Carlos Brickmann analisa os candidatos populares - que não se assumem como candidatos, à exceção do réu Lula. Eis as notas, via Chumbo Gordo:
Lula candidato?
Difícil: pode cair na Lei da Ficha Limpa, caso seja condenado em segunda
instância. Mas também pode cair por outro motivo: foi condenado em
primeira instância e é réu em outras ações. Da mesma maneira que Renan
Calheiros foi mantido na Presidência do Senado, mas proibido de assumir a
Presidência da República (é o segundo da fila) por ser réu, Lula não
poderia ser candidato. Marco Aurélio, ministro do STF, diz que não é bem
assim: o presidente não pode ser processado por fatos ocorridos fora de
seu mandato. Mas a disputa judicial será longa. E envolve também Jair
Bolsonaro, réu no Supremo. A lei é a mesma para ambos.
Lula, segundo
pesquisa do Ipsos, tem 29% de intenções de voto. Um bom número – mas é o
quarto entre os nomes pesquisados. Antes dele vêm Sérgio Moro (64%),
Luciano Huck (45%), Joaquim Barbosa (44%). E a presidente do STF, Carmen
Lúcia, está em seus calcanhares (28%). Só que nenhum destes nomes mais
populares admite ser candidato.
Michel Temer?
Política é como nuvem, muda de forma. Mas é difícil reverter sua
rejeição recorde de 94%; e 95% dos pesquisados acham que o Brasil está
no rumo errado. O PMDB é o maior partido do país, mas não tem candidato
viável. O PSDB pode desistir de Aécio (rejeição de 90%), Serra (de 75%) e
Alckmin (67%). Bolsonaro, fora eventuais problemas judiciais, tem
rejeição de 53%. É hora de renovação: quem se apresenta?
O candidato
Lula se apresenta e
no PT não tem contestação. Se não puder sair, seu candidato à
Presidência é Fernando Haddad, mal avaliado como prefeito de São Paulo e
derrotado no primeiro turno ao tentar a reeleição.
Frase notável 1
De Lula: “Sou o maior
interessado na verdade”. Um estadista que sabia das coisas, Churchill,
líder inglês na guerra ao nazismo, disse que a verdade é tão preciosa
que deve ser protegida por uma muralha de mentiras.
Frase notável 2
Lula disse – disse
mesmo, está gravado – que “a palavra propina foi inventada pelos
empresários para tentar culpar os políticos – ou pelo Ministério Público
(…) agora transformaram as doações em propina, então ficou tudo
criminoso”. Parece incrível, mas Lula não deixa de ter razão.
Quando era
sindicalista e denunciava essas coisas que na época só os outros faziam,
não lhes dava o nome de propinas. Eram maracutaias.
A posição dos procuradores
Os jovens, bem
preparados e corajosos procuradores estão preocupados: na reunião do
Conselho Nacional do Ministério Público, no início desta semana,
dedicaram boa parte do tempo à discussão de maneiras de evitar as
restrições orçamentárias e conceder-se um sólido aumento de 16,7% (que
naturalmente não se chamará “aumento”, mas “reajuste”). A reivindicação
está para ser votada no Congresso.
O problema é que, com
o aumento – quer dizer, reajuste – os procuradores podem ganhar mais
que os ministros do Supremo, que por lei têm os vencimentos mais altos
dos servidores públicos. Outro problema: o aumento (desculpe, reajuste)
não está previsto na proposta de orçamento para 2018. E vem mais: a
subprocuradora-geral Maria Hilda diz que o aumento (a palavra escapou: é
REAJUSTE) já está defasado, porque cobre perdas de 2014 a 2015. Falta
reajustar dois anos.
Um empresário…
O empresário Domingo
Alzugaray, 84 anos, proprietário da Editora Três e da revista IstoÉ,
morreu nesta segunda-feira. Seu corpo foi cremado na terça. Alzugaray,
modelo fotográfico na Argentina, mudou-se para o Brasil na década de
1950, a convite da Editora Abril, para trabalhar nas então populares
revistas de fotonovelas. Cresceu dentro da Editora, da qual se tornou
diretor. Mais tarde, em companhia de um notável jornalista, Luís Carta, e
do empresário Fabrizio Fasano, montou a Editora Três.
…que faz falta
Montar uma editora de
revistas para concorrer com Abril e Rio Gráfica (hoje Globo) demonstra
ousadia; sobreviver à disputa, a competência. Este colunista se tornou
seu admirador incondicional por um episódio que nada tem a ver com
ousadia e competência, mas com caráter. Durante o regime militar, na
mesma operação que prendeu o jornalista Vladimir Herzog, que seria
assassinado, policiais foram à Editora Três para prender um de seus
funcionários, Fernando Morais – hoje escritor de sucesso. Domingo
Alzugaray e Luís Carta informaram aos policiais que o jornalista ainda
não tinha chegado, e os levaram à sala da diretoria, com cafezinho, água
gelada, uma bela recepção. A horas tantas, um dos dois saiu para ir ao
banheiro e foi à mesa de Fernando Morais: “Cai fora que a polícia está
atrás de você”.
Morais saiu,
escondeu-se e sobreviveu. Carta e Alzugaray se arriscaram para salvá-lo,
quando salvar alguém era perigoso. Devemos isso a eles.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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