Por Redação Bocão News | Fotos: Folhapress
Na véspera do início do julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
que pode cassar a chapa eleita em 2014 e torná-la inelegível, a
ex-presidente Dilma Rousseff diz, em entrevista à Folha, que Marcelo
Odebrecht "sofreu muitos tipos de pressão" para aceitar virar delator e
que seus depoimentos são "uma coisa absolutamente ridícula".
"Eu fico estarrecida, primeiro, com o cerceamento de defesa do qual
estou sendo vítima. [Marcelo Odebrecht] está fazendo delação de acordo
com seus interesses. Portanto, tudo o que ele diz pode servir de indício
para investigar, mas não para condenar. O STF [Supremo Tribunal
Federal, que homologou a delação do empreiteiro] nem abriu investigação
[criminal] ainda. É estarrecedor que um procurador use como prova o que
não é prova.
Em segundo lugar, ele faz uma soma de laranja com banana. O senhor
Marcelo Odebrecht diz que R$ 50 milhões [dos R$ 112 milhões] foram
doados em 2009 e faz uma relação disso com o Refis [ele diz que prometeu
os recursos ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois que a
Odebrecht foi beneficiada por uma medida provisória. O valor teria se
transformado em crédito que só foi usado na campanha de 2014]. Ora, em
2009 eu tive um câncer e sequer era candidata a Presidência.
Além disso, terminamos a eleição de 2010 com uma dívida de R$ 10
milhões. E não usamos nada desses R$ 50 milhões para cobrir esse débito?
Esses R$ 50 milhões são uma ficção, uma coisa absolutamente ridícula",
afirma a presidente.
E continua: "eu tenho a impressão de que o senhor Marcelo Odebrecht
sofreu muitos tipos de pressão. Muitos tipos de pressão. Por isso, não
venham com delaçãozinha de uma pessoa que foi submetida a uma variante
de tortura, minha filha. Ou melhor, de coação. Ele nunca teve essa
proximidade comigo [para tratar de verba de campanha]. Da minha parte
sempre houve uma imensa desconfiança dele", diz.
Durante entrevista, Dilma ainda acrescenta que o baiano Marcelo
Odebrecht exagera bastante a realidade. "Ele fala "ah, ela sabia". Eu
sabia do nível de investimentos deles no Brasil. Nós tivemos sete
audiências [durante o governo de Dilma] em que ele fez apresentações
exaustivas sobre isso. Nesses encontros, ele jamais tocou em outro
assunto, e nem disse que tocou. As doações oficiais dele foram de R$ 29
milhões, ou 8% do total que arrecadamos. Então, minha querida, que
grande doador é esse que eu teria de saber o que ele estava fazendo?”.
Ela também critica a tese de que seria possível separar as contas da
chapa. "Mais uma vez vão cometer uma injustiça e com base em um
depoimento [de Odebrecht] absolutamente sofrível. E como o Temer não tem
nada a ver com isso? Na campanha, ele arrecadou R$ 20 milhões de um
total de R$ 350 milhões. Nós pagamos integralmente todas as despesas
dele. Jatinhos, salários de assessores, advogados, hotéis, material
gráfico, inserções na TV. Separar essa conta só tem uma explicação: dar
tempo para ele entregar o resto do serviço que ficou de entregar:
reforma da Previdência e desregulamentação econômica brutal", afirma,
sobre o agora presidente Michel Temer.
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