Temer insiste em prorrogar o prazo de validade de um governo que acabou, escreve Augusto Nunes:
Na
próxima semana, o Tribunal Superior Eleitoral enfim começará a encenar o
desfecho da ação movida pelo PSDB contra a chapa formada em 2014 por
Dilma Rousseff e Michel Temer ─ um faroeste à brasileira escrito,
produzido, dirigido e protagonizado exclusivamente por vilões. Não há
mocinhos nesse filme que começou logo depois da última eleição
presidencial, quando o senador Aécio Neves teve a ideia de pedir a
cassação da dobradinha vitoriosa.
Não por
sentir-se vítima de práticas ilegais, nem por acreditar que o resultado
fora fraudado: como revelou na conversa gravada por Joesley Batista, o
derrotado queria apenas encher o saco daquela gente que não parava de
sacaneá-lo. Palavras do autor da molecagem que deu no que deu. Neste
começo de junho, Aécio está com o mandato de senador suspenso, corre o
risco de ser alojado na gaiola e condenou-se à morte política.
Descansará num jazigo semelhante ao que abriga Dilma Rousseff, despejada
do Planalto pelo impeachment.
Os
adversários que duelaram há dois anos e meio logo terão a companhia de
Michel Temer. Antes das delações da Odebrecht e da JBS, o ainda
presidente argumentava que não fazia sentido ser castigado pelo que
fizera a parceira de chapa. Depois dos espantos deste outono
inverossímil, está claro que o prontuário do vice só não superou em
quantidade e qualidade a notável folha corrida de Dilma e a imbatível
capivara de Lula. Este sim fez o diabo para desfrutar do poder durante
13 anos, cinco dos quais fazendo de conta que o país era governado pelo
poste que fabricou.
Temer
teima em prorrogar o prazo de validade de um governo que acabou. Todos
os brasileiros sabem que trava uma batalha perdida ─ com exceção dos
bebês de colo, das tribos isoladas na selva amazônica, dos doidos de
hospício, da família Temer e, claro, do ministro Gilmar Mendes. O Brasil
nunca foi para amadores. Começa a tornar-se indecifrável para
profissionais.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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