domingo, 30 de julho de 2017

Ministro do Turismo usa verbas públicas para reforçar sua campanha ao Senado


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Beltrão pretende atropelar Renan na eleição de 2018
João Pedro Pitombo
Folha
O Estado de Alagoas foi o campeão em repasses voluntários do Ministério do Turismo em 2017. De um total de R$ 84,6 milhões distribuídos para governos e prefeituras entre janeiro e julho deste ano, R$ 11,3 milhões foram para cidades alagoanas. A pasta é comandada pelo deputado Marx Beltrão (PMDB-AL), aliado do senador Renan Calheiros (PMDB) e do governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB). Com um exército de prefeitos aliados, Beltrão já anunciou que será candidato ao Senado em 2018.
Municípios governados por parentes do ministro destacam-se entre os que mais receberam recursos. Juntas, as cidades alagoanas de Penedo, Coruripe, Feliz Deserto e Jequiá da Praia receberam R$ 3,7 milhões em verbas – o valor é maior do que o repassado para 18 Estados, incluindo polos turísticos como Rio e Pernambuco.
JUSTIFICATIVA – O Ministério do Turismo diz que o repasse para os municípios é resultado do cumprimento de emendas parlamentares. Alagoas tem nove deputados e três senadores.
Governada por um primo do ministro, Marcius Beltrão (PDT), a cidade de Penedo (AL) recebeu este ano R$ 1,4 milhão em convênios – mais do que a cidade de São Paulo, que obteve apenas R$ 973 mil para a reforma do Complexo Anhembi.
Os recursos foram destinados para reforma da orla da cidade, às margens do rio São Francisco, pavimentação de ruas e construção de um centro de convenções.
FELIZ DESERTO – Administrada por uma tia do ministro, Rosiana Beltrão (PMDB), a cidade de Feliz Deserto (AL) obteve R$ 1,1 milhão para a reforma de uma praça e pavimentação de ruas. A cidade possui pouco mais de 5.000 habitantes.
Coruripe (AL), administrada por um tio do ministro, Joaquim Beltrão (PMDB), recebeu R$ 830 mil para pavimentação de ruas. Já Jequiá da Praia (AL), cidade de 12 mil habitantes gerida pela irmã do ministro, Jeannyne Beltrão (PTB), recebeu R$ 390 mil.
As quatro cidades ficam no litoral sul de Alagoas, região onde a família do ministro elegeu cinco prefeitos nas eleições municipais do ano passado sob o comando do deputado estadual João Beltrão (PRTB), pai do ministro e principal líder político da região.
TUDO EM CASA – Dos convênios firmados com as quatro cidades governadas pela família Beltrão, pelo menos três são oriundos de emendas de aliados do ministro, caso da deputada Rosinha da Adefal (PTdoB), que ganhou a vaga na Câmara com a ida de Marx ao ministério. Já o convênio para o centro de convenções de Penedo é uma emenda antiga do ex-deputado e hoje governador Renan Filho (PMDB).
Ainda foram “ressuscitadas” emendas dos ex-deputados Olavo Calheiros (PMDB), irmão de Renan Calheiros, e de Joaquim Beltrão (PMDB), tio do ministro. Ambos deixaram a Câmara em 2011.
Além dos parentes, também foram contemplados com obras prefeitos que são aliados do ministro e de outros caciques do PMDB.
AJUDANDO EUNÍCIO – O Ceará, por exemplo, é o segundo Estado que mais recebeu repasses voluntários do Turismo, com R$ 9,6 milhões. As três cidades que mais receberam recursos são administradas por prefeitos aliados ao senador Eunício Oliveira (PMDB). Governada por grupos de oposição ao senador, a capital Fortaleza não recebeu nenhum recurso da pasta.
Também foram contempladas com recursos do ministério muitas cidades que estão fora do Mapa do Turismo Brasileiro –documento que elenca 2.175 municípios, sendo 28 em Alagoas, que têm prioridade em políticas públicas do setor.
A cidade de Santana do Ipanema (AL), por exemplo, governada por Isnaldo Bulhões (PMDB), obteve R$ 333 mil para a construção de um centro de convivência.
PRÁTICA ANTIGA – A concentração de repasses para redutos eleitorais não é novidade no Ministério do Turismo. Há um ano, a Folha revelou que o então ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) aprovou 59 convênios com cidades do Rio Grande do Norte, com repasses de R$ 28,8 milhões.
Hoje, Alves está preso preventivamente na penitenciária da Papuda no âmbito da operação Lava Jato por suspeita de receber propina de empreiteiras.
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