jungmann, e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, anunciaram a
retirada das tropas que cercaram a Rocinha. Ambos dizem que houve
significativos avanços para a paz na favela e que, “se necessário”, os
militares podem voltar. Lembremos: o traficante-chefe da favela, Rogério
157, escapou do cerco. Como não será aceito em outros morros (cada um
já tem seu traficante-chefe), nem se converterá a alguma religião
contemplativa, tem mesmo é de voltar para a Rocinha. O chefão anterior,
Nem, que comanda a guerra contra 157, tem seu quartel-general num
presidio federal de segurança máxima, a milhares de quilômetros do Rio.
Mas agora querem prendê-lo no Rio mesmo, pertinho da favela.
Sairia mais barato manter as tropas na Rocinha, em vez de fazê-las ir e voltar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário