sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Estupro e assédio se resolvem com lei penal rigorosa. Mas isto a esquerda não quer.


"Bem ao contrário do que pretendem as leituras críticas, naufragando na verborréia da Escola de Frankfurt e nas libertinagens auto-justificantes de Michel Foucault, quem permite que um país como o Brasil vire um mar de estupros não é a direita com seu “patriarcado machista obscurantista”: quem criou leis que amenizam a vida de criminosos, incluindo estupradores, foi justamente a esquerda. E quem cria o clima propício para a violência, inclusive de estupros, é novamente a esquerda. Se existe uma “cultura de estupro”, ela se chama vitimismo de esquerda. O mundo sem feminismo teria menos estupros". Texto de Flávio Morgenstern, publicado no Senso Incomum:

Casos recentes tomaram a mídia envolvendo crimes contra mulheres, como denúncias de estupro e assédio que, ao invés de ganharem as páginas policiais, mereceram destaque mais na coluna de fofocas de celebridades. Tal se deu por um continuum de notícias envolvendo sexo e opressões de natureza sexual propagandeando a ideologia feminista nos últimos dias.

Apesar de todo o alarido que é feito sobre estupros e crimes sexuais e contra a mulher, exatamente a única coisa que é capaz de diminuir tais crimes é limada do debate público: a necessidade de leis penais mais rigorosas contra estupradores e assediadores.

Conforme já explicamos, há um molde pré-formato para se fazer análises sociais que envolvam crimes e injustiças na intelligentsia atual: todo crime deve ser desculpado e amenizado, dissolvido em uma culpa coletiva da “sociedade”, triangulado para um ente abstrato e amorfo que retire qualquer responsabilidade de escolha de ação do indivíduo. No dizer de Thedore Dalrymple, é “Hamlet sem o príncipe”.

A única exceção são os crimes sexuais, como o assédio e o estupro. Para estes, toda punição é exigida não apenas para o criminoso, mas até para quem se pareça com o criminoso. Pareça-se com o molestador. Tenha parentesco com o abusador. Seja advogado do violador. Ou tenha algum dia cumprimentado o abusador. Não há masmorra com punição o suficiente para estes seres.

Com a mentalidade também dissolvida em ideologias e afastada do bruto contato com a realidade, o palpitariado crê que os dois tipos de crime não possuem correlação nenhuma. Os crimes de sangue, incluindo seqüestro e assassinato, seriam meramente econômicos, derivados de uma “desigualdade” vista como injusta por si, enquanto o estupro e suas variantes seria um crime de escolha, maldosamente até incentivado por esta mesma sociedade – e aí, não há discurso sobre desigualdade sexual que cole: o crime é maldade pura e o criminoso é puramente maldoso.

Na vida real, longe das ideologias e explicações da modinha que todos repetem como se fossem o último achado da inteligência e razão analítica, nada é mais óbvio que um ambiente de amoralidade e incentivo ao instinto puro sem freios vai gerar tanto o roubo quanto o rapto com fins sexuais. Que não há sociedade com muitos assaltos e poucos estupros. O parentesco entre o furto e o constrangimento sexual, entre o assassinato e o os raptos seguidos de espancamento, é cristalino como água de uma fonte de fadas para qualquer ser humano que não precise do aplauso dos coleguinhas da faculdade ou do Twitter.

O que coíbe um assaltante e um estuprador é rigorosamente a mesma coisa: a repressão ao seu ato. Uma educação que ensina justamente pulsões do corpo (e critica qualquer auto-controle como “obscurantismo” e “preconceito”) será a última capaz de ensinar alguma moral que atinja logo estupradores – disparadamente os que mais gostam das aulas de educação sexual que tratam qualquer moralidade no sexo como resquício da Inquisição. Muito menos adiantará destruir o poder de educação da família e transferi-lo a um Estado defensor de atalhos para a satisfação das vontades. E estupradores, qualquer feminista há de concordar, os há em qualquer classe social ou nível de instrução.

Não adianta usar bordões da modinha de quem pensa por manada e se orgulha de se tornar propaganda partidária obrigatória, como “Ensinem os homens a não estuprar” (como se homens não repudiassem o estupro tanto quanto mulheres – pergunte a qualquer presidiário), se não é possível levantar cartazes como “Ensinem os nóias a não roubar” ou “Ensine o goleiro Bruno a não matar e mandar esquartejar”. O ridículo é o mesmo.

Se o objetivo é lacrar e fazer textão no Facebook, ignorando até mesmo a polícia, parece até útil não ser a última da turminha a ter um caso de estupro/assédio a relatar, ainda que sem muita “lógica” (mais vale a narrativa do que pensar se alguém precisa tomar coquetel anti-DST após ser bolinada). Em um país com 56 mil homicídios anuais, é mais do que factível imaginar que o número de estupros reais é desesperadoramente maior.

Mas se o objetivo é diminuir estupro, só há duas coisas a fazer: exigir uma moral sexual ordenada no civil e um rigor de polícia muito maior no penal. É tão simples quanto parece, não vai render bônus com o professor citando Walter Benjamin e também não tem um -ismo para fazer “leitura crítica” da sociedade: é simplesmente aquele funcionamento da sociedade tão eterno e tão avesso a intelectuais, que até hoje não sabem pra que serve um torneiro mecânico, mas falam em “trabalhadores”, não sabem dobrar um lençol de elástico, mas criticam o “patriarcado”. A sociedade funciona às vezes muito bem sem ideologozinhos de faculdade de Humanas.

Bem ao contrário do que pretendem as leituras críticas, naufragando na verborréia da Escola de Frankfurt e nas libertinagens auto-justificantes de Michel Foucault, quem permite que um país como o Brasil vire um mar de estupros não é a direita com seu “patriarcado machista obscurantista”: quem criou leis que amenizam a vida de criminosos, incluindo estupradores, foi justamente a esquerda. E quem cria o clima propício para a violência, inclusive de estupros, é novamente a esquerda. Se existe uma “cultura de estupro”, ela se chama vitimismo de esquerda. O mundo sem feminismo teria menos estupros.

Se a esquerda quiser continuar com seu discurso de lacradas, pode continuar chafurdando em contradições, desde que com um discurso chic retirado de leituras superficiais de intelectuais superficiais lidos em faculdades superficiais. Mas se quiser mesmo diminuir estupros, tem de fazer exatamente o oposto do que faz: pedir leis rigorosas, defender uma moral sexual mais regrada, repudiar a sexualização infinita da sociedade, criar uma cultura de mais auto-controle e virtude e menos defesa de bandido e do puro instinto, com o acidental mimimi quando alguém sugere segurar as vontades.

Não há projetos de esquerda para punir estupradores com mais rigor, embora toda feminista culpe “o machismo da sociedade” (logo transmutado para “os homens”) para afirmar que estupradores e assediadores não são punidos como deveriam. Fora do discurso lacrante, deveriam lembrar que o único político a propôr castração química para estupradores foi o seu anátema Jair Bolsonaro, que foi condenado por “incitação ao estupro” por dizer que não estupraria uma… defensora de estuprador.

Será mesmo que o vocabulário chic das ideologias traz mesmo maior capacidade de análise e percepção da realidade e da verdade, ou é apenas arma de doutrinação que transforma mulheres em engrenagens de ideologias contraditórias que não percebem que, o tempo todo, defendem com unhas e dentes aquilo que mais se volta contra sua fragilidade em cada esquina que dobram em noites escuras?
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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