sábado, 1 de abril de 2017

Preço da carne despenca em Salvador


Valor do produto reduziu 20% em alguns estabelecimentos e clientela também baixou

por
Adilson Fonsêca
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
Os efeitos da Operação Carne Fraca, desencadeada há mais de uma semana pela Polícia Federal no Sul do Brasil, se por um lado teve como efeito o embargo internacional e queda na venda de carne dos grandes frigoríficos no País, espalhando-se por vários estados, por outro lado pode beneficiar o consumidor, com a queda nos preços nos açougues e supermercados, que já chega a 20% em alguns locais.
Com uma clientela desconfiada por causa das denuncias de adulteração do produto, alguns açougues em Salvador resolveram se antecipar e além da redução no preço da carne, fazem campanhas de esclarecimentos junto a clientela. “Nossa carne tem procedência e é fiscalizada”, diz o proprietário da Casa de Carne Diniz, Luiz Diniz, que há 18 anos funciona Rua Lima e Silva, no bairro da Liberdade.
Cansado de ouvir piadas e até mesmo atitudes ofensivas por parte de alguns clientes e moradores do bairro, o empresário, que também é pecuarista, Dorgival Pimentel, 58 anos, vai mais além e a partir desta semana colocará em todos os cinco estabelecimentos que mantém em Salvador, faixas e cartazes anunciando a procedência da carne e o controle de qualidade pela qual é submetida pelos órgãos de defesa sanitária do Estado.
De olho no noticiário e também na clientela, as promoções são feitas diretamente na redução do preço da carne, mas também nos derivados, como o sarapatel, feito com as vísceras do boi e que é um dos pratos tradicionais da culinária baiana, e até mesmo na comercialização da carne já tratada e temperada, como é feito na Casa de Carne Diniz, na Liberdade. O diferencial na comercialização, aliada à fidelidade da clientela mais antiga, são fatores que, segundo eles próprios, vem superando a desconfiança dos consumidores ante os últimos noticiários. “A queda nas vendas é um reflexo disso, mas que deverá passar nos próximos dias”, diz o próprio Diniz.
Fim de semana
O mês de março é, tradicionalmente, para o comércio varejista de carne bovina em Salvador um período considerado de vendas fracas, por causa, principalmente,  da proximidade da Semana Santana, onde a tradição religiosa na Bahia  recomenda o peixe e frutos do mar. Mesmo assim, a queda nas vendas, que já vinha ocorrendo por causa da crise econômica, em torno de 15%, alcançou até 40% nos últimos dias.
No bairro do Pernambués, a operadora de caixa da rede de açougues Carnes & Cia, Paula Ferreira, explicou que perdeu, nos últimos cinco dias, aproximadamente 10% da sua clientela. “As pessoas já tinham diminuído a quantidade. Agora entram, verificam se a carne é de determinado frigorífico e depois vão embora”, diz. Para tentar reverter a crise, o local resolveu apostar na promoção de preços em derivados, como sarapatel, costelas, mocotó e buchos (fato, bofe), com descontos de 10% à vista.
Na rede Brasil Supremo, com cinco lojas em Salvador, o proprietário Dorgival Pimentel aposta na conscientização da clientela. Com informações sobre a procedência dos produtos e o alerta de que a carne vem de abatedouros baianos. “Nossa carne  é genuinamente baiana”, diz os cartazes e faixas que a partir de hoje estarão na porta de cada um dos estabelecimentos.
Já na Liberdade, o empresário Luiz Diniz, da Casa de Carne Diniz, aposta na fidelidade dos clientes. “A grande maioria aqui é de gente do bairro e que me conhece há 18 anos. Além do que, quem quiser pode adquirir o produto já temperado”, diz.
Diferentes das grandes redes de supermercados que apostam na redução dos preços, como constam nos folhetos promocionais que ficam na entrada das lojas. Em uma das  redes de lojas, por exemplo, a carne de 1ª está sendo ofertada a R$ 17,75 o quilo, com uma redução de até R$ 5, enquanto em outra, a carne de terceira (Chupa molho e peito com osso) baixou de R$ 11 para 9,79, e a de segunda, de R$ 13 para R$ 11,25.
Cotação do boi gordo tem queda
Os principais sites que acompanham diariamente a cotação do boi mercado nos principais mercados pecuaristas no País atestam também uma queda no preço da arroba do boi. Em relação ao dia anterior, quando chegou a  até 143, o preço da arroba (14,7 quilos)  caiu ontem para até R$ 132 em mercados como o de Belo Horizonte (MG) e R$ 139,50, em Barretos, no Estado de São Paulo.
Na Bahia, oitavo estado maior criador de bovinos no País, onde a arroba do boi foi cotada a R$ 136,00 nos municípios do Sul do Estado, e até R$ 141na Região Oeste, o Governo do Estado também procura tranqüilizar o mercado e, por tabela, o consumidor, garantindo a qualidade da carne bovina. A ADAB – Agência de Defesa Agropecuária da Bahia divulgou nota oficial em que garante que não há quaisquer riscos de contaminação do produto que é vendido no Estado.
Nas análises de mercado, divulgadas nos principais sites especializados em pecuária bovina, o consenso é que mesmo com a retomada gradual das vendas para os países que suspenderam a comporá da carne bovina brasileira, há ainda há muita cautela nas compras, pouca “vontade” para ampliar as escalas de abate.
Na Bahia, mesmo não tendo sido apontadas quaisquer irregularidades em estabelecimentos voltados à comercialização de produtos de origem animal, a ADAB reafirma a qualidade da carne comercializada no Estado, garantindo aos consumidores baianos a total confiança nos produtos colocados à sua disposição para consumo. Segundo o órgão,o Serviço de Inspeção Estadual (SIE) é referência nacional e atende integralmente aos padrões de exigência mais rigorosos para a oferta de alimentos seguros.

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