"Bem ao contrário do que
pretendem as leituras críticas, naufragando na verborréia da Escola de
Frankfurt e nas libertinagens auto-justificantes de Michel Foucault,
quem permite que um país como o Brasil vire um mar de estupros não é a
direita com seu “patriarcado machista obscurantista”: quem criou leis
que amenizam a vida de criminosos, incluindo estupradores, foi
justamente a esquerda. E quem cria o clima propício para a violência,
inclusive de estupros, é novamente a esquerda. Se existe uma “cultura de
estupro”, ela se chama vitimismo de esquerda. O mundo sem feminismo
teria menos estupros". Texto de Flávio Morgenstern, publicado no Senso Incomum:
Casos recentes
tomaram a mídia envolvendo crimes contra mulheres, como denúncias de
estupro e assédio que, ao invés de ganharem as páginas policiais,
mereceram destaque mais na coluna de fofocas de celebridades. Tal se deu
por um continuum de notícias envolvendo sexo e opressões de natureza
sexual propagandeando a ideologia feminista nos últimos dias.
Apesar de todo o
alarido que é feito sobre estupros e crimes sexuais e contra a mulher,
exatamente a única coisa que é capaz de diminuir tais crimes é limada do
debate público: a necessidade de leis penais mais rigorosas contra
estupradores e assediadores.
Conforme já explicamos,
há um molde pré-formato para se fazer análises sociais que envolvam
crimes e injustiças na intelligentsia atual: todo crime deve ser
desculpado e amenizado, dissolvido em uma culpa coletiva da “sociedade”,
triangulado para um ente abstrato e amorfo que retire qualquer
responsabilidade de escolha de ação do indivíduo. No dizer de Thedore Dalrymple, é “Hamlet sem o príncipe”.
A única exceção são
os crimes sexuais, como o assédio e o estupro. Para estes, toda punição é
exigida não apenas para o criminoso, mas até para quem se pareça com o
criminoso. Pareça-se com o molestador. Tenha parentesco com o abusador.
Seja advogado do violador. Ou tenha algum dia cumprimentado o abusador.
Não há masmorra com punição o suficiente para estes seres.
Com a mentalidade
também dissolvida em ideologias e afastada do bruto contato com a
realidade, o palpitariado crê que os dois tipos de crime não possuem
correlação nenhuma. Os crimes de sangue, incluindo seqüestro e
assassinato, seriam meramente econômicos, derivados de uma
“desigualdade” vista como injusta por si, enquanto o estupro e suas
variantes seria um crime de escolha, maldosamente até incentivado por
esta mesma sociedade – e aí, não há discurso sobre desigualdade sexual
que cole: o crime é maldade pura e o criminoso é puramente maldoso.
Na vida real, longe
das ideologias e explicações da modinha que todos repetem como se fossem
o último achado da inteligência e razão analítica, nada é mais óbvio
que um ambiente de amoralidade e incentivo ao instinto puro sem freios
vai gerar tanto o roubo quanto o rapto com fins sexuais. Que não há
sociedade com muitos assaltos e poucos estupros. O parentesco entre o
furto e o constrangimento sexual, entre o assassinato e o os raptos
seguidos de espancamento, é cristalino como água de uma fonte de fadas
para qualquer ser humano que não precise do aplauso dos coleguinhas da
faculdade ou do Twitter.
O que coíbe um
assaltante e um estuprador é rigorosamente a mesma coisa: a repressão ao
seu ato. Uma educação que ensina justamente pulsões do corpo (e critica
qualquer auto-controle como “obscurantismo” e “preconceito”) será a
última capaz de ensinar alguma moral que atinja logo estupradores –
disparadamente os que mais gostam das aulas de educação sexual que
tratam qualquer moralidade no sexo como resquício da Inquisição. Muito
menos adiantará destruir o poder de educação da família e transferi-lo a
um Estado defensor de atalhos para a satisfação das vontades. E
estupradores, qualquer feminista há de concordar, os há em qualquer
classe social ou nível de instrução.
Não adianta usar
bordões da modinha de quem pensa por manada e se orgulha de se tornar
propaganda partidária obrigatória, como “Ensinem os homens a não
estuprar” (como se homens não repudiassem o estupro tanto quanto
mulheres – pergunte a qualquer presidiário), se não é possível levantar
cartazes como “Ensinem os nóias a não roubar” ou “Ensine o goleiro Bruno
a não matar e mandar esquartejar”. O ridículo é o mesmo.
Se o objetivo é
lacrar e fazer textão no Facebook, ignorando até mesmo a polícia, parece
até útil não ser a última da turminha a ter um caso de estupro/assédio a
relatar, ainda que sem muita “lógica” (mais vale a narrativa do que
pensar se alguém precisa tomar coquetel anti-DST após ser bolinada). Em
um país com 56 mil homicídios anuais, é mais do que factível imaginar
que o número de estupros reais é desesperadoramente maior.
Mas se o objetivo é
diminuir estupro, só há duas coisas a fazer: exigir uma moral sexual
ordenada no civil e um rigor de polícia muito maior no penal. É tão
simples quanto parece, não vai render bônus com o professor citando
Walter Benjamin e também não tem um -ismo para fazer “leitura crítica”
da sociedade: é simplesmente aquele funcionamento da sociedade tão
eterno e tão avesso a intelectuais, que até hoje não sabem pra que serve
um torneiro mecânico, mas falam em “trabalhadores”, não sabem dobrar um
lençol de elástico, mas criticam o “patriarcado”. A sociedade funciona
às vezes muito bem sem ideologozinhos de faculdade de Humanas.
Bem ao contrário do
que pretendem as leituras críticas, naufragando na verborréia da Escola
de Frankfurt e nas libertinagens auto-justificantes de Michel Foucault,
quem permite que um país como o Brasil vire um mar de estupros não é a
direita com seu “patriarcado machista obscurantista”: quem criou leis
que amenizam a vida de criminosos, incluindo estupradores, foi
justamente a esquerda. E quem cria o clima propício para a violência,
inclusive de estupros, é novamente a esquerda. Se existe uma “cultura de
estupro”, ela se chama vitimismo de esquerda. O mundo sem feminismo
teria menos estupros.
Se a esquerda quiser
continuar com seu discurso de lacradas, pode continuar chafurdando em
contradições, desde que com um discurso chic retirado de leituras
superficiais de intelectuais superficiais lidos em faculdades
superficiais. Mas se quiser mesmo diminuir estupros, tem de fazer
exatamente o oposto do que faz: pedir leis rigorosas, defender uma moral
sexual mais regrada, repudiar a sexualização infinita da sociedade,
criar uma cultura de mais auto-controle e virtude e menos defesa de
bandido e do puro instinto, com o acidental mimimi quando alguém sugere
segurar as vontades.
Não há projetos de
esquerda para punir estupradores com mais rigor, embora toda feminista
culpe “o machismo da sociedade” (logo transmutado para “os homens”) para
afirmar que estupradores e assediadores não são punidos como deveriam.
Fora do discurso lacrante, deveriam lembrar que o único político a
propôr castração química para estupradores foi o seu anátema Jair
Bolsonaro, que foi condenado por “incitação ao estupro” por dizer que
não estupraria uma… defensora de estuprador.
Será mesmo que o
vocabulário chic das ideologias traz mesmo maior capacidade de análise e
percepção da realidade e da verdade, ou é apenas arma de doutrinação
que transforma mulheres em engrenagens de ideologias contraditórias que
não percebem que, o tempo todo, defendem com unhas e dentes aquilo que
mais se volta contra sua fragilidade em cada esquina que dobram em
noites escuras?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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