domingo, 24 de setembro de 2017

Os intérpretes do Brasil?


por Aninha Franco/ CORREIO
“Quem foi que inventou o Brasil?” Perguntou Lamartine Babo na marchinha História do Brasil, respondendo no próximo verso: “Foi seu Cabral, no dia vinte e um de abril, dois meses depois do carnaval”.  Parece que esse Brasil que o Cabral navegante “inventou”, em 21 de abril, acabou. E que todos os outros Brasis, o do caluniado Makunaíma, o de Peri e o de Ceci, e o de cada um de nós, todos acabaram. Recentemente, o historiador Marco Villa pediu outros intérpretes para esclarecer o Brasil contemporâneo, porque Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Câmara Cascudo, Euclides da Cunha já não dão conta. E mesmo Chico Buarque, filho de Sérgio Buarque, que explicou ao Brasil um Brasil dos Anos 1970 e, nos 2000, lamentou o fim de sua gentileza, também já não explica mais nada, apenas que a gentileza brasileira acabou.
Neste Brasil deselegante, o homônimo do Cabral navegante foi condenado a 45 anos de prisão em regime fechado por corrupção. As penas de outros processos do ex-governador do RJ podem chegar a 500 anos – quase a idade do país -, penas que Cabral não conseguirá cumprir porque é mortal, mas que merece pelo que cometeu contra o Estado, vítima de Garotinho, preso, vítima de Rosinha Garotinho, vítima de Benedita da Silva, vítima de Pezão, eleitos e não vigiados por um sistema político sinistro. A cúmplice e esposa de Sérgio Cabral foi condenada a 18 anos em regime fechado, como ele. As regalias universitárias dos dois terminam com a condenação. Condenados, eles conviverão com criminosos sem diplomas, possivelmente menos perigosos que eles. Esperemos que eles não os pervertam.
Sérgio Cabral, que saqueou o Estado do Rio como se não houvesse amanhã, era, conforme discurso do ex-presidente Lula, em 2007, um dos três meninos de ouro da política brasileira, ao lado do governador eleito na Bahia, Jaques Wagner, e do governador eleito em Pernambuco, Eduardo Campos. De lá pra cá, a política brasileira, a nova e a velha, correm juntas da Polícia Federal e da Lava Jato, fugindo à responsabilidade pela deterioração física e mental do Brasil não-interpretável.
Mas as pesquisas sugerem que, em 2018, estaremos diante de Lula e Bolsonaro para conduzir o Brasil até 2022, como fomos submetidos a Lula e Collor em 1989. Em 1989, fomos coagidos a usar nossa obrigação de eleger o presidente da república, alguns pela primeira vez, diante das opções de Lula e Collor em segundo turno. Collor venceu, caiu em seguida e a história nos presenteou com um político honesto do PMDB, Itamar Franco, que estabilizou a moeda e quando passou a faixa presidencial a FHC, entregou-lhe um relatório detalhado sobre a corrupção no governo federal, resultado de 10 meses de trabalho da Comissão Especial de Investigação, a CEI, explicando a atuação da corrupção nos ministérios e empresas estatais, consumindo 40% de tudo que o Estado administrava, numa sangria de trilhões de reais que corroía a democracia do país.
FHC extinguiu a CEI 15 dias depois de tornar-se presidente, o que eu jamais entendi, porque a extinção explica muito do que está acontecendo agora. Começo a entender a extinção inexplicável assistindo FHC defender Lula, seguidamente, em casos indefensáveis.

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